— Ai! — Ruby caiu desajeitadamente depois de pular, terminando estatelada de costas no gramado. Só então percebeu — tarde demais — que o lado da casa de Chris não tinha uma cadeira para subir, como o dela. A queda doeu, mas ela se levantou devagar e foi buscar a bola.
— Flynn, está me ouvindo? — Gritou de volta.
— Estou ouvindo! — Respondeu Flynn, gritando também.
— Vou jogar a bola pra você, então, esteja pronto para pegá-la!
— Sim! Joga para cá!
Ansioso, Flynn se posicionou para pegar a bola enquanto ela voava alto por cima do muro. No entanto, sua mira falhou; a bola rolou para outro canto. O garotinho correu atrás dela, e depois voltou apressado, com os olhos brilhando, para esperar por sua linda irmã.
— Espera um pouquinho, está bem? Primeiro eu preciso achar um jeito de subir de volta. — Ela gritou para Flynn, que estava parado do outro lado.
— Está bem.
Ruby pulou e tentou se agarrar à viga no topo do muro. Cada vez que tentava escalar, escorregava e caía na grama. Tentou várias vezes, com Flynn gritando do outro lado, insistindo que ela estava quase lá. Prendendo a respiração, ela pulou, se esforçou para alcançar a viga, mas sua mão escorregou e ela caiu mais uma vez.
— Ai, não!
Em vez de cair no chão, seu corpo aterrissou em segurança nos braços de alguém. Lentamente, ela abriu os olhos, apenas para sentir seu coração disparar ao ver o rosto de Chris a poucos centímetros de distância. Chris balançou a cabeça em sinal de exasperação antes de colocá-la gentilmente no chão.
— O que você tá fazendo aqui? — Perguntou Chris, com um tom que mais parecia uma bronca, o olhar fixo nela como se fosse a culpada da situação. E, bem, invadir o quintal dos outros era errado.
— A bola caiu no seu quintal. Eu bati, mas você não tava em casa. Não tinha carro, então eu...
— Ninguém em casa, é? Você tentou tocar a campainha?
"Você se meteu numa boa agora, Ruby."
— Não... não toquei.
— Da próxima vez, toca a campainha, entendeu? A mamãe e o Theo saíram, e o meu carro tá na oficina. Se você continuar entrando assim na minha casa, posso te denunciar por invasão, Ruby. — Repreendeu ele, transformando isso em um assunto sério.
— Eu sempre subia o muro, antigamente... — Murmurou ela baixinho.
— Ruby, você está aí? — Gritou Flynn do outro lado, e Ruby se deu conta de que tinha deixado o garotinho sozinho.
— Que voz de criança é essa? — Perguntou Chris, erguendo as sobrancelhas.
— Ah... é o filho do Tucker. Ele deixou o menino com a mamãe pra ela cuidar.
— Tucker, o vizinho do lado? — Perguntou Chris, surpreso. Era novidade pra ele que Amber cuidava de crianças.
— Chris, posso usar uma cadeira pra subir de volta? — Ela pediu, esperançosa.
— Não.
— Por quê? Não dá pra deixar uma criança sozinha.
— Quando eu disse não, quis dizer que você vai voltar pela porta da frente, e não escalando o muro pra quebrar a perna desse jeito. Grita pro garoto esperar. — Disse ele, com um tom meio de comando.
— Flynn, espera aí! Eu vou dar a volta pela frente! — Gritou Ruby.
— Está bem.
Então, o jovem proprietário teve que acompanhá-la até a porta da frente, mas Chris não parou por aí. Ele chegou a seguir Ruby até dentro da casa dela.
— Só quero ver a cara do garoto. — Ele deu uma explicação curta e grossa. Não era como se ele realmente quisesse conversar com ela. Ruby tentou se controlar, recusando-se a deixar seus pensamentos divagarem ainda mais.
— Flynn, esse é o Chris. — Ela os apresentou para que os dois homens de idades diferentes pudessem se conhecer. O menininho levantou a mão e cumprimentou Chris de forma adorável.
— Eu não sabia que a Amber também cuidava de crianças.
— Nem eu, acabei de descobrir. Quer se sentar? — Ruby apontou para as cadeiras do jardim.
— Pode ser.
— Flynn, vai sentar com o Chris enquanto eu pego umas sobremesas pra vocês.
— Está bem, Ruby. — Flynn, Obediente como sempre, foi sentar-se calmamente ao lado de Chris enquanto a jovem dona da casa se apressava para a cozinha. Quando avistou os enroladinhos de salsicha da mãe, rapidamente os trouxe para que as duas pudessem saboreá-los.
— Chris, esses são enroladinhos de salsicha. A mamãe fez pra mim, mas são muitos. Eu não vou conseguir comer tudo sozinha.
— Oh! — Chris olhou o prato à frente, mas não comeu de imediato.
— E esse é pra você, Flynn. Aqui tem refrigerante vermelho pra tomar com os lanches. Sabe como comer?
— Sei.
— Então põe a bola no chão e vem lanchar. — Ela tirou a bola das mãos do menino e olhou curiosa para o vizinho.
— Chris, pra você tem só água, tudo bem? Eu não comprei suco.
— Tudo bem, não estou com sede. — Respondeu ele, deixando Ruby sem reação. Ela preferiu se concentrar em Flynn.
— Come bastante, ok? Senão, quando seu pai voltar, vai achar que eu não cuidei direito de você.
— Sim. — Flynn pegou um garfinho e levou um enroladinho à boca, feliz. Ruby também comeu um, olhando de relance para Chris, que permanecia calado.
— Aliás... por que você veio, se nem pretende conversar?
O ar ficou pesado de constrangimento. Chris parecia muito mais sério do que antes, tão sério que Ruby mal ousava puxar assunto.
— Chris, você não vai comer? Está gostoso. — De repente, o menino perguntou a Chris. Ruby sentiu uma alegria secreta por alguém ter perguntado por ela, e o canto da sua boca se curvou em um pequeno sorriso de satisfação diante da pergunta inocente de Flynn.
— Então vou provar um. — Disse Chris, para não decepcionar o garoto. Pegou um enroladinho com o garfo e deu uma mordida.
— Está gostoso?
— Está sim, tão bom quanto você disse. — Chris deu um largo sorriso para Flynn, mas voltou a ficar sério ao olhar para ela. Por quanto tempo ele continuaria com essa atitude severa? Desse jeito, será que ela sequer ousaria se aproximar novamente?
Depois de um tempo, Flynn terminou de comer, satisfeito. Chris também parecia mais relaxado. Conversou com o menino de um jeito divertido, sem quase olhar para Ruby. Quando terminaram os lanches, os dois começaram a jogar bola no quintal. Ruby lavou os pratos na cozinha e depois voltou para observá-los, sorrindo.
Houve vários momentos em que Flynn pulava e se agarrava às pernas de Chris, e Chris o balançava com cuidado. Ruby secretamente imaginava-se sentada observando o marido e o filho brincando juntos. Ela ficou ali sorrindo para si mesma como uma boba até que ele a olhou com um olhar severo, e seu sorriso desapareceu gradualmente.
— Ruby. — Chamou Chris depois de um tempo.
— Sim, Chris?