Mundo de ficçãoIniciar sessãoCheguei em casa naquela noite sentindo-me zonza; a forma como Jackson me olhava não saía da minha cabeça. Há tempos eu não me sentia atraída por alguém daquela forma, e não se tratava apenas de sua aparência fascinante, mas até mesmo a recordação do soar de sua voz me causava arrepios.
Após o ultimato que recebi, concordei em iniciar os treinos na academia. Eu tentava mentir para mim mesma que minha maior motivação eram os inúmeros benefícios que os exercícios poderiam me trazer, mas, na verdade, eu apenas queria ter a oportunidade de vê-lo novamente.
Samanta e eu combinamos de ir todos os dias após o trabalho, desde que fossem treinos breves, de 30 minutos no máximo. Afinal, eu ainda teria que buscar o meu filho após o expediente na casa da minha mãe e não queria ser tão negligente, deixando-o ainda mais tempo longe de mim.
Na manhã seguinte, levantei-me ansiosa e, ao mesmo tempo, muito nervosa. Nunca havia pisado em uma academia antes e, além de tudo, estaria cercada por mulheres lindas, o que me deixava ainda mais constrangida. Como se não bastasse, meus pensamentos insistiam em voltar ao meu futuro personal trainer e, depois de dormir imaginando cenas irrealizáveis, os devaneios prolongaram-se nos meus sonhos libidinosos. Agora, seria difícil olhar para ele e não lembrar.
— Um homem daquele jamais sequer olharia para mim — suspirei ao me olhar no espelho, tentando enfiar na minha cabeça que eu estava viajando na maionese e que o olhar de Jackson não era fascínio.
Escolhi uma roupa para me trocar após o expediente. Não havia muitas opções em minhas gavetas; contentei-me com uma legging preta e uma blusa mais velha e confortável. Meus tênis estavam praticamente intactos; havia comprado na minha última tentativa frustrada de emagrecer, após prometer que faria caminhada todos os dias, o que obviamente não aconteceu. Enfiei tudo em uma bolsa e deixei no carro.
Então, após o trabalho, Samanta e eu seguimos juntas, ela animada e eu extremamente angustiada, até que travei ainda na entrada, pensando mil vezes em voltar.
— Vamos, amiga, coragem! Você não queria mudança? Essa é a hora! E não estou falando do seu corpo, mas sim dessa cabecinha oca que ainda não percebeu o mulherão que você é!
Abri um sorriso grato pelo elogio, mas minhas mãos suavam frio, e eu ainda tentava criar coragem, quando uma BMW preta com vidro fumê parou no estacionamento que tinha logo à frente do prédio, exatamente ao lado do meu modesto carrinho popular.
Samanta me olhou bestificada, provavelmente partilhando dos mesmos pensamentos que eu ao ver Jack saindo do carro. O homem mais parecia uma escultura impecavelmente esculpida. Ele usava uma roupa semelhante à que eu vira no dia anterior; com certeza o uniforme de trabalho.
— O boy parece ter muito dinheiro, por isso ele te desafiou. Deve se garantir no que faz… — Samanta comentou boquiaberta, conforme ele se aproximava.
— Eu não queria, mas não consigo deixar de imaginar o que ele faz… — Brinquei com um fundo de verdade, arrancando uma risadinha travessa de Sam, enquanto admirava o movimento da musculatura dele se contraindo e relaxando conforme caminhava em nossa direção.
Seu peitoral bem definido mais parecia uma rocha firme, e sua camiseta colada revelava um abdome deliciosamente trincado. Mordi o lábio inferior involuntariamente, escaneando-o de cima a baixo, abaixando a cabeça envergonhada assim que ele parou na nossa frente.
— Boa noite, meninas… Alicia, você voltou.
"Ai, meu Jesus Cristinho, ele lembra do meu nome…", pensei, vibrando feito uma adolescente boba, e ergui a cabeça ainda sem jeito, deparando-me com o mesmo olhar sacana do dia anterior. Jackson abriu o mesmo sorriso travesso, ainda me fitando fixamente.
— Vamos entrando.
Nós o acompanhamos, e ele fez sinal para que a recepcionista da noite liberasse a catraca. Segui travada ao lado dele, enquanto Samanta faltava quebrar o pescoço para olhar os caras que passavam ao redor.
— Vamos aquecer na esteira. É sempre bom começar lentamente e, conforme seu corpo aquece, aumentar a velocidade.
— Sim, nada como começar lentamente e depois aumentar a velocidade, é perfeito assim… — Samanta disparou, rachando a minha cara.
Busquei o olhar dele e notei um sorriso presunçoso em seu rosto; ele já devia estar acostumado a ser assediado pela mulherada e não parecia nem um pouco incomodado.
— Por Deus, Sam, ele ouviu… — Cochichei rindo, com vergonha alheia.
— Fico feliz que esteja de acordo, Samanta — falou com um tom de voz instigante. — E você, Alicia, concorda?
— Cla-claro… — Gaguejei feito uma idiota, e ele deu uma risadinha cínica, desviando o olhar.
Nos minutos seguintes, não consegui mais ouvir nada do que ele falava sem pensar num duplo sentido.
— Bom, agora que já estão aquecidas, vamos para os finalmentes… Hoje vamos fazer exercícios focados em pernas e glúteos, para deixar firme e bem empinadinho, do jeito que vocês gostam.
"Sim, firme e empinadinho, adoramos…", eu pensava, contendo um sorriso, enquanto fingia estar prestando atenção.
— De início vamos começar sem peso; conforme vocês forem se adaptando, vamos intensificando.
Definitivamente, eu tinha que frear meus pensamentos. Jackson nos colocou de frente para um espelho e, nesse momento, vi que já estava ruborizada, suada e descabelada após a esteira.
— Minha nossa, olha o meu estado.
— São os efeitos de algo que está sendo bem feito. — Ele deu uma risadinha sarcástica.
Eu poderia jurar que a mente dele estava tão pervertida quanto a minha, e me perguntei se ele realmente quis dizer o que minha cabeça idealizou.
— Vamos fazer o exercício de agachamento, que é um dos mais eficazes para tonificar os músculos inferiores.
— Sam é especialista em agachamentos — provoquei.
— Você nem se fala, né, amiga?
— Hum, bom saber… — Ele respondeu, aparentemente encarando a brincadeira numa boa, e olhou para mim com um sorriso matador.
"Ele está me dando mole?", perguntei-me ainda incrédula. Senti um pouco de dificuldade para realizar o exercício, e Jack prontamente se posicionou atrás do meu corpo. De forma absolutamente profissional, é verdade, mas tanta proximidade me deixou tensa.
— Com licença, esse movimento não está correto. Posso? — Ele pediu seriamente antes de me tocar.
— Sim, por favor… — Respondi quase sem fôlego.
Ele se aproximou e deslizou o dedo, traçando o caminho da minha coluna, fazendo com que eu me arqueasse com a sensação e, involuntariamente, empinasse o quadril.
— Preciso que você mantenha a coluna reta e o bumbum bem empinado, contraia o abdômen e então agache lentamente…
Minha mente me traiu. A voz dele soava como música para os meus ouvidos; senti uma pressão e um calor intenso entre as minhas pernas. Vindo de mim, era inacreditável. Eu já não tinha certeza se estava tão sedenta pelo tempo que não me relacionava com alguém, ou pelo fato de ele ser irresistível.
Jackson me causou uma sensação que jamais havia experimentado antes, nem mesmo pelo meu ex-marido. Meu corpo inteiro se arrepiava a cada vez que ele se aproximava, meu coração descompassava, e eu já não conseguia focar nos exercícios.
— Muito bem, meninas, vamos para o próximo...
Jackson nos conduziu até os colchonetes de ginástica, entregando um para mim e outro para Sam.
— Deitem-se, por favor.
Fiz o que pediu sem conseguir tirar os olhos dele, que percebeu e me encarou, abrindo um sorriso torto, aquele que já tinha se tornado o meu predileto. Desviei o olhar, acanhada, mas percebi que o olhar dele permanecia em mim.
— Afastem um pouco as pernas e, em seguida, elevem o quadril. Esse exercício se chama elevação pélvica.
Segui suas orientações e, conforme ergui o meu quadril, pude jurar que ele estava analisando o meu corpo e, para a minha surpresa, com desejo. Nos momentos seguintes, Jackson e eu trocamos olhares constantemente; eu o admirando, mas não conseguia acreditar que ele se sentia da mesma forma.
— Você está indo muito bem, Alicia. — A voz dele saiu como um sussurro rouco, quase ao pé do meu ouvido, já no último exercício em que ele nos deu suporte.
Senti cada fio de cabelo do meu corpo subir com a sensação do ar quente da respiração dele em meu pescoço. Eu só podia estar delirando. Propositalmente, fiz um movimento leve para trás, de forma que nossos corpos ficaram a poucos centímetros de distância.
— Seus movimentos estão cada vez melhores… — falou, tocando-me nas costas, e sorriu, afastando-se.
Era óbvio, só podia ser delírio, e eu tinha acabado de assustá-lo.
— Vocês já malharam ou praticaram algum tipo de exercício antes? — Ele dirigiu a pergunta para nós duas, mas o olhar estava fixo em mim.
— Fazer faxina em casa serve? Sou especialista na arte de levantamento de rodo e vassoura.
— Você é divertida. — Ele riu, fazendo-me abrir um sorriso acanhado, então Samanta me encarou com uma expressão que eu já conhecia, mas eu já sabia que estava sonhando alto demais. — Você acha mesmo que uma gorda como eu pratica ou já praticou qualquer atividade física? Talvez se eu tivesse feito isso antes…
Senti como se uma névoa obscura tomasse conta de mim; a tristeza que eu tanto evitava diariamente estava de volta.
— Amiga, não fala assim, por favor!
Olhei para o Jackson, que estava sério e visivelmente espantado.
— Preciso ir ao banheiro…
Me afastei rapidamente, e senti as lágrimas preenchendo os meus olhos enquanto corria.
— Eu não sei o que estou fazendo aqui, olha só para mim, sou uma vergonha perto das outras… — Falei sozinha diante do espelho. — E ainda desejando um homem como o Jack, com tanta mulher do nível dele rondando por aí...
Lavei o rosto diversas vezes na tentativa de esconder as lágrimas e respirei fundo, tentando me recompor enquanto buscava as minhas coisas no vestiário.
— Eu sou ridícula e não deveria ter vindo, não deveria sequer ter tentado…
Resmunguei em voz alta, preparando-me para sair, mas me deparei com uma figura imponente que me segurou pelo braço. Sentir as mãos firmes e ásperas de Jack em mim me fez paralisar.
— Você está errada, três vezes errada, e eu vou te mostrar o porquê!







