Capítulo 5

Gabrielle Vidal 

Meu nome é Gabrielle. Branca, olhos verdes, rica, bonita. E completamente apaixonada pelo meu melhor amigo desde sempre.

Lorenzo.

Desde a infância, ele foi meu porto seguro. O menino gentil que enxugava minhas lágrimas quando caía no parquinho, que dividia o lanche comigo, mesmo quando era seu favorito. Crescemos juntos, lado a lado, como se o universo já soubesse que nossos destinos estavam entrelaçados.

Mas, aos dezessete anos, algo dentro de mim mudou. Uma espécie de clique. Uma descoberta inesperada. O carinho que eu sentia por Lorenzo se transformou em algo mais... algo mais quente, mais urgente, mais intenso. Eu não conseguia mais olhar para ele e vê-lo como um irmão.

Ele era o homem dos meus sonhos.

E o pior? Ele parecia alheio a tudo isso.

Lorenzo sempre foi discreto, reservado. Nunca o vi com uma namorada, nunca o ouvi comentar sobre paixões. Todos os nossos colegas falavam de suas experiências amorosas, de seus desejos, das primeiras vezes. Eu mesma, querendo apagar Lorenzo do meu peito, entreguei meu corpo ao primeiro cara que apareceu. Foi péssimo. Mecânico. Vazio.

Porque meu coração ainda era dele. Sempre foi. Sempre será.

O problema é que ele nunca me enxergou de verdade. Não como mulher.

Eu tentava disfarçar. Ria com ele, fazia piadas, fingia que não morria um pouco cada vez que ele me chamava de "amiga". Mas por dentro... por dentro eu gritava.

Quando fiz vinte anos e ele completou vinte e um, nossa amizade permanecia firme. Eu frequentava a casa dele com frequência. O pai dele, o senhor Natanael, sempre me recebia com carinho e deixava escapar comentários que aqueciam meu peito de esperança.

— Gabrielle seria uma ótima esposa para você, meu filho. Ela é educada, bonita, leal... e está sempre por aqui. Pense nisso.

Lorenzo, como sempre, revirava os olhos e respondia com aquela calma irritante:

— Pai, somos só amigos.

Essas palavras doíam mais do que t***s. Mas eu sorria. Sempre sorria. Porque não era o momento de mostrar fraqueza. Eu precisava continuar sendo presente, constante. A única.

E era isso que eu era. A única mulher que ele deixava entrar na sua vida com tanta liberdade.

Ou pelo menos eu pensava que era.

Tudo começou a mudar naquela tarde abafada na faculdade. O campus estava vazio, abafado, e Lorenzo estava sentado num banco, massageando as têmporas com os olhos fechados.

Aproximei-me devagar, como quem não quer nada.

— Oi, Lorenzo. Tudo bem? — perguntei com meu sorriso mais doce.

Ele levantou os olhos lentamente e assentiu.

— Estou com dor de cabeça. Estudei demais pra prova de amanhã.

Sentei ao lado dele, cruzando as pernas lentamente.

— Você tem aula agora?

— Em vinte minutos. Só estou descansando.

Ficamos em silêncio por alguns segundos. Eu o observava. Seu rosto estava levemente suado, os lábios entreabertos, o maxilar tenso. Era lindo. Inacreditavelmente lindo.

— Posso te perguntar uma coisa? — falei, quebrando o silêncio.

— Claro — ele respondeu, abrindo os olhos.

— Você... já transou com alguém?

Ele pareceu pego de surpresa. A tensão em seu rosto aumentou. Ficou em silêncio por alguns segundos, como se estivesse decidindo se devia responder.

— Já senti vontade... sim. Mas só com a minha namorada.

Meu coração parou.

Namorada?

Eu travei.

Não consegui nem fingir que estava tudo bem. Ele não notou. Ou fingiu não notar.

— Preciso ir — disse, levantando-se. — A aula vai começar.

E saiu.

Simples assim.

Fiquei ali, estática, tentando entender o que tinha acabado de acontecer.

Namorada?

Desde quando?

Por que ele nunca comentou nada? Por que nunca me apresentou essa... mulher?

Voltei para casa em silêncio, com o estômago revirando. Me tranquei no quarto, ignorei as mensagens das amigas e fiquei encarando o teto.

Meus pensamentos eram caóticos.

Talvez fosse só alguém com quem ele está começando. Talvez não seja nada sério. Talvez ele esteja mentindo. Fingindo. Me testando.

Sim. Lorenzo sempre foi esquisito. Talvez ele tenha dito aquilo só para me afastar. Para me fazer parar de insistir.

Mas... e se for verdade?

E se ele tiver mesmo uma namorada?

O simples pensamento me fez apertar os punhos com tanta força que minhas unhas marcaram a palma da mão.

Não. Não podia ser verdade. Ele nunca comentou nada. Nunca me afastou. Nunca mudou comigo. Nunca deixou de responder minhas mensagens, de me convidar para ir na casa dele. Ele jamais teria uma namorada e esconderia de mim.

A não ser que...

A não ser que ela seja recente. Que esteja no começo. Que ele não queira me contar porque sabe o quanto sou próxima.

Ou pior.

Porque sabe que eu não aceitaria.

Fiquei dias remoendo aquilo. Comecei a observar mais, mas ele continuava o mesmo. Sempre simpático, gentil, mas distante... como sempre. Nada mudou. Nenhum sinal. Nenhum nome. Nenhuma pista.

Tentei puxar conversa algumas vezes, discretamente. Mas ele não deu brecha.

Isso me deixava louca.

A incerteza era um veneno lento, queimando tudo dentro de mim.

Na semana seguinte, voltei à casa dele como de costume. O pai dele me recebeu com um sorriso caloroso e me ofereceu café. Conversamos por alguns minutos até Lorenzo descer as escadas, surpreso com a minha presença.

— Gabrielle… não sabia que viria hoje.

— Achei que podíamos estudar juntos pra prova de Direito Empresarial — inventei, sorrindo com naturalidade. — Lembra que combinamos?

Ele pareceu desconfiado, mas assentiu.

Ficamos horas na sala, livros abertos, cadernos espalhados. Mas minha mente estava longe. Eu observava cada gesto dele. Cada olhar. Cada mensagem que ele recebia e respondia sem me mostrar.

Será que era ela?

Eu precisava saber quem era.

Mas como?

Não podia perguntar. Isso mostraria meu ciúme. Mostraria meu medo.

E Gabrielle não teme.

Gabrielle vence.

Esperei ele ir ao banheiro e aproveitei para pegar o celular dele. Mas estava bloqueado. Maldição.

Ele voltou antes que eu pudesse tentar qualquer coisa. Tive que disfarçar.

— Você anda meio distante ultimamente — comentei, casualmente.

— Provas chegando, sabe como é… — respondeu, desviando o olhar.

— E tem alguém te atrapalhando nos estudos?

— Como assim?

— Nada. Esquece.

Ele não respondeu. E eu não insisti. Não podia.

Ainda não.

Mas o que eu sabia era o suficiente: havia alguém. Uma mulher. E ele não queria me contar.

Aquela noite, em casa, sentei na frente do espelho e me encarei. Meu rosto estava perfeito, como sempre. Pele impecável, olhos verdes intensos, cabelos sedosos. Eu era linda. Inteligente. Fiel. Presente.

O que essa mulher poderia ter que eu não tenho?

Talvez... ele não quisesse perfeição.

Talvez ele quisesse o oposto.

Ou talvez… ele apenas ainda não tivesse percebido que sou a mulher da vida dele.

Mas ele vai perceber.

Eu vou fazer isso acontecer.

Mesmo que eu tenha que usar todas as armas que tenho.

Mesmo que eu tenha que esperar.

Mesmo que eu tenha que eliminar essa pessoa misteriosa da vida dele.

Lorenzo é meu.

Ele só não sabe disso ainda.

E quando souber… não haverá mais espaço para ninguém entre nós.

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