Paula voltou para casa à noite trazendo comida para os dois filhos. Ela acabara de saber que Chris havia tirado o dia de folga. Theo, o filho mais novo, também havia voltado para casa naquele dia, depois de passar vários dias escondido com alguma garota bonita desconhecida.
— Chris, você estava em casa esta manhã. Viu ela? — Perguntou a mãe, com uma expressão animada.
— Ela? Quem? — Perguntou Theo, mastigando seu bife.
— A Ruby. Lembra dela? A filha da Amber, nossa vizinha. Voltou a morar com a mãe. Acabei de saber pela Amber que o pai da Ruby faleceu. Ruby deixou a casa e as terras para a nova esposa dele e decidiu voltar para viver com a mãe aqui.
Ao ouvir isso, o belo Theo imediatamente se divertiu. Virou-se rápido para encarar o irmão mais velho.
— Chris está encrencado, com certeza. Aquela encrenqueira voltou, nossa casa pacífica está condenada.
— Theo, como você pode dizer isso da Ruby? Ela cresceu, Theo. Já não é mais a garotinha que vivia correndo atrás do seu irmão.
— Mãe, aquela Ruby é um diabinho. Finge ser educada, encantadora e adorável na sua frente, mas se visse quem ela realmente é, ficaria horrorizada. Eu já vi muitas vezes. Não é, Chris? — Theo virou-se e piscou para o irmão.
— Não tenho certeza. Vamos ter que esperar pra ver. — Respondeu Chris.
Naquele momento, ele ainda não conseguia entendê-la, sete anos haviam se passado, e tudo havia mudado.
— Ah, Chris, você fala como se não conhecesse aquela menina. Tome cuidado, só não deixe ela entrar no seu quarto, ou com certeza vai acabar com dor de cabeça.
— Theo, por que fala assim da Ruby? Deixe isso pra lá e coma.
Paula não conseguia repreender o filho o suficiente. Cortou o assunto rapidamente, garantindo que focassem na comida em vez de fofocar sobre a filha da vizinha.
— Mãe, você realmente... nunca percebe os truques da Ruby.
Murmurou Theo baixinho para o irmão mais velho, enquanto a mãe continuava a lançar olhares vigilantes para os dois.
— Eu sei, Theo. Já vi de tudo. A Ruby, na verdade, é bem adorável, não é tão travessa quanto pensamos.
— E daí? A mamãe realmente não consegue acompanhar os joguinhos da Ruby.
— Chega, Theo. Pare de falar dos outros e coma. — Chris ajudou a mãe a repreendê-lo.
Ele entendia o irmão, mas também sentia pena da mãe, que sempre caíra nas artimanhas de Ruby.
Depois do jantar, Theo jogou "pedra, papel e tesoura" com o irmão e perdeu. O perdedor tinha que lavar a louça. Chris não deixou que a mãe fizesse isso por eles, o que lhe deu um tempo livre para conversar com ela.
— Chris, posso te perguntar uma coisa?
— O que foi, mãe? Por que de repente? — Perguntou ele, franzindo a testa, curioso.
— É sobre a Ruby.
— Por quê? — Chris se perguntou quando Ruby havia voltado a dar trabalho à mãe.
— Já faz tantos anos, querido. O que quer que a Ruby tenha feito de errado, tente esquecer. Acho que agora ela já é adulta o suficiente para saber o que é certo e errado.
— O que quer perguntar, mãe?
— Poderia ser gentil com a Ruby, como quando eram crianças? Poderia não guardar ressentimento, querido? Tenha um pouco de compaixão, o pai dela acabou de morrer.
— Não sei, mãe. Se a Ruby ainda for a mesma de antes, não sei se consigo ser gentil com ela. — Respondeu Chris, meio conformado, meio relutante.
— Abra seus olhos e o coração, e veja quem Ruby é agora, querido.
— Eu vou tentar, mãe.
Ele sorriu, mas sem prometer que conseguiria ser afetuoso de imediato. A raiva e o ressentimento ainda estavam lá, enraizados. No passado, Ruby o exasperava tanto que ele vivia cansado de precisar se conter o tempo todo.
Theo, com vinte e oito anos, após se formar, juntou-se ao irmão na empresa da família, que lidava com produtos relacionados à boa forma física. Ele acabou se tornando modelo da própria empresa, já que seu físico combinava perfeitamente com os produtos.
Por causa disso, ficou até mais conhecido do que o irmão mais velho, que preferia atuar nos bastidores.
Antes, Theo sentia ciúmes de Chris por causa de Ruby, ele se encantava com a doçura dela. Mas Ruby o ignorava constantemente. O que começou como afeição se transformou em antipatia. Passou a prestar atenção em tudo que a irritava, frustrava ou magoava e achava divertido fazê-lo.
Ruby havia desaparecido da vida deles por sete anos. Agora que ela estava de volta, Theo se sentia tentado a provocá-la, a fazê-la engolir o orgulho.
Afinal, ele era bastante atraente e sabia disso. Flertar com ela e depois descartá-la seria, no mínimo, divertido.
— Você me tratava como se eu fosse um estorvo. Vamos ver quem ri por último.
O homem, confiante em seu charme, já tramava travessuras. No dia seguinte, foi bater na porta da casa de Amber.
— Olá, Amber.
— Theo, veio tão cedo. Aconteceu alguma coisa? — Amber ficou surpresa. Theo quase nunca aparecia desde que sua linda filha fora morar com o pai.
— Ouvi dizer que a Ruby voltou pra cá, então vim fazer uma visita. Ah, e minha mãe pediu pra eu trazer o pagamento da faxina.
Na verdade, Paula não havia pedido nada; foi o próprio Theo quem ofereceu o dinheiro da mãe.
— Obrigada. Entre. Ruby ainda não acordou. Deve estar exausta depois de limpar tudo sozinha ontem. Eu estava até pensando em dar uma parte do pagamento pra ela.
— Certo. — Theo pareceu um pouco decepcionado por não vê-la, mas não deixou de se surpreender com o fato de ela estar fazendo tarefas domésticas. Em sua memória, Ruby era uma garota mimada, que nunca pegava numa vassoura. Agora, queria vê-la com as próprias mãos limpando a casa.
— Quer entrar, Theo? Estou preparando umas sobremesas para os clientes. Quer provar um pouco?
— Ah, não, obrigado, Amber. Tenho umas coisas pra resolver. Venho outro dia provar suas sobremesas, tudo bem?
— Claro, venha quando quiser, como nos velhos tempos. Será um prazer recebê-lo.
— Obrigado. Eu vou indo. — Theo acenou e saiu.
Amber sorriu suavemente. Já fazia muito tempo desde que as duas famílias se visitavam como antes. Talvez fosse a diferença de status social, ou talvez as mudanças nas relações entre os filhos. Todos haviam crescido, e os laços haviam se enfraquecido.
Mas agora, com o retorno da filha, Amber sentia que os fios entre as duas casas começavam a se entrelaçar novamente.
Theo voltou para casa desapontado por não ter visto Ruby. Encontrou o irmão sentado na sala, assistindo TV, e foi conversar.
— Chris, onde está a mamãe? Não vi o carro dela desde cedo.
— É o dia de folga dela. Foi ao clube com as amigas. Parece que hoje tem uma atividade beneficente com crianças carentes.
Respondeu Chris, ainda com os olhos na televisão.
— Dia de folga e nada pra fazer. Que tédio.
— Você está estranho hoje. Em casa o dia inteiro? Normalmente está cheio de planos com garotas.
— Nenhuma delas está interessante ultimamente.
— Já enjoou?
— Talvez. Só encontro garotas que se grudam em mim como sanguessugas. Tão entediante.