Capítulo 5

— Alice. 

A menina se virou ao escutar ao pai, correndo até ele e mostrando a mesma capa antes de apontar para a loira. 

— É, eu sei, filha, é ela. 

Ela levou os bracinhos até o peito, demonstrando animação; seu sorriso mesmo mostrava o quanto estava animada por ter conhecido a mulher da capa de revista.

— Por que não vai comer? O lanche já está na mesa. 

Alice o olhou e então para a mulher de cabelos loiros antes de novamente olhar para o pai, fazendo-o compreender tudo com aquele simples olhar.

— Ela vai daqui a pouco. 

A criança levou um tempo, mas concordou. E antes de sair, correu até a loira, que percebeu rapidamente o que a menina queria; a abraçou e então a viu sair do quarto, deixando-a com o pai dela. 

— Ficou bem em você. 

Kylie piscou algumas vezes.

— O vestido.

— Perfeito. – Sorriu. – Obrigada. 

O primeiro sorriso, Nicholas pensou. 

— Desculpe por... ter causado problemas a você.

— Não se preocupe. 

— Eu não pretendo... ficar muito tempo. Eu só preciso organizar minha cabeça por hoje, e eu prometo...

— Está tudo bem, de verdade. 

Ela apenas balançou a cabeça.

— Eu já falei com as crianças. O que importa é você estar se sentindo melhor. 

— Bem, eu estaria mentindo se dissesse que sim. Mas eu agradeço por ter... me ajudado..., eu nem sei o que teria acontecido se eu...

Foi a vez dele de apenas balançar a cabeça. 

— Eu nunca dirigiria daquele jeito se não estivesse passando por alguma coisa. Eu só... não estava pensando direito. 

— Você parou o carro antes de machucá-la e a amparou mesmo nessas condições, então não precisa ficar se sentindo culpada. 

Kylie respirou fundo.

— Eu... fiquei curiosa sobre algo. A sua garotinha... ela... não fala nada mesmo? – Questionou, vendo-o suspirar.

— Infelizmente são raras as vezes que eu escuto a voz dela. Já fomos a tudo quanto é especialista, mas nada. Desde que... a mãe... – Pigarreou. – Bem, ela não fala. 

— Eu sinto muito.

Nicholas apenas balançou a cabeça.

— Bem, eu fiz um lanche. Você deve estar com fome.

— Na verdade... – Suspirou longamente. – Tudo que menos quero é comer. Mas eu quero uma água.

— Vamos descer. Assim você já conhece os irmãos da Alice.

**--** **--**

Kylie ficou e ainda estava totalmente desconfortável com os olhares dos gêmeos. Ela realmente não era muito boa com crianças, ainda que sua prima — Stella — tivesse gêmeos, assim como Justin, irmão dela. Havia ficado de babá uma vez só, e havia os perdido no shopping. Ficou tão desesperada, e se culpando tanto, que nunca mais ficou sozinha com uma criança. Ainda assim, amava muito os pequeninos. Eles eram sensíveis, inteligentes e eram tão inocentes. Mas sabia também que podiam ser bem complicados quando queriam. Assim como estava sendo com aqueles dois. Dois, porque apenas dois deles não estava nada feliz com sua “visita”. 

Havia decorado os nomes dos pequenos rapidamente. Os mais velhos, Micah e Jonah, o do meio, Asher e a mais nova, Alice. Lice, como ela mesma “pediu” para que a chamasse. Foi a primeira palavra depois de tanto tempo sem escutar sua voz: Lice. Corrigindo-a quando a chamou de Alice durante o lanche. Ela era extremamente fofa. Sentou-se ao seu lado e não saiu mais de perto. Asher era falante e menos arredio que os gêmeos. E bem curioso. Havia feito várias perguntas, e algumas delas, foi rapidamente vetada pelo pai, o que o deixava chateado. O biquinho que ele fazia, era muito divertido para a loira. Micah era um menino que tinha uma resposta para tudo na ponta da língua, quanto a seu gêmeo, Jonah, era todo calado. Ambos a faziam se sentir desconfortável mesmo que de forma diferente. 

O mais parecido com o Cavendish mais velho, na opinião de Kylie, era Asher. Apesar de todos eles terem a mesma cor de olhos e cabelos, eles eram um pouco diferentes um do outro; um detalhe ou outro. Alice e Asher se passariam por gêmeos sem dificuldade alguma, na opinião de Kylie. Eles tinham pouca diferença de tamanho, tinham os mesmos olhos, cabelos, o sorriso...

Era incrível para Kylie o quanto ela se sentiu bem perto de uma criança. No caso, duas delas, ainda que uma a deixasse um tanto constrangida. Crianças. Blake, seu afilhado, era igualzinho. Até pior. O menino tinha uma inteligência de outro mundo, principalmente quando era para aprontar. Ele era terrível. Sua irmãzinha, Ella, era totalmente diferente. Uma boneca. Inteligente também, mas uma “ladie”, como o avô dela mesmo sempre dizia. Tinha muito de Alice. Os filhos gêmeos do irmão de Stella, Justin, no caso, tinha o mesmo gênio do pai. E eram a cópia dele. 

Por um momento se lembrou de sua família. Eles deveriam estar preocupados. Todos eles. Seus amigos. Nunca havia sumido daquele jeito antes. E por isso pensou se não deveria acalmar a todos, mesmo que não fosse dizer onde estava. Ela não estava pronta para ver ninguém. As pessoas já deveriam estar sabendo, até àquela altura do campeonato. E não queria nem imaginar os comentários. 

Alice chamou sua atenção com seu jeitinho doce. Sem dizer uma palavra, mas com um gesto extremamente fofo. Kylie havia se encantado por aquela menina de uma forma que jamais imaginou acontecendo, ainda mais do jeito que a conheceu. E não havia passado de duas horas. Quando viu, estava se imaginando mãe. Nunca havia pensado naquela possibilidade antes. Sabia que poderia acontecer, mas não tinha aquele sonho de um dia ser mãe. E agora ela imaginava menos ainda, já que estava sozinha. 

Sozinha e perdida, ela completou em pensamentos. 

— Jonah. 

Ela piscou, ouvindo a voz firme de Nicholas. 

— Não seja grosseiro.

E ela pensou que o menino tivesse dito algo que não agradou ao pai. 

— Ela tem um noivo. Estava escrito na revista. 

Kylie sentiu seu mundo girar ao escutar aquelas palavras.

— Pode muito bem ligar para ele.

— Micah.

— Ela fugiu como uma princesa.

— Ela não é uma princesa, Asher. – Um dos gêmeos retrucou. – Ela é só uma mimada que deve ter brigado com os pais.

— Micah. – Sua voz ficou ainda mais forme, mas foi impedido de continuar a brigar quando escutou um som e então um gritinho.

— Ela desmaiou. – Asher quem disse, já de pé, assim como sua irmãzinha que estava ao lado da loira; e Nicholas rapidamente se colocou de pé também, dando a volta na mesa para ver a mulher. – Ela está doente, papai?

Nicholas levou a mão a testa da mulher ao perceber que ela estava um pouco pálida. Constatou rapidamente que ela estava febril. Levou os dedos da mão direita ao seu pulso, sentindo-o pulsar, mas não ficou menos preocupado, principalmente por perceber que ela estava completamente inconsciente no chão de sua cozinha. 

— Ela vai ficar bem. – A levantou em seus braços. – Jonah, quero que chame o seu tio aqui. Ligue para ele, mas não diga o que houve. Vou contar quando ele chegar. 

E o menino só fez como o pai pediu, porque a mulher estava inconsciente, e enquanto isso, Nicholas subia com a rosada nos braços e os filhos atrás de si. A colocou devagar sobre a cama que era de sua esposa.

— Arrume o travesseiro para mim, Micah. 

Alice se colocou sobre a cama rapidamente, ficando ao lado da loirinha, toda preocupada, e Nicholas, percebendo isso, tocou seus cabelos.

— Ela vai ficar bem, filha.

A menina o olhou, mas rapidamente, pois logo estava olhando para Kylie outra vez, ainda preocupada. E Nicholas podia imaginar quais eram seus sentimentos enquanto via aqueles olhinhos lindos brilharem em tristeza. Engoliu em seco e então se dirigiu ao próprio banheiro, pegando um antitérmico e um álcool junto a um pedaço de algodão. Levou o algodão molhado ao nariz dela, e aos poucos a viu despertando; quase ao mesmo tempo Jonah apareceu dizendo que o tio estava vindo. 

Kylie levou uma das mãos a cabeça, sentindo-a latejar, e aos poucos seus olhos — desfocados — começaram a enxergar um por um ao lado dela. Primeiro Alice, e então Nicholas, Asher, Micah e Jonah. Ela não sabia como, ou o porquê, mas conseguia dizer quem era quem dos gêmeos, mesmo sendo tão idênticos. 

— Ai. 

— Vai com calma. – Diz, quando a vê começar a se sentar; percebendo que estava sendo complicado para ela, a ajudou. – Você desmaiou. 

— Desculpe. 

Nicholas não respondeu; não tinha o porquê de ela pedir desculpas, mas também não sabia o que dizer em um momento como aquele. 

— Senti tudo girar. 

— Está febril.

No mesmo instante ela levou a mão a testa, constatando o mesmo que o Cavendish. 

— Era tudo que eu precisava agora. – Murmurou. – Eu não quero dar trabalho. Eu vou pedir por um táxi... e ir... – Sentiu tudo girar novamente, mas fechou os olhos para poder controlar. – Para um hotel. 

Nicholas pensou por um momento. Seria loucura deixar aquela mulher sair do jeito que estava. Ela estava com febre, não se sentia nenhum pouco bem, então estaria colocando a vida dela em risco sozinha. E ela insistia em não falar com os pais. Ele estava bem curioso, mas não a faria falar nada. Só havia se passado duas horas ou um pouquinho mais desde que a conheceu. 

— Papa.

Aquela voz. Sua garotinha havia falado. Era tão raro, que todas as vezes que escutava, sentia aquela emoção no peito. Os olhinhos dela dizia tudo. Ela não queria que a modelo se fosse. E ali estava, o carinho de Alice para com Kylie. Mesmo passando tão pouco tempo com a mulher. Era bem estranho para Nicholas. 

— Eu chamei um médico. Meu irmão. Ele vai cuidar de você. 

— Realmente...

— Eu não seria louco de deixar você sozinha agora. – A cortou. – Você fica. – Desviou os olhos para Jonah e Micah, que desviaram os olhos, mas compreenderam aquele olhar. – Eu trouxe um antitérmico. – Diz, pegando o remédio e entregando para ela.

— Ela está parecendo um zumbi. 

— Asher. 

Seu filho era extremamente sincero. Todos seus filhos eram. Até demais em sua opinião.

— Estou tão pálida assim?

Os Cavendish — todos eles, com exceção de Alice, que não havia tirado os olhos dela, e que naquele momento pegava em sua mão — a fitou. 

— Um pouco.

Micah e Jonah fitou ao pai, mas o mais velho ignorou. 

— Mas vai se sentir melhor logo. – Se levantou da cama. – Meu irmão já deve estar chegando. Ele mora menos de quinze minutos daqui. 

Kylie achou melhor apenas concordar, principalmente quando não se sentia nada bem, mesmo. Sentiu sua mão ser apertada menos de cinco segundos depois e percebeu os olhos assustados ainda de Alice. Ela parecia realmente ter se assustado, e isso a fez se sentir um pouco culpada. 

— Está tudo bem, querida, eu estou bem. – Decidiu dizer, com um sorriso, vendo-a relaxar, o que a fez se sentir melhor por isso. 

— Estou perdendo alguma coisa aqui?

Todos se viraram para a pessoa que havia acabado de entrar no quarto. 

— Julian. 

— Tem uma mulher aqui, ou eu estou vendo uma miragem, irmãozinho?

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