74. Se despindo das armaduras
O silêncio dentro do carro parecia mais alto do que qualquer barulho lá fora. Do lado de fora, as vozes dos repórteres e o som das câmeras ainda ecoavam na minha cabeça. Eu podia ver, através do vidro escuro, os flashes tentando atravessar a película, como se o mundo inteiro tentasse invadir o pequeno espaço onde eu e Kairos estávamos. Ele, ao meu lado, mantinha o olhar fixo na estrada à frente, o maxilar tenso, a expressão séria.
Por alguns minutos, eu apenas o observei. O modo como seus dedos tamborilavam de leve sobre o joelho, a respiração compassada, mas pesada. Eu sabia que ele estava irritado — não comigo, mas com a situação. Ainda assim, o simples fato de estar ali, ao lado dele, me fazia sentir como se o resto do mundo tivesse desaparecido.
Quando o carro entrou na garagem subterrânea do prédio, senti um alívio breve. O motorista saiu primeiro, abrindo a porta para mim. Kairos apenas fez um leve gesto com a cabeça para que eu o acompanhasse. Subimos juntos no elevador, e o