Celina Alves Seis anos atrás... Meu namorado só pode estar tentando me matar de vergonha! Ele vive me chamando de “anjo” na frente das minhas amigas — e é claro que elas se aproveitam disso pra me zoar até cansar. Às vezes me sinto a adolescente mais boba do mundo, mas quando é ele que fala, eu simplesmente me derreto toda por dentro. A verdade é que eu amo o Lorenzo. Com todas as minhas forças. Quando ele aparece, meu mundo muda de cor, meu coração começa a bater como se tivesse bateria de escola de samba, minhas mãos suam e minhas pernas fraquejam. Parece exagero, mas não é. Nunca senti isso por ninguém antes, e tenho certeza de que nunca sentirei de novo. Ele é lindo. Lindo de um jeito que até irrita. Alto, pele negra como noite sem lua, olhos escuros que enxergam minha alma, e um corpo definido que parece ter saído de uma revista. Quando estamos juntos, me sinto segura e especial. Quando estamos separados, conto os segundos para vê-lo de novo. Só que ele... ele é de outro mund
Celina Alves Meu amor sempre me tratou como uma princesa. Quando estou com ele, é como se o mundo inteiro desaparecesse. Só existe o toque dele, o cheiro dele, a forma como ele me olha e me faz sentir como a única mulher do universo. Lorenzo me levou para um dia incrível. A vista era de tirar o fôlego, o mar brilhava com a luz do sol, e o biquíni vermelho que ele tinha me dado parecia feito sob medida para mim. Senti meu corpo esquentar só de ver o jeito que ele me olhava. O desejo nos consumia a cada olhar, a cada beijo trocado entre risadas e carinhos. Quando o céu escureceu, a tensão entre nós só aumentou. A brisa da noite acariciava minha pele, mas era o calor dele que incendiava meu corpo. — Você está linda… toda vermelhinha — ele murmurou, os olhos brilhando de desejo. — Mas não quero fazer nada que você não queira. Não precisa se sentir envergonhada. Eu te amo, Celina. A doçura da voz dele me cortava por dentro. Como ele podia ser tão perfeito? O corpo dele era quente, duro
Celina Alves Eu tinha dezessete anos e, até aquele momento, acreditava estar vivendo a fase mais feliz da minha vida. Mesmo com as exigências da minha tia, que nunca demonstrou muito carinho por mim, meu mundo parecia perfeito. Lorenzo era meu namorado, meu melhor amigo, meu porto seguro. Ele me chamava de “meu anjo” e dizia que eu era a melhor coisa que já tinha acontecido na vida dele. Nosso amor era intenso, inocente e verdadeiro — pelo menos para mim. Cada vez que ele me olhava, meu coração acelerava. Cada beijo, cada palavra doce, cada abraço apertado... Tudo me fazia acreditar que havíamos sido feitos um para o outro. Não importava que ele fosse de uma família rica e eu morasse de favor com uma tia amarga. O amor entre nós parecia superar qualquer diferença. Até aquela sexta-feira. Era por volta das dezoito horas quando recebi um bilhete em nome do Lorenzo, pedindo que eu o encontrasse em um apartamento de alto padrão, em um bairro onde só morava gente rica. Achei estranho e
Celina Alves Minha tia sumiu. Não atende o telefone, não responde mensagem, e o pior: nem chegou a me buscar na rodoviária. Estou há uma semana hospedada na casa da Tamara, que já voltou a trabalhar, e só Deus sabe o quanto essa moça me salvou. Se não fosse por ela, sinceramente, não sei onde eu estaria agora. A vida tem me dado rasteiras seguidas. Desde o dia em que peguei meu namorado na cama com outra – e pior, com a verdadeira namorada dele – tudo virou de cabeça pra baixo. E agora minha tia simplesmente desaparece do mapa. Não consigo entender como tudo deu tão errado tão de repente. A única certeza que tenho é que, sem Tamara, eu estaria perdida nesse Rio de Janeiro imenso. Tamara é um anjo. Nunca conheci alguém tão gentil, tão solidária. Parece coisa de filme encontrar uma pessoa assim no meio do caos. Deus colocou ela no meu caminho, disso eu tenho certeza. Sozinha aqui, sem ninguém, teria dormido na rua, com fome e medo. Ao menos agora tenho onde ficar, e essa varanda da c
Celina Alves — Oi, Tamara, bom dia! Por que você já está aqui uma hora dessas? — Falei que iria trazer minha amiga, Felipe. Eu tinha avisado você, se esqueceu? Ele arqueou uma sobrancelha. Claramente não lembrava. — Ah, é mesmo! A jovem tem que idade, hein? Tamara cruzou os braços, revirando os olhos. — Você está me zoando, né? Falei ontem! Está com a cabeça onde, Felipe? Ele riu, debochado. — Só queria te ver irritada. É claro que me lembro. A vaga de jovem aprendiz no setor de atendimento está aberta. Como ela é nova, dá conta fácil. Pode deixá-la aqui comigo. Vou explicar como funciona. Já trabalhou em algum lugar? — Já sim. Em uma lanchonete, só isso. — Bom, o que você vai fazer aqui é bem tranquilo. Recepcionar clientes, apresentar produtos, manter as prateleiras organizadas. Depois uma das moças vai te mostrar tudo. Está bem? — Sim, senhor! — Pode começar hoje mesmo se quiser. E já que sei que está morando com a Tamara e não conhece muito a cidade, vou pedir para alg
Tamara Borralho Os primeiros dias com um recém-nascido em casa pareciam uma maratona sem linha de chegada. Celina, ainda se recuperando do parto, mal conseguia manter os olhos abertos por mais de uma hora seguida. E eu, mesmo não sendo a mãe, já me sentia parte daquela nova vida. Ajudava com as mamadeiras, embalava o bebê, ficava acordada quando todos dormiam. Aquilo me dava propósito, mas também drenava minha energia. Meu corpo doía, minhas emoções estavam em frangalhos e, como se não bastasse, minha vida amorosa andava no piloto automático. Até que naquela tarde, quando eu finalmente encostei no sofá para descansar um pouco, o celular vibrou. Era ele. Eduardo. Meu namorado. Ou, pelo menos, o cara com quem eu insistia em manter algo que nem eu sabia mais definir. Ele não era o namorado perfeito, nunca foi próximo da Celina, e sempre parecia estar em outro universo. Mas tinha um poder estranho sobre mim. Talvez fosse o jeito como me olhava, como me possuía, como me fazia esquecer
Lorenzo Ferraz Estava no meu quarto desde ontem. A cabeça latejava com a força de um tambor africano. Desde que cheguei da loja, o peso da responsabilidade parecia ter dobrado sobre meus ombros. Acordei cedo hoje, com a obrigação de ir a uma reunião no centro da cidade e depois ainda voltar para a loja. A vontade de largar tudo e voltar para o meu apartamento em Santa Catarina era absurda. Queria silêncio. Queria paz. Queria distância de tudo isso. Era tão bom quando minha única obrigação era ir para a faculdade... Eu era outro homem naquela época. O Lorenzo de hoje está cansado. Cansado de tanta responsabilidade, cansado de ser o nome que todos chamam quando algo dá errado. Heitor até tenta me ajudar, mas no final, sou sempre eu quem resolve tudo. Sou o último a dormir e o primeiro a ser cobrado. E tudo o que eu queria agora era sumir. Ou talvez encontrar uma mulher de verdade, casar e ter um pouco de estabilidade emocional. Mas é impossível quando toda vez que me aproximo de uma m
Lorenzo Ferraz — Olha só, se acalme. Tire essa cara de assassino do rosto e lembre-se: ela é uma mulher, e em mulher não se b**e. — Cala sua boca! — explodi, minha voz cortante feito navalha. O sangue fervia nas minhas veias, e tudo dentro de mim gritava por vingança. Fora de mim, girei nos calcanhares e fui direto até o gerente. — Quero aquela mulher fora daqui. Agora. A despeça! O gerente arregalou os olhos, confuso. — Mas senhor… Ela precisa muito desse emprego. É uma funcionária exemplar, está aqui há quatro anos e nunca faltou um único dia. — Eu não dou a mínima! — gritei, socando a mesa. — Quero que ela vá embora imediatamente. Mande-a sair dessa loja! — Lorenzo… — meu amigo tentou intervir, mais uma vez. — Não faça isso só porque você a odeia. Ela não te fez nada. Você vai embora daqui a pouco, nunca mais vai vê-la! Pra que isso? — Só quero o endereço dela. — respondi, frio. — Só isso. — O quê?! Você está louco?! Por que quer o endereço dela? — Para entender por que