01
Prólogo
Nova York
Naquela manhã chuvosa, estava tão cansada da vida de desempregada. Mamãe Célia estava eufórica por me ver sempre no quarto. Até a comida era levada para lá. Os suspiros abafados eram ouvidos no corredor, até que minha amiga Thais me chamou para ir a uma festa do condomínio. Todos estavam lá. Até o homem mais gato, Bento, o meu melhor amigo. Ele era divertido e me fazia rir de vez em quando. Thais era apaixonada por ele, mas, enfim, aquele idiota não gostava dela. Me enrolei no cobertor e fui dormir novamente. Fui interrompida, e a coberta foi tirada do meu corpo. Olhei para cima; era papai Gregório. Não estava legal, meu corpo só queria estar naquela cama.
— Levanta, temos que ir à igreja.
— Hoje não, preciso estar enrolada nesse frio, papai.
— Noah, agora! É uma ordem, eu sou o seu pai.
— Papai, não sou mais uma criança. Tenho vinte anos e sei o que quero.
— Enquanto estiver no meu teto, irá me obedecer. Estou esperando lá embaixo.
— Que droga! Preciso de espaço. Uivei.
Levantei com o cabelo desgrenhado e fui ao banheiro tomar um banho. Olhei-me no espelho, me vi abatida e pálida. Estava sem cor, precisando de ferritina urgentemente. Com a anemia no auge. Liguei o chuveiro e fiquei lá por um tempo, sentindo a água cair na minha pele. Estava muito magra pelos dias sem comer. Realmente, a minha vida era aquele quarto depois que me demiti do restaurante da cidade. Aqueles donos eram um caos, viviam brigando, xingando e até mesmo prestando atenção na vida dos outros. Lembrei-me de que havia um currículo para enviar a uma empresa muito famosa da cidade de Montevidéu. Dei de ombros e saí do banho para me vestir. Abri meu guarda-roupa e deparei com roupas usadas, que usei repetidamente. Coloquei meu "vestido de guerra", o único comportado, longo e sem decote. Revirei os olhos por viver naquela situação. Penteei os meus cabelos longos e castanhos. Olhei-me novamente no espelho, colocando o batom vermelho cereja. Deixava meus lábios carnudos e não roxos, sem sangue. Dei um sorriso, observando meus dentes brancos.
Saí do quarto e fui para a sala. Mamãe e papai tomavam o café da manhã em silêncio. Afastei a cadeira e me sentei. Gregório pediu que eu comesse o mais rápido possível. Comi no meu tempo e sem pressa. Bento acabara de chegar e o convidei para tomar o café conosco. Ele negou de imediato. Bento sentou-se ao meu lado e deixou exalar o seu perfume. Ele, por ser meu amigo, era lindo e com um corpo exuberante. Bento era loiro, tinha olhos azuis e dentes amarelados pelo uso de cigarro. Todas as garotas eram loucas por ele. Não sabia qual era a razão. No ensino médio, todas queriam ficar com ele, e, mais uma vez, Bento dizia que não sentia vontade de ficar com elas.
— Noah, vamos, precisamos ir à igreja. Sei que não é fiel à igreja, por isso terá que fazer a sua parte.
Revirei os olhos e me levantei imediatamente. Não demorou muito para papai receber uma ligação da empresa de Elói. Sabia que meu pai trabalhava nessa empresa, e eu o admirava pelas revistas e jornais, o quão Elói era elegante e lindo. Papai olhou para mim e sussurrou:
— Mudanças de planos, não iremos mais à igreja. O senhor Elói está vindo de Miami e quer uma secretária para hoje, então... você é a secretária.
— Eu, papai?
— Sim, Noah, você.
Dei de ombros e concordei com ele. Levantei-me, me despedi de Bento e saí o mais rápido possível. Papai entrou no banco da frente e meu amigo abriu a porta do carro para que eu entrasse no banco de trás. Aquele olhar voltou para mim; percebi que não era de amizade. Eu o enxergava como um irmão. Sorri para disfarçar, colocando o cinto de segurança. Naquela manhã chuvosa de sábado, minha vida iria mudar. Precisava de um emprego para mudar radicalmente a vida da minha família.
No caminho, o trânsito estava um caos em Montevidéu. Os motoristas impacientes não evitavam os seus palavrões. Revirei os olhos, estava enojada pela falta de educação. Faltavam dois quarteirões para chegar à empresa do senhor Elói. Estava curiosa para conhecê-lo pessoalmente. Ao estacionar o carro, Bento saiu para abrir a porta. Agradeci e me despedi mais uma vez de Bento. Papai pediu que eu não me atrasasse e fui correndo, feito uma criança boba.