Capítulo 66

Margarida

Acordei com uma inquietação estranha, como se o ar ao meu redor tivesse mudado de textura. Bastou um instante para perceber por quê.

Uma silhueta se destacava no escuro. Grande, imóvel, sentada em uma cadeira à minha frente. O corpo alerta, os olhos atentos, vigiando a noite como um guardião silencioso. Por um momento, meu coração acelerou... até que o reconheci.

— Meu Deus... — murmurei, aliviada. — O que está fazendo aí?

— Te observando — respondeu com suavidade.

— Você não vai dormir? Que horas são? — perguntei, a voz embargada de sono.

— Duas e quarenta e seis da manhã — ele disse, como quem já tinha conferido o relógio mais de uma vez.

— Ronaldo... — voltei a deitar, estendendo a mão para ele. — Vem, você precisa descansar.

— Não consigo. Só quero ter certeza de que você está bem.

— Eu estou bem — sorri com ternura. — Vem, por favor.

Ele descruzou os braços devagar, como se ainda hesitasse em sair dali, e se aproximou. Sentou na beira da cama, depois
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