Lorenzo Ferraz
Acordo nu, com uma dor de cabeça infernal e no quarto da Gabrielle. — Merda… — murmuro, esfregando os olhos. O que diabos estou fazendo aqui? Olho em volta, tentando encontrar alguma pista. Nada. Nem minha amiga está no quarto. Gabrielle... Onde você se meteu? Lembro vagamente dela me ligar no meio da noite dizendo que estava passando mal. Saí correndo de casa, preocupado, mas agora estou aqui... nu… e sem memória. Merda, cadê a Celina? Meu anjo deve estar apavorada com meu sumiço. Eu também estou — mas pelo desaparecimento dela. Me visto às pressas. Minha roupa está jogada no chão como se tivesse sido arrancada. Meus sentidos ainda estão turvos. Tento me lembrar de cada detalhe da noite anterior, mas tudo é um borrão. Uísque... Lembro que tomei uma dose, e depois disso, nada. Um apagão total. Saio do apartamento da Gabrielle e sigo direto para a escola. O horário da aula da Celina estava prestes a acabar. Esperei. E esperei. Mas ela não apareceu. Isso se repetiu por dias. E com o passar do tempo, meu desespero só aumentava. É horrível não saber o paradeiro da pessoa que você ama. Tentei ligar, mandei mensagens, esperei na porta da escola. Nada. Nem sinal dela. Celina havia sumido como se nunca tivesse existido. Meu coração estava dilacerado. E, pior: eu não sabia onde ela morava. Ela nunca quis me mostrar sua casa. Dizia que era um lugar perigoso, que a tia não me aceitaria. Eu respeitei… Idiota. Se eu tivesse insistido, talvez agora eu soubesse onde encontrá-la. — Celina… meu anjo… onde você está? Essa pergunta se repete na minha cabeça dia e noite. Hoje vai ter um jantar em casa. Meus pais convidaram amigos próximos, e claro, Gabrielle estará entre eles. Desde que acordei no quarto dela, ela tem me evitado. Não atende minhas ligações e nem responde mensagens. Preciso saber o que aconteceu naquela noite. Eu preciso da verdade. Gabrielle sempre foi como uma irmã. Crescemos juntos, e nunca olhei para ela de outra forma. Mas meu pai… Ele sempre achou que nós dois deveríamos ficar juntos. Seria conveniente, claro. Nossas famílias são próximas, ela tem o perfil que ele gosta. Mas o meu coração pertence à Celina. E só a ela. — Lorenzo, seu pai quer te ver no escritório. — diz minha mãe, entrando no meu quarto com um sorriso sereno. — E como está aquela moça que você me falou? A Celina? — Mãe, não quero falar sobre isso agora. Estou com a cabeça cheia. O que o papai quer dessa vez? — Ele só quer conversar. E sobre o jantar, relaxa… Gabrielle vai vir. Ela gosta de você, você sabe. Eu solto um suspiro longo, cansado. Se ela gostasse de mim de verdade, não estaria me evitando. E principalmente, teria me contado o que aconteceu. O mais estranho de tudo é essa sensação de que algo muito errado aconteceu. Acordar sem lembranças, nu, no quarto de uma amiga... Não faz sentido. Gabrielle sempre foi uma boa amiga. Nunca deu sinais de que queria algo além disso. E, ainda assim, agora está se escondendo de mim. E enquanto isso, minha Celina está desaparecida. Sem dar notícias, sem explicação. Eu a amo. Amo demais. Cada pedacinho dela. Sinto falta do seu cheiro, do seu jeito meigo de sorrir, de sua voz baixa quando orava. Ela tinha uma fé que me tocava. Já fui com ela à igreja algumas vezes. Era uma igreja pequena, cheia de alegria. Celina adorava conversar com o padre — um cara jovem demais pro meu gosto. Eu confesso: sentia ciúmes dele. Meu ciúme por ela era algo que nem eu conseguia controlar. Às vezes pensava em segui-la, descobrir onde morava, saber com quem falava… Mas nunca tive coragem de invadir sua privacidade. Agora me arrependo. E se ela estiver correndo perigo? E se a tia dela tiver feito algo com ela? Essa mulher nunca foi de confiança. Sempre tratou Celina como empregada, e minha linda nunca reclamava. Dizia que era grata por ter onde morar. Mas... e se algo aconteceu? Decido naquele momento: se até amanhã não tiver notícias, contrataria um detetive. Não posso mais ficar parado. Preciso saber onde ela está, custe o que custar. O dia passa arrastado. Fecho os olhos por um momento e acabo adormecendo. Sonho com Celina. Ela está chorando, me olhando com raiva. — Eu te odeio, Lorenzo… nunca mais vou te perdoar. Acordo com o peito apertado, suando frio. A dor no coração é tão real quanto o sonho. Por que ela me odiaria? O que está acontecendo? Preciso encontrá-la. Essa angústia vai me destruir. Tomo um banho demorado tentando afastar os pensamentos ruins. Me visto para o jantar, coloco meu melhor perfume, ajeito o cabelo. Preciso parecer calmo, mas estou um caos por dentro. Desço para a sala. Está vazia. Logo depois, meu pai aparece. — Lorenzo, vê se toma vergonha na cara e pede a Gabrielle em namoro antes que outro faça isso. — Pai, já falei mil vezes. Gabrielle e eu somos amigos, só isso. E, além disso, ela tem namorado. — Não mais. Você não soube? Ela passou por um momento delicado esses dias. O namorado dela fugiu com outra garota. Foi um escândalo. O pai dela me contou. — O quê? Aquilo me pega de surpresa. Como assim ela não me contou? Sempre fomos próximos. Por que esconderia algo assim? A história começa a ficar mais estranha a cada minuto. Gabrielle… o que está acontecendo com você? Se ela realmente terminou, por que está me evitando? Ainda mais depois da noite que acordei no apartamento dela… nu… sem lembrança nenhuma. Preciso falar com ela. Preciso encarar essa história de frente. Mas minha prioridade continua sendo encontrar Celina. Só de pensar nela, meu coração se aperta. Celina, meu amor… cadê você? Eu ainda escuto sua risada, seus passos apressados, seu jeito tímido de olhar para mim quando eu te dizia o quanto era linda. Sinto falta até dos seus silêncios, do jeito como você encostava a cabeça no meu ombro quando estava cansada. De como você orava antes de dormir. E agora você sumiu. Me recuso a acreditar que você tenha ido embora sem me dizer nada. Você não é assim. Tem algo errado nisso tudo. Algo muito errado. E eu vou descobrir. Seja o que for que aconteceu naquela noite com a Gabrielle, seja o que for que esteja impedindo minha Celina de voltar pra mim, eu vou resolver. Nem que eu tenha que ir até o inferno e voltar. Eu só quero minha vida de volta. E minha vida é ela. Celina… meu anjo… aguenta firme. Eu vou te encontrar.Gabrielle Vidal Meu nome é Gabrielle. Branca, olhos verdes, rica, bonita. E completamente apaixonada pelo meu melhor amigo desde sempre. Lorenzo. Desde a infância, ele foi meu porto seguro. O menino gentil que enxugava minhas lágrimas quando caía no parquinho, que dividia o lanche comigo, mesmo quando era seu favorito. Crescemos juntos, lado a lado, como se o universo já soubesse que nossos destinos estavam entrelaçados. Mas, aos dezessete anos, algo dentro de mim mudou. Uma espécie de clique. Uma descoberta inesperada. O carinho que eu sentia por Lorenzo se transformou em algo mais... algo mais quente, mais urgente, mais intenso. Eu não conseguia mais olhar para ele e vê-lo como um irmão. Ele era o homem dos meus sonhos. E o pior? Ele parecia alheio a tudo isso. Lorenzo sempre foi discreto, reservado. Nunca o vi com uma namorada, nunca o ouvi comentar sobre paixões. Todos os nossos colegas falavam de suas experiências amorosas, de seus desejos, das primeiras vezes. Eu mesma, q
Gabrielle Vidal Passei dias obcecada com uma única missão: descobrir quem era a namorada secreta de Lorenzo. Ele não me dava pistas. Não publicava fotos. Não levava ninguém nas festas. Não comentava nomes. Era como se a mulher não existisse. Mas eu sabia que existia. A ligação apaixonada que ouvi naquela noite não saía da minha mente. "Eu te amo tanto, mas logo nos veremos, tá bom, minha linda?" — as palavras ecoavam na minha cabeça, cada vez mais afiadas. Eu precisava arrancá-la da vida dele. A dúvida me corroía. Era uma mulher? Era um homem? Era uma ilusão? Até que uma tarde comum se transformou em um pesadelo. Ou melhor, um presente. Tudo depende do ponto de vista. Estava indo ao shopping, quando vi Lorenzo atravessando a rua com alguém. Uma garota. Ela devia ter no máximo dezessete anos. Estava usando o uniforme carregava uma mochila nas costas. Os dois estavam de mãos dadas, sorrindo. Um sorriso leve, verdadeiro, apaixonado. Mas o que realmente me fez parar foi a ima
Gabrielle Vidal No outro dia, quando cheguei na faculdade, Lorenzo estava sentado no banco perto da entrada, sorridente. Ele parecia leve, como se o mundo estivesse finalmente nos trilhos para ele. Aquilo me irritava. Como ele conseguia sorrir daquele jeito? Como podia parecer tão pleno, depois de tudo que vivemos? Como ousava me ignorar? — Olha, você hoje está muito feliz, hein? — disse ele, me olhando com aquela expressão tranquila que me dava nos nervos. Fingi um sorriso largo, daqueles que escondem veneno. — Sim! Me esqueci de te falar... estou namorando! Tem um mês que conheci ele. É muito lindo. Ainda está no colégio, acredita? Tem dezenove anos, mas parece ter bem mais. O pai dele é um grande empresário, é bem rico. Mas eu nem ligo pra isso, já que sou muito rica também. Menti. Com frieza, com classe. Meu sorriso era calculado, como um golpe bem ensaiado. Eu queria ver a reação dele, algum sinal de ciúmes, desconforto, qualquer coisa. Mas ele apenas sorriu. — Que bom, Gabi
Lorenzo Ferraz Poxa, que tipo de amigo eu sou? Estava julgando a Gabrielle, quando na verdade ela estava destruída por dentro. Sofrendo em silêncio. E eu, cego pela confusão, sequer percebi. Como eu ia saber? Como eu poderia imaginar que alguém poderia ser tão cruel com uma pessoa como ela? Gabrielle é forte, mas ninguém é de ferro. E ao vê-la chegar abatida, com os olhos inchados e a alma visivelmente quebrada, meu coração se apertou de um jeito que há muito tempo não acontecia. Fui até ela, sentindo a culpa me esmagar por dentro. — Poxa, Gabrielle... — comecei, com a voz embargada. — Você deveria ter me contado o que estava acontecendo. Somos amigos, não somos? Caramba, fiquei sabendo pelo meu pai... Ela apenas me olhou com um misto de tristeza e exaustão, mas não falou nada. Eu continuei: — Você me falou dele há pouco tempo... Fábio, né? Eu não o conheço, mas se você me der uma foto dele, eu juro que vou até onde ele estiver e dou uma surra nesse desgraçado. Ninguém faz isso
Lorenzo Ferraz — Oi, posso te fazer uma pergunta? — perguntei, com a voz controlada, tentando manter a calma. — Já que você anda pelas bandas de onde a Celina morava… por acaso a viu por esses dias? O cara hesitou. Eu sabia que ele era um dos que sempre dava aquela olhada maldita quando minha Celina passava. Aquilo sempre me incomodou. Mas agora... agora era diferente. Eu precisava de respostas. — Ah, então… vocês terminaram, né? — Ele se inclinou para mais perto, como se estivesse prestes a contar um segredo cabeludo. — Vi ela com um carinha aqui do colégio. Tavam se pegando feio dentro do carro. Sério, parecia que iam transar ali mesmo. O cara é mais velho, repetente. Vive de farra, mulher e gastando grana. Escutei que os dois tão apaixonadões, e que vão se casar fora e voltar como se nada tivesse acontecido. Pais ricos, sabe como é... não querem os filhos misturando com a “ralé”. E sua mina? Foi ligeira. Achou um trouxa com mais grana que você. O cara pegou ela, deu uns pegas, e
Lorenzo Ferraz Três Anos Depois Três anos se passaram desde o dia em que minha vida virou um inferno. Nesse tempo, mergulhei de cabeça nos estudos e no trabalho. Fiz cursos, treinamentos, formações executivas, tudo o que fosse necessário para me transformar no homem que sou hoje. Quando finalizei minha especialização com louvor, meu pai não hesitou: passou a presidência das Lojas Ferraz para mim e se aposentou. Herdei o império que ele construiu, mas também herdei um coração destroçado e uma alma consumida pela raiva. Não foi fácil assumir o comando com a cabeça atormentada por lembranças e fantasmas. Ainda assim, cumpri cada meta, bati cada recorde, multipliquei os lucros — enquanto dentro de mim, só restava vazio. Trabalhar se tornou meu refúgio. Porque quando estou ocupado, não penso. E quando não penso, não sofro. É simples. Heitor, meu braço direito e único amigo de verdade, já me perguntou várias vezes se quero morrer de tanto me dedicar. Ele não entende que, às vezes, essa
Celina Alves Seis anos atrás... Meu namorado só pode estar tentando me matar de vergonha! Ele vive me chamando de “anjo” na frente das minhas amigas — e é claro que elas se aproveitam disso pra me zoar até cansar. Às vezes me sinto a adolescente mais boba do mundo, mas quando é ele que fala, eu simplesmente me derreto toda por dentro. A verdade é que eu amo o Lorenzo. Com todas as minhas forças. Quando ele aparece, meu mundo muda de cor, meu coração começa a bater como se tivesse bateria de escola de samba, minhas mãos suam e minhas pernas fraquejam. Parece exagero, mas não é. Nunca senti isso por ninguém antes, e tenho certeza de que nunca sentirei de novo. Ele é lindo. Lindo de um jeito que até irrita. Alto, pele negra como noite sem lua, olhos escuros que enxergam minha alma, e um corpo definido que parece ter saído de uma revista. Quando estamos juntos, me sinto segura e especial. Quando estamos separados, conto os segundos para vê-lo de novo. Só que ele... ele é de outro mund
Celina Alves Meu amor sempre me tratou como uma princesa. Quando estou com ele, é como se o mundo inteiro desaparecesse. Só existe o toque dele, o cheiro dele, a forma como ele me olha e me faz sentir como a única mulher do universo. Lorenzo me levou para um dia incrível. A vista era de tirar o fôlego, o mar brilhava com a luz do sol, e o biquíni vermelho que ele tinha me dado parecia feito sob medida para mim. Senti meu corpo esquentar só de ver o jeito que ele me olhava. O desejo nos consumia a cada olhar, a cada beijo trocado entre risadas e carinhos. Quando o céu escureceu, a tensão entre nós só aumentou. A brisa da noite acariciava minha pele, mas era o calor dele que incendiava meu corpo. — Você está linda… toda vermelhinha — ele murmurou, os olhos brilhando de desejo. — Mas não quero fazer nada que você não queira. Não precisa se sentir envergonhada. Eu te amo, Celina. A doçura da voz dele me cortava por dentro. Como ele podia ser tão perfeito? O corpo dele era quente, duro