Margarida
Acordei com uma inquietação estranha, como se o ar ao meu redor tivesse mudado de textura. Bastou um instante para perceber por quê.
Uma silhueta se destacava no escuro. Grande, imóvel, sentada em uma cadeira à minha frente. O corpo alerta, os olhos atentos, vigiando a noite como um guardião silencioso. Por um momento, meu coração acelerou... até que o reconheci.
— Meu Deus... — murmurei, aliviada. — O que está fazendo aí?
— Te observando — respondeu com suavidade.
— Você não vai dormir? Que horas são? — perguntei, a voz embargada de sono.
— Duas e quarenta e seis da manhã — ele disse, como quem já tinha conferido o relógio mais de uma vez.
— Ronaldo... — voltei a deitar, estendendo a mão para ele. — Vem, você precisa descansar.
— Não consigo. Só quero ter certeza de que você está bem.
— Eu estou bem — sorri com ternura. — Vem, por favor.
Ele descruzou os braços devagar, como se ainda hesitasse em sair dali, e se aproximou. Sentou na beira da cama, depois