ABRE ESSA PORTA

Angelina da Costa

A água fervente escorreu pelos meus dedos como se me despertasse da raiva que sentia por Frantesca, no instante em que os gritos ecoaram pelo corredor. A queimadura ardia, mas eu não me importei.

- Socorro! Pelo amor... ai...

A voz abafada parecia distante, mas o segundo grito gelou meus ossos.

- Você é tão suja quanto ele!

O copo escapou da minha mão e se espatifou no chão da copa. Meu corpo agiu sozinho - saí apressada, o coração disparado. Que diabos estava acontecendo?

O senhor Vicente estava em pé na recepção, mãos trêmulas segurando a velha pasta de couro.

- Nojenta!

A voz de Saulo explodiu como um trovão atrás da porta fechada. Corri até lá, os saltos afundando no carpete como se o próprio escritório tentasse me impedir.

- Saulo? SAULO!

Tentei girar a maçaneta. Travada.

De dentro, a voz de Frantesca escorreu como mel envenenado.

- Claro que sou. Sou tudo o que você quiser...

Meu estômago revirou. Bati com força na madeira, os nós dos dedos latejando.

- SAULO,
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