Capítulo 4

Lorenzo Ferraz

Acordo nu, com uma dor de cabeça infernal e no quarto da Gabrielle.

— Merda… — murmuro, esfregando os olhos.

O que diabos estou fazendo aqui?

Olho em volta, tentando encontrar alguma pista. Nada. Nem minha amiga está no quarto.

Gabrielle... Onde você se meteu?

Lembro vagamente dela me ligar no meio da noite dizendo que estava passando mal. Saí correndo de casa, preocupado, mas agora estou aqui... nu… e sem memória.

Merda, cadê a Celina?

Meu anjo deve estar apavorada com meu sumiço. Eu também estou — mas pelo desaparecimento dela.

Me visto às pressas. Minha roupa está jogada no chão como se tivesse sido arrancada. Meus sentidos ainda estão turvos. Tento me lembrar de cada detalhe da noite anterior, mas tudo é um borrão. Uísque... Lembro que tomei uma dose, e depois disso, nada. Um apagão total.

Saio do apartamento da Gabrielle e sigo direto para a escola. O horário da aula da Celina estava prestes a acabar. Esperei. E esperei. Mas ela não apareceu.

Isso se repetiu por dias. E com o passar do tempo, meu desespero só aumentava.

É horrível não saber o paradeiro da pessoa que você ama.

Tentei ligar, mandei mensagens, esperei na porta da escola. Nada. Nem sinal dela.

Celina havia sumido como se nunca tivesse existido. Meu coração estava dilacerado. E, pior: eu não sabia onde ela morava. Ela nunca quis me mostrar sua casa. Dizia que era um lugar perigoso, que a tia não me aceitaria. Eu respeitei… Idiota. Se eu tivesse insistido, talvez agora eu soubesse onde encontrá-la.

— Celina… meu anjo… onde você está?

Essa pergunta se repete na minha cabeça dia e noite.

Hoje vai ter um jantar em casa. Meus pais convidaram amigos próximos, e claro, Gabrielle estará entre eles. Desde que acordei no quarto dela, ela tem me evitado. Não atende minhas ligações e nem responde mensagens.

Preciso saber o que aconteceu naquela noite. Eu preciso da verdade.

Gabrielle sempre foi como uma irmã. Crescemos juntos, e nunca olhei para ela de outra forma. Mas meu pai… Ele sempre achou que nós dois deveríamos ficar juntos. Seria conveniente, claro. Nossas famílias são próximas, ela tem o perfil que ele gosta. Mas o meu coração pertence à Celina. E só a ela.

— Lorenzo, seu pai quer te ver no escritório. — diz minha mãe, entrando no meu quarto com um sorriso sereno. — E como está aquela moça que você me falou? A Celina?

— Mãe, não quero falar sobre isso agora. Estou com a cabeça cheia. O que o papai quer dessa vez?

— Ele só quer conversar. E sobre o jantar, relaxa… Gabrielle vai vir. Ela gosta de você, você sabe.

Eu solto um suspiro longo, cansado.

Se ela gostasse de mim de verdade, não estaria me evitando. E principalmente, teria me contado o que aconteceu.

O mais estranho de tudo é essa sensação de que algo muito errado aconteceu. Acordar sem lembranças, nu, no quarto de uma amiga... Não faz sentido. Gabrielle sempre foi uma boa amiga. Nunca deu sinais de que queria algo além disso. E, ainda assim, agora está se escondendo de mim.

E enquanto isso, minha Celina está desaparecida. Sem dar notícias, sem explicação.

Eu a amo. Amo demais. Cada pedacinho dela. Sinto falta do seu cheiro, do seu jeito meigo de sorrir, de sua voz baixa quando orava. Ela tinha uma fé que me tocava.

Já fui com ela à igreja algumas vezes. Era uma igreja pequena, cheia de alegria. Celina adorava conversar com o padre — um cara jovem demais pro meu gosto. Eu confesso: sentia ciúmes dele.

Meu ciúme por ela era algo que nem eu conseguia controlar. Às vezes pensava em segui-la, descobrir onde morava, saber com quem falava… Mas nunca tive coragem de invadir sua privacidade.

Agora me arrependo.

E se ela estiver correndo perigo?

E se a tia dela tiver feito algo com ela?

Essa mulher nunca foi de confiança. Sempre tratou Celina como empregada, e minha linda nunca reclamava. Dizia que era grata por ter onde morar.

Mas... e se algo aconteceu?

Decido naquele momento: se até amanhã não tiver notícias, contrataria um detetive. Não posso mais ficar parado. Preciso saber onde ela está, custe o que custar.

O dia passa arrastado. Fecho os olhos por um momento e acabo adormecendo.

Sonho com Celina.

Ela está chorando, me olhando com raiva.

— Eu te odeio, Lorenzo… nunca mais vou te perdoar.

Acordo com o peito apertado, suando frio. A dor no coração é tão real quanto o sonho. Por que ela me odiaria?

O que está acontecendo?

Preciso encontrá-la. Essa angústia vai me destruir.

Tomo um banho demorado tentando afastar os pensamentos ruins. Me visto para o jantar, coloco meu melhor perfume, ajeito o cabelo. Preciso parecer calmo, mas estou um caos por dentro.

Desço para a sala. Está vazia.

Logo depois, meu pai aparece.

— Lorenzo, vê se toma vergonha na cara e pede a Gabrielle em namoro antes que outro faça isso.

— Pai, já falei mil vezes. Gabrielle e eu somos amigos, só isso. E, além disso, ela tem namorado.

— Não mais. Você não soube? Ela passou por um momento delicado esses dias. O namorado dela fugiu com outra garota. Foi um escândalo. O pai dela me contou.

— O quê?

Aquilo me pega de surpresa.

Como assim ela não me contou?

Sempre fomos próximos. Por que esconderia algo assim?

A história começa a ficar mais estranha a cada minuto.

Gabrielle… o que está acontecendo com você?

Se ela realmente terminou, por que está me evitando?

Ainda mais depois da noite que acordei no apartamento dela… nu… sem lembrança nenhuma.

Preciso falar com ela. Preciso encarar essa história de frente.

Mas minha prioridade continua sendo encontrar Celina.

Só de pensar nela, meu coração se aperta.

Celina, meu amor… cadê você?

Eu ainda escuto sua risada, seus passos apressados, seu jeito tímido de olhar para mim quando eu te dizia o quanto era linda. Sinto falta até dos seus silêncios, do jeito como você encostava a cabeça no meu ombro quando estava cansada. De como você orava antes de dormir.

E agora você sumiu.

Me recuso a acreditar que você tenha ido embora sem me dizer nada.

Você não é assim.

Tem algo errado nisso tudo. Algo muito errado.

E eu vou descobrir.

Seja o que for que aconteceu naquela noite com a Gabrielle, seja o que for que esteja impedindo minha Celina de voltar pra mim, eu vou resolver.

Nem que eu tenha que ir até o inferno e voltar.

Eu só quero minha vida de volta.

E minha vida é ela.

Celina… meu anjo… aguenta firme.

Eu vou te encontrar.

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