Explicar para três de quatro crianças o porquê de a mulher de cabelos loiros estar ali na casa deles, e mais, no quarto que era da mãe deles não era fácil. E ficou mais tenso quando contou que ela quase havia atropelado Alice, mas antes que as coisas se esquentassem, ele rapidamente defendeu a mulher. Apesar do susto, ela havia prestado socorro a sua filha. Havia percebido que eles tinham a atenção toda nele, o pai, e aproveitou para contar que a moça ficaria ali por aquele dia. Pelo menos achava que era só por aquele dia. Ela parecia atônita demais para ele questionar sobre.
Alice não disse uma palavra, o que não era uma surpresa, mas Asher foi o primeiro a perguntar sobre “Kylie”. A moça de cabelos loiros, como ele mesmo havia dito. Ele era extremamente curioso, então não era uma surpresa Nicholas escutar tantos questionamentos vindo do menino de seis anos. Ele queria saber tudo sobre a mulher. Inclusive se ela estava mesmo como uma princesa. Um dos garotinhos de oito — o que havia nascido primeiro e que havia pegado Kylie no quarto — respondeu pelo pai.
“Ela estava com aqueles vestidos bufantes e idiotas”
Claro que o pai brigou pela forma como ele se expressou. Um pouco surpreso, tinha de confessar, porque não esperava escutar palavras como aquelas de Micah, que era o mais esquentado dos gêmeos. Difíceis. Já tinham oito e pareciam mais maduros do que qualquer um na idade deles. Talvez pela morte da mãe. Depois do que houve, eles começaram a ser ainda mais protetores com os irmãos menores, e estavam sempre tentando ajudar o pai com o que fosse.
A discussão começou no instante seguinte. Seus filhos, todos juntos, começaram a falar ao mesmo tempo. Dois deles não aceitavam a mulher na casa, mesmo depois do que contou e o outro, sempre muito sensível, penalizado, apoiava ao pai. E enquanto Nicholas tentava acalmar os ânimos, Alice aproveitava para fugir dali. Ela queria muito encontrar a princesa de cabelos rosados novamente.
— Chega!
Não gritou, mas sua voz ficou um pouco exaltada.
— A decisão não é de vocês, é minha. Estou compartilhando-a, apenas.
Os gêmeos abriram a boca para retrucar, mas o pai foi mais rápido.
— A moça não está bem. Ela está triste, desamparada, e seja o que for que tenha acontecido, ela não quer ver a família. Deve ser algo sério, não concordam?
Os pequenos fizeram um biquinho enquanto o menorzinho deles dava um sorriso.
— Nós nunca demos as costas a outra pessoa, e não será dessa vez que faremos isso. Por mais que estejam chateados por ela estar onde está.
Os gêmeos cruzaram os braços.
— Ela ajudou a Alice, então não deve ser uma pessoa má, não é, papai?
— Ela parece ser uma boa pessoa. – Concordou com o filho, Asher. – Eu entendo que estejam... desconfiados. Compreendo, de verdade. Mas vocês me conhecem. Não faria isso se realmente não achasse que é o certo.
— A mamãe ajudaria também.
Nicholas não queria ter sentido aquelas palavras, mas foi impossível, e pelo jeito os gêmeos haviam sentido também. Eles não queriam demonstrar, mas sofriam todos os dias a falta que a mãe fazia. Não que Asher não sentisse, mas ele falava nela sempre, dizia boa noite a uma fotografia e estava sempre rezando para que a mãe cuidasse dele lá de cima. Os outros dois nem mesmo olhavam para a foto. E só ainda não havia retirado a única fotografia que ficava na sala — a maior delas e a mais linda —, porque era a preferida de Asher e Alice.
Enquanto Jonah e Micah se negavam a falar sobre, Nicholas, que sabia que era importante para Asher, se aproximou mesmo com o coração na mão, se abaixou diante dele e deu um sorriso fraco antes de concordar.
— Ela ajudaria, sim.
O menino deu aquele sorriso tão lindamente parecido com o da mãe.
— Onde está a Alice? – Micah questionou de repente, fazendo o pai olhar ao redor e perceber assim como ele e os irmãos, que a garotinha da casa havia sumido.
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Kylie ainda não havia conseguido retirar aquele vestido que escolheu com todo o carinho do mundo. Por um momento, não conseguiu nem mesmo se mexer. A cena de seu noivo com outra passava em sua mente como um filme. Se não tivesse visto com seus próprios olhos, não teria acreditado. Confiava fielmente em Luke. Sempre confiou. Não tinha ciúmes, não ficava irritada quando ele saía para beber, não se chateava quando ele não aceitava dormir com ela. Sempre havia sido boa demais. Para ele, ela era perfeita. Não queria causar nada que pudesse separar eles, então aceitava tudo. Sem brigas, sem discussões, sem ciúmes.
Quando decidiram se casar, ela se sentiu a mulher mais feliz do mundo. Achou que teria o homem mais perfeito. Mas estava enganada. Ele não era perfeito. E não era também confiável. Ele era um traidor mentiroso. E ela não conseguia deixar de pensar por quanto tempo havia sido trouxa. Traída enquanto estava em casa fazendo planos, organizando o casamento. Ela realmente deixou de viver para viver para ele. Sarah havia dito tanto que ela deveria viver antes de se entregar daquela forma.
A errada aquele tempo todo não era sua melhor amiga.
Suspirou longamente e foi retirando aquele vestido bufante, deixando-o cair sobre seus pés, juntinhos, amontoados. Deu um passo para o lado, para poder se ver livre daquele vestido de noiva e pegou o que foi escolhido pelo Cavendish. Um vestido de alças grossas e decote de coração. Ele era todo azul-claro com uma saia rodada e com um tule abaixo completando a peça. Havia ficado perfeito. Nem muito curto, nem muito longo. Era na medida. Amarrou a fita na mesma cor ao redor da cintura, fazendo um laço bonito nas costas e então soltou os braços ao lado do corpo.
O espelho mostrava ainda a maquiagem bem-feita. Perfeita. Escolhida após dias e dias a procura de algo que a deixasse ainda mais linda no dia mais perfeito de sua vida. Pelo menos era para ser. Aquele sonho havia virado um pesadelo. A tristeza agora havia se tornado raiva. Ela não merecia sofrer por aquele homem. Ele quem estava perdendo. Certo? Ela não tinha o porquê de chorar por ele.
Ainda estava triste, mas não choraria mais.
Molhou o rosto, limpou a maquiagem e soltou os cabelos, deixando-os cair como cascata. Passou a mão nos fios, incluindo a franja, e respirou fundo antes de sair daquele lindo e espaçoso banheiro.
— Oi, linda. – Cumprimentou ao encontrar a garotinha de antes. – Eu queria te pedir desculpas de novo. – Se aproximou, se abaixado diante dela. – Me perdoa? Eu juro que não queria te machucar.
A menina balançou a cabeça de acordo.
— Seu nome é Alice, certo?
Novamente, a pequena balançou a cabeça.
— E você tem quantos aninhos?
Ela mostrou os dedinhos. Cinco.
— Então já é quase uma mocinha.
A menina correu até a cama, sobre os olhos de Kylie e então voltou, mostrando a capa de uma revista, na qual ela estava, com um vestido vermelho.
— Quer saber se sou eu?
Alice balançou a cabeça, confirmando.
— Sim, sou eu.
Os olhos da criança brilharam.