Salvatore se olhou no espelho do banheiro, a toalha pendurada nos ombros e os cabelos ainda úmidos. O vapor do banho quente começava a se dissipar, e com ele, a tensão que ainda percorria seus músculos. Ele estava exausto, sim, física e emocionalmente — mas havia algo de silenciosamente reconfortante naquela quietude do apartamento. O cheiro de Olivia ainda pairava no ar, misturado ao aroma suave do sabonete que ela usava. Ele passou os dedos pelos curativos nos ombros e nas costelas. Doíam. Mas era uma dor suportável — porque ele tinha voltado. Porque ela estava ali. Caminhou até o quarto, vestindo apenas uma calça de moletom. Bolt estava deitado aos pés da cama, de olho em tudo como um verdadeiro sentinela. Salvatore se abaixou para fazer um carinho em sua cabeça, e o cachorro lhe lambeu os dedos, contente. — Bom garoto… — murmurou. Levantou o olhar e viu Olivia dormindo profundamente em sua cama, os cabelos espalhados pelo travesseiro, uma expressão tranquila no rosto. Ela
Olivia apertou a mão de Salvatore com carinho, entrelaçando os dedos nos dele. O toque era leve, mas o suficiente para arrepiar sua pele. Ela o olhou, sem pressa, como se quisesse decorar cada linha daquele rosto que tantas vezes aparecera em seus pensamentos durante a ausência. — Você parece mais leve — ela disse, com um sorriso pequeno, quase tímido. — Mesmo depois de tudo o que passou. Salvatore soltou um suspiro, seus olhos ainda fixos nela. — Porque você está aqui — respondeu de forma simples, mas honesta. — Porque, apesar de tudo, eu voltei pra você. Olivia sentiu os olhos marejarem de novo, mas não queria chorar — não agora, não ali, com ele sorrindo daquele jeito, tão bonito, tão real. Então ela se levantou da cadeira e deu a volta na mesa, indo até ele. Salvatore abriu espaço e, sem que precisasse dizer uma palavra, ela se sentou em seu colo, encaixando-se como se aquele fosse o lugar certo desde o início. Ele a envolveu com os braços, o queixo encostando no ombro d
Ao despertar com os primeiros raios de sol atravessando a cortina semiaberta, Olivia levou um tempo para entender que estava sozinha. A ausência do calor do corpo de Salvatore ao seu lado era a primeira evidência. Mas havia algo reconfortante no ar — o cheiro de café fresco. Ela se levantou devagar, ainda sentindo no corpo os vestígios da noite anterior, e só então notou a bandeja cuidadosamente deixada no criado-mudo. Sobre ela, uma xícara fumegante, o aroma forte e aconchegante, e ao lado, dobrado com precisão quase militar, um bilhete. Com os olhos ainda sonolentos, ela pegou o papel antes mesmo de tocar na bebida. Desdobrou com calma, e ali, na caligrafia firme e ligeiramente inclinada de Salvatore, estavam as palavras que fizeram seu coração bater mais lento e forte ao mesmo tempo: “Preparei o café do jeito que você gosta. Não quis te acordar — parecia em paz. Tenho que voltar para a base. Mas deixo contigo tudo o que sou. — S.” Olivia sorriu, os olhos marejando enquanto
Olivia estava no avião, olhando pela janela enquanto o voo se aproximava da Itália. O coração batia forte, uma mistura de excitação e ansiedade. Havia algo sobre aquele momento que a fazia sentir como se estivesse retornando a um lugar que sempre foi seu, mas ao mesmo tempo, um lugar que ela havia perdido há tanto tempo. As lembranças da infância, os aromas das ruas de Roma, as tardes quentes na Toscana, tudo aquilo a invadia com uma intensidade que a fazia quase querer fechar os olhos para não ser dominada pela emoção. "Eu nunca soube o quanto sentia falta disso até agora", ela pensava, apertando os dedos contra o vidro da janela. "A Itália tem uma forma de envolver a gente, como se tudo ao redor sussurrasse sua história, e você se perde entre os ecos do passado e os sonhos do futuro." Olivia fechou os olhos por um momento, imaginando as ruas que tanto conhecia, as pedras antigas sob seus pés, o som das pessoas conversando nos cafés e a maneira como o sol se punha lentamente atrás
Olivia havia decidido surpreender o pai, Riccardo Fiore, com sua volta repentina à Itália. Depois de anos longe, vivendo na Rússia e se acostumando à solidão, ela sabia que seu relacionamento com o pai havia ficado frio, distante. Ela queria quebrar essa barreira e mostrar a ele que, apesar de sua vida independente, ela ainda se importava e queria fazer parte da sua vida. Essa seria a primeira surpresa, um gesto simples, mas significativo. Ela só não imaginava que um outro tipo de surpresa estava prestes a acontecer. Ao chegar à entrada da base militar, Olivia ficou momentaneamente paralisada pela imponência do local. A base exalava um ar de disciplina e poder, algo completamente diferente da Rússia, mas ainda assim familiar. Ela sabia que seu pai, como general, era uma figura respeitada ali, e isso a fazia sentir-se ainda mais distante, como se estivesse entrando no território de alguém muito diferente de si mesma. Quando Olivia se aproximou da entrada, foi abordada por um soldado.
Riccardo Fiore observava a filha como uma mistura de apreensão e orgulho. Olivia, com sua postura decidida e seu olhar forte, parecia mais uma mulher feita do que a jovem que ele lembrava, de olhos grandes e curiosos. O tempo parecia tê-la moldado de uma maneira que ele nem imaginava. A distância de seis anos na Rússia a fizera mais madura, mas ao mesmo tempo, uma nostalgia o tomava, lembrando-lhe da menina que, embora sempre envolta na presença de sua autoridade, sempre parecia muito solitária. -Olivia ...- Riccardo disse, com um sorriso breve, enquanto se aproximava dela e a abraçava com um carinho que, por um momento, parecia desconcertante para ela. Ele a segurou por um tempo, como se quisesse ter certeza de que ela estava ali, diante dele. - Não me avisou que viria. Não sabia que voltaria tão cedo. Olivia sentiu o abraço do pai e, por um momento, deixou que a vulnerabilidade dela tomasse conta. Ela sempre teve um relacionamento complicado com Riccardo. O fato de ele ser um
Riccardo Fiore havia se retirado para a sala de comando, mas o clima que pairava no ar parecia denso, como se uma tempestade estivesse prestes a se formar. Olivia ficou sozinha na sala com Salvatore, sentindo uma mistura de confusão e fascínio por aquele homem que, apesar de sua juventude, emanava uma segurança que ela raramente encontrava. Ela deu um passo em direção à janela, observando a movimentação do lado de fora da base. O sol da tarde se refletia nas grandes construções militares e nas caminhonetes blindadas estacionadas ao redor, criando um contraste entre a serenidade do momento e a rigidez do ambiente militar. De alguma forma, ela se sentia deslocada, mas ao mesmo tempo conectada àquela paisagem, como se a base fosse uma extensão de sua própria identidade. Olivia não sabia se deveria quebrar o silêncio entre ela e Salvatore. O comportamento dele a intrigava de uma forma desconcertante. Ele não a olhava com desinteresse, mas sua postura rígida e sua atenção inabalável pare
Salvatore estava em seu posto, a postura rígida e os olhos atentos, como sempre. Nada escapava de sua vigilância. A base estava tranquila naquela manhã, e a sua única missão era garantir que tudo funcionasse como deveria. Ele não tinha tempo para distrações. Como soldado, ele foi treinado para focar, para não se deixar levar por sentimentos ou fraquezas. A guerra não perdoa, e ele sabia disso melhor do que ninguém. O treinamento, as batalhas, a disciplina; tudo o moldara. A partir do momento em que vestiu o uniforme, sua vida havia se resumido a uma única missão: cumprir sua função sem vacilos. O conceito de misericórdia nunca fizera parte do seu vocabulário. Quando ouviu os passos se aproximando, o instinto o alertou antes mesmo de os ver. Nada passava despercebido em seu campo de visão. Ele estava posicionado na entrada da base, o portão imponente à sua frente, seu olhar firme como sempre. Mas algo, naquela manhã, pareceu mexer com o ar. A jovem que se aproximava caminhava com a p