A campainha tocou no fim da manhã.
Ruby abriu a porta e se deparou com um homem segurando a mão de um garotinho rechonchudo. Ela o observou com atenção, certa de que nunca o tinha visto antes.
— Está procurando por alguém?
— Ah, sim… vim ver a Amber. Queria pedir se ela poderia cuidar do Flynn por um tempo. — Respondeu o homem, lançando um olhar ao pequeno ao seu lado.
— Cuidar dele...? — Ruby olhou para o menino gordinho que apertava uma bola contra o peito. Suas sobrancelhas se franziram.
Amber apareceu nesse instante e, ao ver o pai e o filho, logo os convidou a entrar.
— Já chegaram? Entrem, Tucker, Flynn.
— Sim, por favor, cuide dele o dia inteiro. Preciso resolver uns assuntos urgentes na empresa. — Explicou o homem, visivelmente apressado.
— Claro, eu tomarei conta dele direitinho. Esta é minha filha, Ruby. Ruby, este é o Tucker, nosso vizinho. Vou cuidar do filho dele, o Flynn.
— Ah, então também vamos cuidar de uma criança. — Ruby assentiu com a cabeça para a mãe e levantou a mão em um gesto de cumprimento educado para Tucker.
— Prazer, Tucker.
— Tudo bem, então eu já vou.
Tucker, um viúvo de trinta e seis anos, levantou a mão em sinal de despedida e saiu apressadamente de casa.
— Mãe, o que foi isso? — Ruby virou-se para a mãe e para o menino, sentindo-se preocupada com eles.
— Já te disse, eu aceito qualquer trabalho. O Tucker mora logo ali ao lado. — Explicou Amber, apontando para a casa à esquerda.
— Mas… não era ali a casa da vovó Tammy?
— A vovó Tammy vendeu a casa anos atrás. Tucker a comprou e morava lá com a esposa, mas ela teve azar: morreu há três anos. Agora, ele é um viúvo muito popular por aqui.
— Ele é bonito, então acho que ele realmente é popular, como você disse, mãe. Mas você não está cansada de cuidar de uma criança assim? Eu costumava cuidar do Nico, e me dava dor de cabeça todos os dias, ele era muito travesso e teimoso.
— Isso significa que você já tem experiência em cuidar de uma criança pequena. Nico tinha uns cinco ou seis anos, como o Flynn. Perfeito, você pode me ajudar a cuidar dele para que eu não fique tão cansada.
Amber segurou a mão de Flynn e passou o braço sobre os ombros da filha, guiando os dois para dentro.
— Muito bem, Flynn. Esta é a Ruby. Já deu oi pra Ruby?
— Oi, mana. — Disse o garotinho, levantando a mão.
Era adorável, com a franja curta e torta sobre a testa redonda.
— Mana? Mãe...
— Está tudo bem. Ou prefere que ele te chame de "tia"?
— "Mana" está ótimo. — Respondeu Ruby, sorrindo de leve.
Ela se agachou e apertou suavemente as bochechas do menino.
— Que bochechas gordinhas! Aposto que seu pai cuida bem de você.
— Sim, o papai pede frango pra mim. — O menino tagarela deu um sorriso tão largo que suas bochechas quase se partiram, com seus olhos redondos fixos em Ruby.
— Pede frango? Deve ter poucos lugares que entregam aqui...
Ruby sorriu e virou-se para olhar para a mãe, perguntando silenciosamente.
— Um viúvo não tem tempo pra cozinhar. Aliás, Flynn, você já comeu?
— Ainda não.
— Mãe, não me diga que ele vai comer aqui também...
— Tucker incluiu também o pagamento das refeições de Flynn. Ruby, pensei que, já que nos conhecemos, poderíamos nos ajudar. Antes, quando eu estava sozinha, me sentia muito solitária.
Imediatamente, sua filha entendeu.
— Está bem, mãe. Tudo o que você fizer, eu ajudo. Hoje eu cuido do Flynn com você. Mas antes... vamos comer alguma coisa, não é, Flynn?
— Vamos sim, Ruby!
Depois de preparar o almoço do garoto, Ruby o convidou para brincar com a bola. Enquanto eles se divertiam, Amber aproveitou para ir ao mercado comprar ingredientes para as sobremesas.
Antes de sair, avisou:
— O Flynn adora jogar bola, Ruby. Nosso quintal da frente é grande o bastante. Quando ele brincava comigo, a gente mal conseguia jogar... estou ficando velha.
Ruby quis acompanhá-la, mas Amber recusou. Disse que o menino devia ficar em casa, por causa do calor, e pegou um táxi como de costume.
— Estou de saída.
— Tenha uma boa viagem. — Ruby a acompanhou até a porta e voltou para junto de Flynn.
— E então, você é bom de bola? — Perguntou provocativamente,
Flynn mexeu o corpinho redondo, um pouco envergonhado, antes de responder:
— Sou sim.
Ruby deu o primeiro chute, mandando a bola de leve para ele, que devolveu com toda a força que as perninhas conseguiam.
— Nossa, nada humilde! Então, por que você não testa suas habilidades contra mim? — Provocou ela.
Eles se revezaram passando a bola por quase quinze minutos. Quando Ruby ficou entediada, chutou a bola para o alto para que Flynn a cabeceasse. Usando um pouco de força demais, ela a chutou por cima da cerca, caindo na casa à direita.
— Ah, não, Flynn...
— A bola sumiu, Ruby. — Disse o menino, arregalando os olhos.
Ruby sentiu o peso da culpa. O brinquedo do pequeno tinha simplesmente desaparecido.
E agora?
Sem saber se havia alguém em casa, foi até o muro e percebeu que estava tudo silencioso, nem um carro na garagem. Então voltou e disse ao garoto:
— Olha só, Flynn. Eu vou subir o muro e buscar a bola, tá? Você fica aqui e não se mexe. Entendido? — Disse, fechando a porta atrás de si.
— Sim, Ruby. — O garoto obedientemente concordou. Empolgado, esperando continuar a brincadeira.
Ruby arrastou uma cadeira até a parede e subiu nela. De lá, ela avistou a bola de Flynn por perto, e pegá-la não parecia muito difícil. Como a parede de Chris era feita de blocos pré-fabricados com uma viga horizontal, e não de barras pontiagudas como as outras, ela subiu, se pendurou na viga e deu um sinal de positivo e um sorriso para Flynn.
— Espera aí, Flynn. Fica quietinho.
Ela lembrou o menino novamente.
— Sim, Ruby.
Tump!