Capítulo 3

Os olhos dela voltaram a lacrimejar quase ao mesmo tempo em que deixava o rapaz ajudá-la a se levantar, puxando-a com toda a delicadeza do mundo para sua “casa”. E Kylie se surpreendeu um pouco ao perceber a linda casa de campo em meio a tantas árvores grandes e bonitas. Era algo bem rústico. A casa era toda em tijolos em tons claros, as janelas e portas eram de vidro, os degraus que levavam a porta de entrada eram de madeira. Era tudo muito simples e delicado.

O moreno de olhos azuis-petróleo pediu gentilmente para que a filha pegasse um copo de água e então seguiu para a sala, instruindo Kylie a sentar-se no sofá após — claro — pegar uma camisa que estava sobre a poltrona, vestindo-se rapidamente.

— Obrigada. – Murmurou, fitando a garotinha logo em que ela chegou até si. – Obrigada, querida. – Lhe sorriu fraco. 

— Filha, vá procurar por seus irmãos, por favor.

A menina fitou ao pai e então a loirinha, levando um tempo até finalmente se virar para fazer como o pai pediu. 

— Sou Nicholas Cavendish. 

— Kylie Bellerose. 

Ele balançou a cabeça; não era necessário ela dizer, afinal, ele a conhecia de todas as capas de revistas. O pai dela era o melhor arquiteto do país; havia uma grande empresa com o nome dele na placa gigantesca no centro da cidade.

— Eu percebi que não está em um momento muito bom.

— O pior. – Sua voz embargou. – O pior dia da minha vida.

Um silêncio reinou até Kylie respirar fundo e se pronunciar.

— Eu sinto muito pelo que houve a pouco.

— Alice está bem, e você se apressou em ajudá-la, então tudo bem. 

Ela apenas balançou a cabeça.

— Quer ligar para alguém?

— Não! 

Ele viu o desespero nos olhos dela.

— Por favor, ninguém pode saber que estou aqui. Eu não quero e não posso ver ninguém agora. 

— Tudo bem. – Diz. – Você... – Pensou, fitando o andar de cima por um momento antes de fitar a loirinha novamente. – Pode ficar aqui por hoje. Pode tomar um banho, descansar e... amanhã pensa para onde vai.

— Obrigada. – Inclinou a cabeça. – Você é muito gentil. Ninguém em seu juízo perfeito aceitaria uma estranha...

— Eu te reconheci. – Ele confessou finalmente. – Você é a filha do arquiteto mais importante do país. E é uma modelo internacional, então...

Sim, ela era uma modelo desde os doze anos de idade. Começou como garota propaganda e então passou a ser uma modelo, conhecida por tudo e todos, mas em especial por ser filha de quem era, o que de certa forma a deixava chateada. Ainda assim, continuou modelando; primeiro porque ganhava seu próprio dinheiro e segundo poque gostava muito. 

— Mas não é por isso que estou te convidando a ficar.

A loira abriu a boca, mas o outro foi mais rápido.

— Eu vejo como está sofrendo. Seja o que for, eu entendo.

E então Kylie percebeu uma tristeza no olhar do rapaz a sua frente.

— Se precisa de um tempo, tudo bem.

— Obrigada. Eu prometo que conto tudo assim... que eu estiver melhor. – Abaixou os olhos. – Eu só preciso... de um tempo. 

— Eu vou te levar até um quarto. – Se levantou, fazendo-a fitá-lo. – Vou te dar uma roupa, toalha, objetos pessoais, e amanhã podemos conversar, se quiser. 

Kylie balançou a cabeça e o seguiu até um quarto grande — ainda que não tanto quanto o dela —, muito bonito, com cortinas em um vermelho extremamente escuro, uma cama de casal, duas poltronas e um banheiro que tinha até mesmo uma banheira. Ela achou tudo com um toque simples, mas muito lindo. 

— Sua chave?

A mulher piscou algumas vezes.

— Do carro.

— Ficou... na ignição.

O outro balançou a cabeça.

— Fique à vontade, eu já volto.

Nicholas saiu e a noiva adentrou um pouco mais, sentando-se devagar na cama com colchas grossas e aveludadas. E então ela voltou a se lembrar de tudo; e sofreu, e chorou, e fechou os olhos, deixando as lágrimas caírem por seu rosto, sentindo o peso de tudo que passou naquele dia que deveria ser tão perfeito para si. 

Ela só conseguia sentir a mágoa naquele momento. Ela não conseguia parar de pensar em tudo que ela havia passado ao lado de Luke, e que foi por água abaixo por culpa dele mesmo. Que ele havia feito aquela escolha maldita de traí-la. E ela não conseguia perdoar. Tudo seria muito mais fácil se ele tivesse sido sincero com ela desde o começo, se tivesse desistido do casamento. Sofreria, mas seria muito menos, e não estaria tão destroçada naquele momento. 

— Quem é você e o que está fazendo no quarto da minha mãe?!

Kylie — que soluçava —, se virou para o garotinho de cabelos negros e olhos âmbar que deveria ter uns oito anos. Ele estava raivoso, mas no momento seguinte, ao vê-la com a mão no rosto para limpar as lágrimas, ele mudou sua expressão, e antes que ele ou mesmo a loira pudesse se pronunciar, Nicholas se aproximou.

— Micah. 

O menino fitou ao pai.

— Quem é ela, papai?

— Eu vou explicar a você e seus irmãos. Me espere na sala.

O garotinho fitou a moça vestida com aquele vestido branco e bufante antes de fazer como o pai pediu.

— Eu sinto muito, eu não quero ser um problema...

— Não é. – A interrompeu. – Eu prometo, eles vão entender, é só... – Fitou o cômodo por um momento. – Esse quarto... era da minha esposa. 

— Era? – Sussurrou.

— Ela faleceu há um ano. 

Kylie sentiu seu peito apertar.

— Eu sinto muito.

— Estou superando aos poucos. – Respirou fundo, ficando em silêncio por alguns segundos. – Aqui está a toalha e os objetos pessoais. 

Kylie pegou das mãos de Nicholas. 

— Essas roupas são de minha cunhada, espero que sirva. – Levou as mãos aos bolsos da bermuda.

— Eu agradeço. 

Ele balançou a cabeça e a deixou, fechando a porta antes de seguir em direção a sala, encontrando cada um de seus quatro filhos reunidos, ouvindo-os falar um tanto alto; provavelmente por conta da mulher vestida de noiva no quarto da mãe deles. Mesmo assim, se aproximou calmo — como sempre —, escutando atentamente sua única garotinha dizer que a Bellerose parecia uma princesa — na verdade, a única palavra que havia saído de seus lábios havia sido “princesa”, já que desde a morte da mãe ela quase nunca falava; era raro escutar uma frase inteira de seus lábios. E de certa forma a reação de sua filha fez com que um sorriso ladino aparecesse em seus lábios.

— Papai!

Ele fitou Jonah, irmão gêmeo de Micah; ele tinha os braços cruzados e estava tão sério que pareceu ainda mais a ele mesmo quando era menor.

— O meu irmão já me contou tudo. Por que tem uma mulher no quarto da minha mãe? – Questionou — assim como Nicholas imaginou que ele questionaria —, exigindo de si uma resposta e por isso suspirou.

É, não seria nada fácil. Mas também sabia que por Alice, seus primogênitos e Asher— o filho do meio — faziam o que fosse; e pelo jeito, a loirinha já havia conquistado sua garotinha. Isso era meio caminho andado. Pelo menos ele acreditava que sim, porque por mais que a moça no andar de cima fosse alguém estranha para ele — ainda que tivesse um nome importante —, ele não podia dar as costas para ela, não quando havia percebido a dor nos olhos esmeralda. A mesma dor que sentiu por tantos meses — e ainda sentia em dias especiais — após a perda de sua amada Amber.

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