As luzes da balada piscavam em tons de vermelho e azul, acompanhando o ritmo pulsante da música que ecoava como um coração acelerado. Corpos se moviam ao som da batida, copos tilintavam, risos escapavam por entre a fumaça artificial, e no meio de tudo isso… estava ela.
Dominic encostou-se ao balcão com um copo de uísque na mão, o olhar cravado nela como se o resto do mundo simplesmente tivesse deixado de existir. — Você tá obcecado ou apenas entediado? — provocou Donavan ao seu lado, erguendo a sobrancelha ao notar a concentração do amigo. — Porque não é comum te ver tão fixado em alguém. Dominic não respondeu. Apenas ergueu o copo até os lábios, sem tirar os olhos da mulher que dançava no meio da pista. Cabelos soltos, expressão entregue, movimentos sensuais sem serem vulgares. Ela não dançava para chamar atenção, mas por estar sentindo a música… como se naquele instante nada mais importasse. Ele não sabia seu nome ainda, mas já sentia que era dela que viria o caos. A paz nunca o atraiu — e ela parecia carregar o tipo de tempestade que ele sempre procurou. Na pista, Sofia girava com o drink na mão até puxar a amiga pelo braço. — Bela, aquele cara no balcão tá te comendo com os olhos — disse rindo, inclinando-se ao ouvido de Isabella. — Qual deles? — Isabella perguntou, abrindo os olhos com curiosidade. — O moreno com cara de má notícia — Sofia sussurrou. — Eu vi ele chegando com outro cara, tipo aqueles homens que você vê em filme de máfia. Ele não tirou os olhos de você desde que entramos. Isabella riu, balançando a cabeça, mas sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Era como se... já estivesse sendo observada há muito tempo. E estava. — Vai ficar aí babando ou vai lá? — Donavan insistiu, rolando os olhos com leve deboche. Dominic sorriu de canto, aquele sorriso torto e perigoso que costumava vir antes de fazer algo impensável. — Eu não preciso ir até ela — respondeu. — Ela vai me sentir antes mesmo de me ver. Antes que ele fizesse algo, Donavan sussurrou em seu ouvido, então ele deixou o copo sobre o balcão e caminhou entre as pessoas como se a multidão abrisse caminho por instinto. Seu olhar não se desviava. Cada passo era medido, silencioso, como um predador que se aproxima da presa sem pressa… mas com plena certeza do que fará. Isabella continuava a dançar, os olhos fechados, os braços erguidos, a pele levemente suada pelo calor do ambiente. Ao seu lado, Sofia sorria, até se afastar um pouco e deixá-la sozinha por um instante. Dominic parou a poucos centímetros dela, tão perto que podia sentir o perfume adocicado e envolvente que ela exalava. Ainda assim, não tocou. Apenas observou, absorvendo cada detalhe, como se estivesse decorando o desenho da sua silhueta. E então... ela o viu. O olhar dela encontrou o dele com a força de um choque elétrico. Isabella estremeceu levemente, sem saber explicar a sensação estranha que a percorreu. Ele era alto, imponente, com olhos que pareciam enxergar além do que deveria. E aquele sorriso... carregava promessas e ameaças em igual medida. — Boa noite — disse ele, com a voz grave, rouca, baixa demais para ser ouvida por qualquer outra pessoa. Ela o olhou de cima a baixo, intrigada, sem esconder a surpresa. — Te conheço? — Ainda não. Mas vai conhecer. Isabella arqueou a sobrancelha, cruzando os braços de leve, como quem tenta se proteger do impacto de um homem como aquele. — Essa é sua abordagem? Simples assim? — Não preciso de floreios. Quando eu quero algo... eu simplesmente vou atrás — Dominic respondeu, dando um passo mais próximo, invadindo ainda mais o espaço dela. — E eu quero você. Sofia, notando a aproximação, se aproximou um pouco, como quem já pressentia que algo ali estava fora do comum. — Tá tudo bem, Isa? Isabella assentiu lentamente, mas seus olhos ainda estavam presos nos de Dominic. Ele parecia ter um poder invisível, um magnetismo estranho, uma escuridão atraente da qual ela não conseguia desviar. — Tudo bem, Sofia — respondeu, tentando soar firme. Dominic aproveitou a interrupção para se afastar levemente, mas não sem antes inclinar-se ao ouvido de Isabella. — Nos vemos em breve, Isabella Moretti. Ela arregalou os olhos com surpresa. Como ele sabia seu nome? Quando virou-se para perguntar, ele já havia se afastado, sumindo entre os corpos dançantes com Donavan ao seu lado. — Sofia… — Isabella murmurou, ainda paralisada. — Eu nem falei meu nome pra ele. Sofia a olhou, confusa. — Como assim? — Ele me chamou pelo meu sobrenome. Sofia franziu a testa, agora também desconcertada. — Você deve ter falado antes, sem perceber... Mas Isabella sabia que não. Dominic sabia quem ela era. E, de algum modo, já havia decidido que ela seria dele. Ainda sob o efeito do impacto que Dominic causara, Isabella tentou voltar a se concentrar na música. Sofia, já mais solta com as doses de tequila, puxava a amiga para dançar, rindo alto como sempre fazia quando o álcool começava a fazer efeito. Isabella sorriu, deixando-se levar novamente. Não queria pensar demais naquela sensação estranha que dominava seu corpo desde o encontro com aquele homem misterioso. As duas continuaram dançando e se divertindo como se nada tivesse acontecido. Bebiam, riam, dançavam. Mas havia algo diferente naquela noite. Um clima silencioso e estranho se espalhava ao redor delas. Nenhum outro rapaz da balada ousava se aproximar. Era como se uma aura de alerta pairasse sobre Isabella desde o instante em que Dominic se aproximara. Mesmo Sofia notou. — Estranho, né? — comentou entre goles. — Hoje os caras sumiram... Será que estamos tão lindas assim que ficaram intimidados? Isabella apenas deu de ombros, tentando parecer despreocupada, mas a verdade é que, no fundo, ela sabia o motivo. Dominic havia marcado território. Sem dizer mais nenhuma palavra, apenas com o olhar. Horas se passaram entre danças e bebidas. Quando já não conseguiam mais manter o equilíbrio, decidiram que era hora de ir embora. Saíram cambaleando da balada, apoiando-se uma na outra, rindo feito adolescentes. — Táxi! — gritou Sofia, quase tropeçando no salto. Um carro parou, e elas entraram no banco de trás como se estivessem fugindo da realidade. Durante o trajeto, Isabella encostou a cabeça no ombro da amiga, ainda sentindo aquela sensação estranha no peito, como se estivesse sendo vigiada. Chegaram ao prédio e, com alguma dificuldade, conseguiram abrir a porta do apartamento. Rindo, tropeçando nos próprios sapatos, trancaram a porta e caíram exaustas sobre o enorme tapete da sala. — Vamos dormir aqui mesmo... — murmurou Sofia, já com os olhos pesados. — Uhum... — Isabella concordou, quase sussurrando. Antes de apagar completamente, Isabella sentiu um arrepio na nuca. Por um breve segundo, teve a nítida impressão de que estava sendo observada. Na sua mente enevoada, viu a sombra de Dominic diante da sacada, como um vulto escuro em silêncio. Mas quando abriu os olhos de verdade... não havia nada. E então, finalmente, dormiu.O sol atravessava as cortinas pesadas da sala, insistente como se zombasse da ressaca que tomava conta do ambiente. No sofá, entre almofadas jogadas e garrafas vazias de água, Sofia gemeu alto, apertando as têmporas com as pontas dos dedos.— Ah, minha cabeça... — murmurou, a voz rouca e pastosa. — Por que a tequila parece tão legal na hora e tão maldita no dia seguinte?Com os olhos semiabertos, ela virou o rosto devagar, tentando entender onde estava. Quando reconheceu a sala de Isabella, soltou um suspiro cansado. Seus olhos caíram sobre a amiga, ainda dormindo ali do lado, com a boca entreaberta e a maquiagem completamente borrada, deixando marcas escuras ao redor dos olhos.— Olha só quem virou um panda durante a noite... — disse, soltando um riso fraco.Ela se jogou novamente no sofá, escondendo o rosto no travesseiro, quando de repente a campainha começou a tocar com insistência. Uma, duas, três vezes. Sofia grunhiu.— Não... não, por favor...A campainha tocava como uma marret
Enquanto Isabella permanecia mergulhada num sono profundo, abraçada ao lençol e ainda vestindo a roupa da noite anterior, Sofia se movimentava pela cozinha com passos preguiçosos, mas decididos. O cheiro de arroz recém-cozido e tempero caseiro começava a invadir todos os cômodos, dançando no ar até alcançar as narinas de quem estivesse por perto. Ela cantarolava baixinho, tentando afastar a dorzinha teimosa da cabeça que a ressaca ainda insistia em manter.Preparava-se para acordar Isabella com um prato de comida na mão quando a campainha tocou. O som fez seus olhos se estreitarem, e ela olhou na direção da porta com uma expressão indignada.— As pessoas aqui de Sicília já foram mais educadas — resmungou em voz alta. — Antes, ao menos perguntavam se podiam fazer uma visita. Hoje, simplesmente batem na porta como se morássemos numa república.Mesmo contrariada, seguiu até a porta, limpando as mãos num pano de prato jogado sobre o ombro. Quando espiou pelo olho mágico, o aborrecimento d
Sentado em sua poltrona de couro, Dominic girava lentamente o copo de uísque entre os dedos. O líquido âmbar dançava sob a luz baixa do escritório. Do outro lado da sala, Donavan observava em silêncio, os olhos sempre atentos, como o escudeiro fiel que era.— Dominic… — disse Donavan por fim, quebrando o silêncio. — Não é hora pra distrações. Ainda estamos tentando descobrir quem foi o filho da mãe que roubou nossa carga. Temos homens a interrogar, rastros a seguir, e traições pra cortar pela raiz.Dominic não respondeu de imediato. Levantou-se lentamente, levou o copo aos lábios e tomou o restante do uísque de uma só vez. O gelo tilintou no fundo.— Não são distrações — disse com voz firme. — Não se trata de "mulheres", Donavan. Trata-se dela… Isabella.Donavan ergueu uma sobrancelha, franzindo a testa.— Então é sério…Dominic caminhou até a janela e olhou para os jardins da mansão.— Mas não se engane — continuou ele. — Minha prioridade será sempre a famiglia. Eu não me distraio. E
O silêncio entre Dominic e Donavan à mesa era denso. O jantar havia esfriado, e a tensão do telefonema ainda pairava no ar. Dominic girava o copo de uísque com lentidão, os olhos fixos em um ponto qualquer da toalha branca.Foi quando um lampejo cortou sua mente como uma lâmina: Isabella.— Merda... — murmurou, passando as mãos pelo rosto.Donavan o observava com o canto dos olhos, e um sorriso debochado surgiu no rosto dele.— Pior que um tiro... é uma mulher esquecida.Dominic soltou um riso abafado, mais de frustração que de humor.— Com tudo isso... eu simplesmente esqueci que ela estaria me esperando. — Ele se levantou num ímpeto, jogando a guardanapo sobre a mesa. — Vamos. Ainda dá tempo de salvar essa noite.Donavan ergueu-se em seguida.— Isso se a noite não decidir te matar antes.Ambos caminharam para fora do restaurante. O ar noturno estava pesado, quase como um presságio. A brisa carregava um cheiro distante de gasolina e pólvora — ou talvez fosse apenas paranoia. O Knight
As paredes da casa estavam silenciosas demais para uma noite de Domingo na Sicília. Isabella caminhava pela sala com passos lentos e inquietos, lançando olhares constantes para o relógio pendurado na parede. Os ponteiros marcavam exatamente meia-noite. Ela suspirou fundo, frustrada.— É claro que ele não vem... Homens como ele só aparecem quando querem! — murmurou para si mesma.Sofia havia saído mais cedo com Roberto para uma festa de algum conhecido da família, deixando Isabella sozinha com os pensamentos e a espera. A jovem não fazia ideia do que havia acontecido com Dominic, e isso a deixava ainda mais irritada do que a sua ausência em si.Sentindo o estômago roncar de fome, ela foi até a cozinha e abriu a geladeira. Vasculhou por alguns minutos, fazendo caretas para as sobras de comida ou para os ingredientes que exigiriam tempo e paciência que ela não tinha. Resignada, pegou o celular e ligou para a sua pizzaria favorita.— Uma marguerita grande, por favor. E pode colocar bastan
Dominic despertou com um incômodo no ombro esquerdo. O ferimento ardia levemente, lembrando-o dos últimos acontecimentos. Levantou-se devagar, sentindo o lençol colado à pele pelo suor da noite mal dormida. Passou a mão pelo rosto, tentando dissipar o cansaço e a dor que se misturavam em silêncio. Pegou o celular na escrivaninha ao lado da cama e, ao ver o horário — 9:00 — soltou um suspiro impaciente.Dirigiu-se ao banheiro e girou o registro do chuveiro. A água quente deslizava sobre sua pele como uma tentativa de apagar os rastros da violência da noite anterior. Ficou ali mais tempo do que o habitual, em silêncio, com os olhos fechados, como se esperasse que a água levasse embora o peso em seus ombros — e não apenas o físico.Ao sair, vestindo apenas uma toalha, Dominic encontrou Donavan sentado na poltrona no canto do quarto. Ele segurava um copo de água e uma cartela de remédios. Sem dizer nada de imediato, Donavan se levantou, estendeu o copo e os comprimidos ao amigo e o cumpri
Dominic saiu do carro com passos firmes, o sol da Sicília se escondia atrás de nuvens pesadas, anunciando o mau presságio que ele já sentia no ar. O prédio onde ficava seu escritório era afastado do centro da cidade, discreto por fora, mas fortemente protegido. Era ali que decisões importantes eram tomadas, longe dos olhos curiosos da sociedade.Donavan andava ao lado dele, observando tudo ao redor. Assim que entraram no hall de entrada, Dominic ajeitou os punhos da camisa branca impecável e soltou um suspiro de tédio misturado com tensão. Ele não gostava de reuniões, mas sabia que parte de ser líder da famiglia era ouvir reclamações e controlar egos inflados.— Preciso de alguns minutos, preciso resolver uma ligação urgente. — Donavan falou, afastando-se discretamente.— Tudo bem. Encontre-me lá dentro. — Dominic respondeu seco, já caminhando em direção à sala de reuniões.Ao abrir as portas pesadas de madeira escura, todos os olhares se voltaram
Mesmo com o cansaço do dia arrastando-se por cada músculo de seu corpo, Isabella não conseguia simplesmente se render ao silêncio da noite. Havia algo nela que insistia em sair, respirar, olhar para o mundo lá fora. Era como se o vazio do sofá e a quietude da casa estivessem pressionando demais seu peito. Depois de lavar o rosto e colocar um vestido simples, mas charmoso, ela pegou a bolsa e saiu sem rumo certo, apenas com a ideia de espairecer e talvez tomar um sorvete — sorvete de pistache, seu favorito desde criança. As ruas estavam tranquilas, mas vivas. Algumas famílias passeavam com suas crianças, casais andavam de mãos dadas como se o mundo inteiro se resumissem aos olhares que trocavam. Isabella caminhava devagar, saboreando cada colherada do doce gelado que comprara em uma pequena sorveteria de esquina. Sorriu ao ver um garotinho tentando esconder um brinquedo novo atrás das costas da mãe. Ela não pôde deixar de pensar: "Será que um dia terei isso? Uma famíli