Gabrielle Vidal
Meu nome é Gabrielle. Branca, olhos verdes, rica, bonita. E completamente apaixonada pelo meu melhor amigo desde sempre. Lorenzo. Desde a infância, ele foi meu porto seguro. O menino gentil que enxugava minhas lágrimas quando caía no parquinho, que dividia o lanche comigo, mesmo quando era seu favorito. Crescemos juntos, lado a lado, como se o universo já soubesse que nossos destinos estavam entrelaçados. Mas, aos dezessete anos, algo dentro de mim mudou. Uma espécie de clique. Uma descoberta inesperada. O carinho que eu sentia por Lorenzo se transformou em algo mais... algo mais quente, mais urgente, mais intenso. Eu não conseguia mais olhar para ele e vê-lo como um irmão. Ele era o homem dos meus sonhos. E o pior? Ele parecia alheio a tudo isso. Lorenzo sempre foi discreto, reservado. Nunca o vi com uma namorada, nunca o ouvi comentar sobre paixões. Todos os nossos colegas falavam de suas experiências amorosas, de seus desejos, das primeiras vezes. Eu mesma, querendo apagar Lorenzo do meu peito, entreguei meu corpo ao primeiro cara que apareceu. Foi péssimo. Mecânico. Vazio. Porque meu coração ainda era dele. Sempre foi. Sempre será. O problema é que ele nunca me enxergou de verdade. Não como mulher. Eu tentava disfarçar. Ria com ele, fazia piadas, fingia que não morria um pouco cada vez que ele me chamava de "amiga". Mas por dentro... por dentro eu gritava. Quando fiz vinte anos e ele completou vinte e um, nossa amizade permanecia firme. Eu frequentava a casa dele com frequência. O pai dele, o senhor Natanael, sempre me recebia com carinho e deixava escapar comentários que aqueciam meu peito de esperança. — Gabrielle seria uma ótima esposa para você, meu filho. Ela é educada, bonita, leal... e está sempre por aqui. Pense nisso. Lorenzo, como sempre, revirava os olhos e respondia com aquela calma irritante: — Pai, somos só amigos. Essas palavras doíam mais do que t***s. Mas eu sorria. Sempre sorria. Porque não era o momento de mostrar fraqueza. Eu precisava continuar sendo presente, constante. A única. E era isso que eu era. A única mulher que ele deixava entrar na sua vida com tanta liberdade. Ou pelo menos eu pensava que era. Tudo começou a mudar naquela tarde abafada na faculdade. O campus estava vazio, abafado, e Lorenzo estava sentado num banco, massageando as têmporas com os olhos fechados. Aproximei-me devagar, como quem não quer nada. — Oi, Lorenzo. Tudo bem? — perguntei com meu sorriso mais doce. Ele levantou os olhos lentamente e assentiu. — Estou com dor de cabeça. Estudei demais pra prova de amanhã. Sentei ao lado dele, cruzando as pernas lentamente. — Você tem aula agora? — Em vinte minutos. Só estou descansando. Ficamos em silêncio por alguns segundos. Eu o observava. Seu rosto estava levemente suado, os lábios entreabertos, o maxilar tenso. Era lindo. Inacreditavelmente lindo. — Posso te perguntar uma coisa? — falei, quebrando o silêncio. — Claro — ele respondeu, abrindo os olhos. — Você... já transou com alguém? Ele pareceu pego de surpresa. A tensão em seu rosto aumentou. Ficou em silêncio por alguns segundos, como se estivesse decidindo se devia responder. — Já senti vontade... sim. Mas só com a minha namorada. Meu coração parou. Namorada? Eu travei. Não consegui nem fingir que estava tudo bem. Ele não notou. Ou fingiu não notar. — Preciso ir — disse, levantando-se. — A aula vai começar. E saiu. Simples assim. Fiquei ali, estática, tentando entender o que tinha acabado de acontecer. Namorada? Desde quando? Por que ele nunca comentou nada? Por que nunca me apresentou essa... mulher? Voltei para casa em silêncio, com o estômago revirando. Me tranquei no quarto, ignorei as mensagens das amigas e fiquei encarando o teto. Meus pensamentos eram caóticos. Talvez fosse só alguém com quem ele está começando. Talvez não seja nada sério. Talvez ele esteja mentindo. Fingindo. Me testando. Sim. Lorenzo sempre foi esquisito. Talvez ele tenha dito aquilo só para me afastar. Para me fazer parar de insistir. Mas... e se for verdade? E se ele tiver mesmo uma namorada? O simples pensamento me fez apertar os punhos com tanta força que minhas unhas marcaram a palma da mão. Não. Não podia ser verdade. Ele nunca comentou nada. Nunca me afastou. Nunca mudou comigo. Nunca deixou de responder minhas mensagens, de me convidar para ir na casa dele. Ele jamais teria uma namorada e esconderia de mim. A não ser que... A não ser que ela seja recente. Que esteja no começo. Que ele não queira me contar porque sabe o quanto sou próxima. Ou pior. Porque sabe que eu não aceitaria. Fiquei dias remoendo aquilo. Comecei a observar mais, mas ele continuava o mesmo. Sempre simpático, gentil, mas distante... como sempre. Nada mudou. Nenhum sinal. Nenhum nome. Nenhuma pista. Tentei puxar conversa algumas vezes, discretamente. Mas ele não deu brecha. Isso me deixava louca. A incerteza era um veneno lento, queimando tudo dentro de mim. Na semana seguinte, voltei à casa dele como de costume. O pai dele me recebeu com um sorriso caloroso e me ofereceu café. Conversamos por alguns minutos até Lorenzo descer as escadas, surpreso com a minha presença. — Gabrielle… não sabia que viria hoje. — Achei que podíamos estudar juntos pra prova de Direito Empresarial — inventei, sorrindo com naturalidade. — Lembra que combinamos? Ele pareceu desconfiado, mas assentiu. Ficamos horas na sala, livros abertos, cadernos espalhados. Mas minha mente estava longe. Eu observava cada gesto dele. Cada olhar. Cada mensagem que ele recebia e respondia sem me mostrar. Será que era ela? Eu precisava saber quem era. Mas como? Não podia perguntar. Isso mostraria meu ciúme. Mostraria meu medo. E Gabrielle não teme. Gabrielle vence. Esperei ele ir ao banheiro e aproveitei para pegar o celular dele. Mas estava bloqueado. Maldição. Ele voltou antes que eu pudesse tentar qualquer coisa. Tive que disfarçar. — Você anda meio distante ultimamente — comentei, casualmente. — Provas chegando, sabe como é… — respondeu, desviando o olhar. — E tem alguém te atrapalhando nos estudos? — Como assim? — Nada. Esquece. Ele não respondeu. E eu não insisti. Não podia. Ainda não. Mas o que eu sabia era o suficiente: havia alguém. Uma mulher. E ele não queria me contar. Aquela noite, em casa, sentei na frente do espelho e me encarei. Meu rosto estava perfeito, como sempre. Pele impecável, olhos verdes intensos, cabelos sedosos. Eu era linda. Inteligente. Fiel. Presente. O que essa mulher poderia ter que eu não tenho? Talvez... ele não quisesse perfeição. Talvez ele quisesse o oposto. Ou talvez… ele apenas ainda não tivesse percebido que sou a mulher da vida dele. Mas ele vai perceber. Eu vou fazer isso acontecer. Mesmo que eu tenha que usar todas as armas que tenho. Mesmo que eu tenha que esperar. Mesmo que eu tenha que eliminar essa pessoa misteriosa da vida dele. Lorenzo é meu. Ele só não sabe disso ainda. E quando souber… não haverá mais espaço para ninguém entre nós.Gabrielle Vidal Passei dias obcecada com uma única missão: descobrir quem era a namorada secreta de Lorenzo. Ele não me dava pistas. Não publicava fotos. Não levava ninguém nas festas. Não comentava nomes. Era como se a mulher não existisse. Mas eu sabia que existia. A ligação apaixonada que ouvi naquela noite não saía da minha mente. "Eu te amo tanto, mas logo nos veremos, tá bom, minha linda?" — as palavras ecoavam na minha cabeça, cada vez mais afiadas. Eu precisava arrancá-la da vida dele. A dúvida me corroía. Era uma mulher? Era um homem? Era uma ilusão? Até que uma tarde comum se transformou em um pesadelo. Ou melhor, um presente. Tudo depende do ponto de vista. Estava indo ao shopping, quando vi Lorenzo atravessando a rua com alguém. Uma garota. Ela devia ter no máximo dezessete anos. Estava usando o uniforme carregava uma mochila nas costas. Os dois estavam de mãos dadas, sorrindo. Um sorriso leve, verdadeiro, apaixonado. Mas o que realmente me fez parar foi a ima
Gabrielle Vidal No outro dia, quando cheguei na faculdade, Lorenzo estava sentado no banco perto da entrada, sorridente. Ele parecia leve, como se o mundo estivesse finalmente nos trilhos para ele. Aquilo me irritava. Como ele conseguia sorrir daquele jeito? Como podia parecer tão pleno, depois de tudo que vivemos? Como ousava me ignorar? — Olha, você hoje está muito feliz, hein? — disse ele, me olhando com aquela expressão tranquila que me dava nos nervos. Fingi um sorriso largo, daqueles que escondem veneno. — Sim! Me esqueci de te falar... estou namorando! Tem um mês que conheci ele. É muito lindo. Ainda está no colégio, acredita? Tem dezenove anos, mas parece ter bem mais. O pai dele é um grande empresário, é bem rico. Mas eu nem ligo pra isso, já que sou muito rica também. Menti. Com frieza, com classe. Meu sorriso era calculado, como um golpe bem ensaiado. Eu queria ver a reação dele, algum sinal de ciúmes, desconforto, qualquer coisa. Mas ele apenas sorriu. — Que bom, Gabi
Lorenzo Ferraz Poxa, que tipo de amigo eu sou? Estava julgando a Gabrielle, quando na verdade ela estava destruída por dentro. Sofrendo em silêncio. E eu, cego pela confusão, sequer percebi. Como eu ia saber? Como eu poderia imaginar que alguém poderia ser tão cruel com uma pessoa como ela? Gabrielle é forte, mas ninguém é de ferro. E ao vê-la chegar abatida, com os olhos inchados e a alma visivelmente quebrada, meu coração se apertou de um jeito que há muito tempo não acontecia. Fui até ela, sentindo a culpa me esmagar por dentro. — Poxa, Gabrielle... — comecei, com a voz embargada. — Você deveria ter me contado o que estava acontecendo. Somos amigos, não somos? Caramba, fiquei sabendo pelo meu pai... Ela apenas me olhou com um misto de tristeza e exaustão, mas não falou nada. Eu continuei: — Você me falou dele há pouco tempo... Fábio, né? Eu não o conheço, mas se você me der uma foto dele, eu juro que vou até onde ele estiver e dou uma surra nesse desgraçado. Ninguém faz isso
Lorenzo Ferraz — Oi, posso te fazer uma pergunta? — perguntei, com a voz controlada, tentando manter a calma. — Já que você anda pelas bandas de onde a Celina morava… por acaso a viu por esses dias? O cara hesitou. Eu sabia que ele era um dos que sempre dava aquela olhada maldita quando minha Celina passava. Aquilo sempre me incomodou. Mas agora... agora era diferente. Eu precisava de respostas. — Ah, então… vocês terminaram, né? — Ele se inclinou para mais perto, como se estivesse prestes a contar um segredo cabeludo. — Vi ela com um carinha aqui do colégio. Tavam se pegando feio dentro do carro. Sério, parecia que iam transar ali mesmo. O cara é mais velho, repetente. Vive de farra, mulher e gastando grana. Escutei que os dois tão apaixonadões, e que vão se casar fora e voltar como se nada tivesse acontecido. Pais ricos, sabe como é... não querem os filhos misturando com a “ralé”. E sua mina? Foi ligeira. Achou um trouxa com mais grana que você. O cara pegou ela, deu uns pegas, e
Lorenzo Ferraz Três Anos Depois Três anos se passaram desde o dia em que minha vida virou um inferno. Nesse tempo, mergulhei de cabeça nos estudos e no trabalho. Fiz cursos, treinamentos, formações executivas, tudo o que fosse necessário para me transformar no homem que sou hoje. Quando finalizei minha especialização com louvor, meu pai não hesitou: passou a presidência das Lojas Ferraz para mim e se aposentou. Herdei o império que ele construiu, mas também herdei um coração destroçado e uma alma consumida pela raiva. Não foi fácil assumir o comando com a cabeça atormentada por lembranças e fantasmas. Ainda assim, cumpri cada meta, bati cada recorde, multipliquei os lucros — enquanto dentro de mim, só restava vazio. Trabalhar se tornou meu refúgio. Porque quando estou ocupado, não penso. E quando não penso, não sofro. É simples. Heitor, meu braço direito e único amigo de verdade, já me perguntou várias vezes se quero morrer de tanto me dedicar. Ele não entende que, às vezes, essa
Celina Alves Seis anos atrás... Meu namorado só pode estar tentando me matar de vergonha! Ele vive me chamando de “anjo” na frente das minhas amigas — e é claro que elas se aproveitam disso pra me zoar até cansar. Às vezes me sinto a adolescente mais boba do mundo, mas quando é ele que fala, eu simplesmente me derreto toda por dentro. A verdade é que eu amo o Lorenzo. Com todas as minhas forças. Quando ele aparece, meu mundo muda de cor, meu coração começa a bater como se tivesse bateria de escola de samba, minhas mãos suam e minhas pernas fraquejam. Parece exagero, mas não é. Nunca senti isso por ninguém antes, e tenho certeza de que nunca sentirei de novo. Ele é lindo. Lindo de um jeito que até irrita. Alto, pele negra como noite sem lua, olhos escuros que enxergam minha alma, e um corpo definido que parece ter saído de uma revista. Quando estamos juntos, me sinto segura e especial. Quando estamos separados, conto os segundos para vê-lo de novo. Só que ele... ele é de outro mund
Celina Alves Meu amor sempre me tratou como uma princesa. Quando estou com ele, é como se o mundo inteiro desaparecesse. Só existe o toque dele, o cheiro dele, a forma como ele me olha e me faz sentir como a única mulher do universo. Lorenzo me levou para um dia incrível. A vista era de tirar o fôlego, o mar brilhava com a luz do sol, e o biquíni vermelho que ele tinha me dado parecia feito sob medida para mim. Senti meu corpo esquentar só de ver o jeito que ele me olhava. O desejo nos consumia a cada olhar, a cada beijo trocado entre risadas e carinhos. Quando o céu escureceu, a tensão entre nós só aumentou. A brisa da noite acariciava minha pele, mas era o calor dele que incendiava meu corpo. — Você está linda… toda vermelhinha — ele murmurou, os olhos brilhando de desejo. — Mas não quero fazer nada que você não queira. Não precisa se sentir envergonhada. Eu te amo, Celina. A doçura da voz dele me cortava por dentro. Como ele podia ser tão perfeito? O corpo dele era quente, duro
Celina Alves Eu tinha dezessete anos e, até aquele momento, acreditava estar vivendo a fase mais feliz da minha vida. Mesmo com as exigências da minha tia, que nunca demonstrou muito carinho por mim, meu mundo parecia perfeito. Lorenzo era meu namorado, meu melhor amigo, meu porto seguro. Ele me chamava de “meu anjo” e dizia que eu era a melhor coisa que já tinha acontecido na vida dele. Nosso amor era intenso, inocente e verdadeiro — pelo menos para mim. Cada vez que ele me olhava, meu coração acelerava. Cada beijo, cada palavra doce, cada abraço apertado... Tudo me fazia acreditar que havíamos sido feitos um para o outro. Não importava que ele fosse de uma família rica e eu morasse de favor com uma tia amarga. O amor entre nós parecia superar qualquer diferença. Até aquela sexta-feira. Era por volta das dezoito horas quando recebi um bilhete em nome do Lorenzo, pedindo que eu o encontrasse em um apartamento de alto padrão, em um bairro onde só morava gente rica. Achei estranho e