Gabrielle Vidal No outro dia, quando cheguei na faculdade, Lorenzo estava sentado no banco perto da entrada, sorridente. Ele parecia leve, como se o mundo estivesse finalmente nos trilhos para ele. Aquilo me irritava. Como ele conseguia sorrir daquele jeito? Como podia parecer tão pleno, depois de tudo que vivemos? Como ousava me ignorar? — Olha, você hoje está muito feliz, hein? — disse ele, me olhando com aquela expressão tranquila que me dava nos nervos. Fingi um sorriso largo, daqueles que escondem veneno. — Sim! Me esqueci de te falar... estou namorando! Tem um mês que conheci ele. É muito lindo. Ainda está no colégio, acredita? Tem dezenove anos, mas parece ter bem mais. O pai dele é um grande empresário, é bem rico. Mas eu nem ligo pra isso, já que sou muito rica também. Menti. Com frieza, com classe. Meu sorriso era calculado, como um golpe bem ensaiado. Eu queria ver a reação dele, algum sinal de ciúmes, desconforto, qualquer coisa. Mas ele apenas sorriu. — Que bom, Gabi
Lorenzo Ferraz Poxa, que tipo de amigo eu sou? Estava julgando a Gabrielle, quando na verdade ela estava destruída por dentro. Sofrendo em silêncio. E eu, cego pela confusão, sequer percebi. Como eu ia saber? Como eu poderia imaginar que alguém poderia ser tão cruel com uma pessoa como ela? Gabrielle é forte, mas ninguém é de ferro. E ao vê-la chegar abatida, com os olhos inchados e a alma visivelmente quebrada, meu coração se apertou de um jeito que há muito tempo não acontecia. Fui até ela, sentindo a culpa me esmagar por dentro. — Poxa, Gabrielle... — comecei, com a voz embargada. — Você deveria ter me contado o que estava acontecendo. Somos amigos, não somos? Caramba, fiquei sabendo pelo meu pai... Ela apenas me olhou com um misto de tristeza e exaustão, mas não falou nada. Eu continuei: — Você me falou dele há pouco tempo... Fábio, né? Eu não o conheço, mas se você me der uma foto dele, eu juro que vou até onde ele estiver e dou uma surra nesse desgraçado. Ninguém faz isso
Lorenzo Ferraz — Oi, posso te fazer uma pergunta? — perguntei, com a voz controlada, tentando manter a calma. — Já que você anda pelas bandas de onde a Celina morava… por acaso a viu por esses dias? O cara hesitou. Eu sabia que ele era um dos que sempre dava aquela olhada maldita quando minha Celina passava. Aquilo sempre me incomodou. Mas agora... agora era diferente. Eu precisava de respostas. — Ah, então… vocês terminaram, né? — Ele se inclinou para mais perto, como se estivesse prestes a contar um segredo cabeludo. — Vi ela com um carinha aqui do colégio. Tavam se pegando feio dentro do carro. Sério, parecia que iam transar ali mesmo. O cara é mais velho, repetente. Vive de farra, mulher e gastando grana. Escutei que os dois tão apaixonadões, e que vão se casar fora e voltar como se nada tivesse acontecido. Pais ricos, sabe como é... não querem os filhos misturando com a “ralé”. E sua mina? Foi ligeira. Achou um trouxa com mais grana que você. O cara pegou ela, deu uns pegas, e
Lorenzo Ferraz Três Anos Depois Três anos se passaram desde o dia em que minha vida virou um inferno. Nesse tempo, mergulhei de cabeça nos estudos e no trabalho. Fiz cursos, treinamentos, formações executivas, tudo o que fosse necessário para me transformar no homem que sou hoje. Quando finalizei minha especialização com louvor, meu pai não hesitou: passou a presidência das Lojas Ferraz para mim e se aposentou. Herdei o império que ele construiu, mas também herdei um coração destroçado e uma alma consumida pela raiva. Não foi fácil assumir o comando com a cabeça atormentada por lembranças e fantasmas. Ainda assim, cumpri cada meta, bati cada recorde, multipliquei os lucros — enquanto dentro de mim, só restava vazio. Trabalhar se tornou meu refúgio. Porque quando estou ocupado, não penso. E quando não penso, não sofro. É simples. Heitor, meu braço direito e único amigo de verdade, já me perguntou várias vezes se quero morrer de tanto me dedicar. Ele não entende que, às vezes, essa
Celina Alves Seis anos atrás... Meu namorado só pode estar tentando me matar de vergonha! Ele vive me chamando de “anjo” na frente das minhas amigas — e é claro que elas se aproveitam disso pra me zoar até cansar. Às vezes me sinto a adolescente mais boba do mundo, mas quando é ele que fala, eu simplesmente me derreto toda por dentro. A verdade é que eu amo o Lorenzo. Com todas as minhas forças. Quando ele aparece, meu mundo muda de cor, meu coração começa a bater como se tivesse bateria de escola de samba, minhas mãos suam e minhas pernas fraquejam. Parece exagero, mas não é. Nunca senti isso por ninguém antes, e tenho certeza de que nunca sentirei de novo. Ele é lindo. Lindo de um jeito que até irrita. Alto, pele negra como noite sem lua, olhos escuros que enxergam minha alma, e um corpo definido que parece ter saído de uma revista. Quando estamos juntos, me sinto segura e especial. Quando estamos separados, conto os segundos para vê-lo de novo. Só que ele... ele é de outro mund
Celina Alves Meu amor sempre me tratou como uma princesa. Quando estou com ele, é como se o mundo inteiro desaparecesse. Só existe o toque dele, o cheiro dele, a forma como ele me olha e me faz sentir como a única mulher do universo. Lorenzo me levou para um dia incrível. A vista era de tirar o fôlego, o mar brilhava com a luz do sol, e o biquíni vermelho que ele tinha me dado parecia feito sob medida para mim. Senti meu corpo esquentar só de ver o jeito que ele me olhava. O desejo nos consumia a cada olhar, a cada beijo trocado entre risadas e carinhos. Quando o céu escureceu, a tensão entre nós só aumentou. A brisa da noite acariciava minha pele, mas era o calor dele que incendiava meu corpo. — Você está linda… toda vermelhinha — ele murmurou, os olhos brilhando de desejo. — Mas não quero fazer nada que você não queira. Não precisa se sentir envergonhada. Eu te amo, Celina. A doçura da voz dele me cortava por dentro. Como ele podia ser tão perfeito? O corpo dele era quente, duro
Celina Alves Eu tinha dezessete anos e, até aquele momento, acreditava estar vivendo a fase mais feliz da minha vida. Mesmo com as exigências da minha tia, que nunca demonstrou muito carinho por mim, meu mundo parecia perfeito. Lorenzo era meu namorado, meu melhor amigo, meu porto seguro. Ele me chamava de “meu anjo” e dizia que eu era a melhor coisa que já tinha acontecido na vida dele. Nosso amor era intenso, inocente e verdadeiro — pelo menos para mim. Cada vez que ele me olhava, meu coração acelerava. Cada beijo, cada palavra doce, cada abraço apertado... Tudo me fazia acreditar que havíamos sido feitos um para o outro. Não importava que ele fosse de uma família rica e eu morasse de favor com uma tia amarga. O amor entre nós parecia superar qualquer diferença. Até aquela sexta-feira. Era por volta das dezoito horas quando recebi um bilhete em nome do Lorenzo, pedindo que eu o encontrasse em um apartamento de alto padrão, em um bairro onde só morava gente rica. Achei estranho e
Celina Alves Minha tia sumiu. Não atende o telefone, não responde mensagem, e o pior: nem chegou a me buscar na rodoviária. Estou há uma semana hospedada na casa da Tamara, que já voltou a trabalhar, e só Deus sabe o quanto essa moça me salvou. Se não fosse por ela, sinceramente, não sei onde eu estaria agora. A vida tem me dado rasteiras seguidas. Desde o dia em que peguei meu namorado na cama com outra – e pior, com a verdadeira namorada dele – tudo virou de cabeça pra baixo. E agora minha tia simplesmente desaparece do mapa. Não consigo entender como tudo deu tão errado tão de repente. A única certeza que tenho é que, sem Tamara, eu estaria perdida nesse Rio de Janeiro imenso. Tamara é um anjo. Nunca conheci alguém tão gentil, tão solidária. Parece coisa de filme encontrar uma pessoa assim no meio do caos. Deus colocou ela no meu caminho, disso eu tenho certeza. Sozinha aqui, sem ninguém, teria dormido na rua, com fome e medo. Ao menos agora tenho onde ficar, e essa varanda da c