— Não era você quem mais gostava disso antes? — Chris perguntou, balançando a cabeça para o irmão mais novo.
— Antes você se divertia tanto, e agora reclama que as mulheres são como sanguessugas. Não são justamente essas "sanguessugas" que te faziam feliz todos os dias?
Chris conhecia bem o tipo de relacionamento superficial e sem compromisso que Theo mantinha com as belas e volúveis mulheres da alta sociedade.
— Eu admito, mas depois de um tempo fica entediante, sabe, Chris? — Respondeu Theo, suspirando.
— Agora eu entendo como você se sentia quando a Ruby vivia te seguindo como uma sombra.
Ele não resistiu em trazer à tona o nome da garota da casa ao lado. Chris ficou em silêncio por um instante ao ouvir aquele nome.
— Por que está tão interessado na Ruby?
— Não estou particularmente interessado, não diga bobagens.
Mesmo agora, a expressão de Theo parecia divertida de um jeito que fez seu irmão mais velho erguer uma sobrancelha em surpresa.
— Onde você foi agora há pouco? Te vi entrando pela porta da frente. — Chris mudou de assunto.
— Fui ver a Ruby.
Chris virou-se na hora para encará-lo.
— E você diz que não está interessado.
— Eu só queria ver aquela garota. Faz muito tempo que não nos vemos. Ela deve estar por perto dos... — Theo começou a contar nos dedos.
— Vinte anos.
— Vinte e cinco. — Corrigiu o irmão.
Theo parou por um momento, surpreso por perceber que quem lembrava exatamente a idade de Ruby era justamente Chris.
— Você realmente se lembra com precisão... realmente vinte e cinco. — Theo pensou novamente. Tudo o que seu irmão dissera era verdade. Ele se recostou no sofá, olhando para o teto como se tivesse algo importante para refletir.
— E então, viu ela? — Perguntou Chris, depois de um longo silêncio, sem disfarçar o interesse.
— Só vi a Amber. Ela disse que a Ruby estava dormindo. Parece que estava cansada por causa do trabalho de ontem. Gente como ela também sabe limpar a casa. Não sei se era verdade... talvez Amber tenha feito tudo sozinha.
— Ruby realmente fez a faxina sozinha. — Confirmou Chris, com convicção.
— Ah, então você também estava em casa. Me diga, ela continua a mesma? Ainda fica grudada em você o tempo todo?
Theo parecia particularmente interessado em sua jovem rival. Havia um toque de ressentimento em seus olhos.
— Por que tem que esperar o Chris pra ir nadar? Pode ir comigo. Ele não está livre, e eu estou.
— Não quero ir com você. Só quero ir com o Chris.
Quantas vezes Theo já não havia sido humilhado por Ruby? Quantas vezes suas boas intenções se transformaram em motivo de riso para ela?
A vontade de vencê-la logo deu vida a cor de Theo.
— Só a vi por alguns minutos. Não dá pra dizer como ela está agora. Preciso de tempo pra observar.
— Aposto que ela vai mostrar o verdadeiro lado dela logo. Por enquanto deve estar fingindo. As pessoas não mudam tanto assim. Chris, não amolece, hein? Eu não quero uma pirralha dessas como minha cunhada.
— Isso nunca vai acontecer, Theo. — Respondeu Chris com confiança, o que só fez o irmão sorrir satisfeito.
— Ótimo. Muito bom mesmo. — Theo piscou para ele, assobiando enquanto subia as escadas de bom humor.
Do outro lado, Ruby, que havia acordado tarde, estava se espreguiçando na cama para aliviar a rigidez muscular. Quando olhou para si mesma, encolheu-se levemente, pois sua camiseta havia escorregado o suficiente para revelar todo o seu busto. Ela se lembrou de que, quando foi para a cama, estava completamente sonolenta. Se usasse sutiã para dormir, Ruby não conseguiria descansar, então sempre o tirava antes de ir para a cama. Mas, por causa da camiseta comprida que gostava de usar para dormir, o decote havia esticado tanto que revelava quase tudo. Mesmo assim, ela ainda preferia essa peça de roupa para dormir. Seu estado desgastado e folgado a fazia dormir muito mais confortavelmente do que qualquer um de seus pijamas novos.
Levantou-se, abriu bem a janela e respirou o ar da manhã. Gostava de olhar para o gramado da casa ao lado, com suas árvores grandes e pequenas, todas verdes e viçosas.
Acidentalmente olhou para o segundo andar da casa vizinha, sabia muito bem que o quarto de janelas sempre fechadas e cortinas cerradas era o dele. Se o Chris abrisse a janela agora, seus olhos provavelmente se encontrariam.
— Que pensamento bobo, Ruby. O Chris não tem tempo pra ficar fazendo guerra de olhares como na infância.
Naquela época, as janelas das duas casas ficavam na mesma altura. Muitas vezes, quando Chris abria a sua, via Ruby fazendo caretas e rindo do outro lado.
Ao lembrar, ela passou os dedos pelos longos cabelos ondulados, tentando domá-los.
Sabia que antes que a governanta de Paula voltasse, ela e a mãe precisariam limpar a casa mais duas vezes.
Tomou um banho rápido, vestiu-se e desceu para encontrar Amber.
— Já está aqui? Preparei umas sobremesas pra você provar antes da refeição. — Disse Amber, ajeitando a mesa do café da manhã e colocando doces diante da filha.
— Eu queria te ajudar, mãe, mas acabei acordando tarde.
— Não tem problema, Ruby. Já estou acostumada. Hoje nem teve muitos pedidos, então terminei rapidinho. Venha comer.
— Tá bom, mãe. Vou pegar uns ovos pra você. — Ruby correu até o fogão e colocou o ovo no prato da mãe, de olho no pudim de coco.
— Mãe, você fez pudim de coco dois dias seguidos?
— Sim. Só pediram pudim de coco esses dias, então fiz de novo. Mas mudei o recheio.
— Aqui está seu ovo, mãe. — Ruby colocou o prato diante dela. Olhou com admiração para a comida e fechou os olhos, inspirando o aroma profundamente.
— Está agindo como se nunca tivesse comido minha comida, Ruby. Que expressão é essa?
As palavras da mãe despertaram uma pontada de culpa na filha.
— Faz tanto tempo que não venho te ver, mãe... você está brava comigo?
— Não estou brava. De qualquer forma, ainda nos vemos quase todos os dias.
Amber e a filha mantinham contato regularmente por meio de videochamadas. Ela visitava a filha apenas ocasionalmente, mas nunca ficava na casa do ex-marido. Em vez disso, hospedava-se em um hotel e deixava a filha levá-la para passear, para não causar nenhum desconforto à nova família do ex-marido.
— Ah, o Theo veio aqui te ver há pouco.
— Theo? Aquele Theo? — Ruby estreitou os olhos, desconfiada.
Normalmente, eles nunca se davam bem. Por que ele viria vê-la?
— Sim. Disse que queria te ver, mas eu falei que você ainda estava dormindo. Então ele se despediu e foi embora.
— Aposto que veio arrumar confusão comigo. — Murmurou Ruby.
— Vocês não se veem há sete anos, e ainda acha que ele veio brigar? Não acredito, Ruby.
— Você não conhece o Theo, mãe. Ele praticamente me odeia. Se veio até aqui, é porque planejava causar encrenca.
Ruby estava bastante confiante em seus pensamentos negativos.
— Não pense assim, querida. Acho que ele só quis fazer uma visita. Até o convidei pra comer sobremesa, mas ele disse que estava com pressa.
— Ótimo. Nem queria ver ele mesmo.
— Tudo bem, se não quer vê-lo, não precisa. Vamos continuar comendo.
— Tá bom, mãe.
Aquela refeição matinal estava repleta do carinho entre mãe e filha. Há quanto tempo Ruby não sorria de coração como sorriu hoje? Ela já havia decidido que, a partir de agora, dedicaria sua vida a cuidar da mãe e a preservar essa felicidade pelo máximo de tempo possível.