64. Entre o Desejo e a Fúria
O dia seguinte começou com uma sensação estranha, um peso no peito que eu não conseguia explicar. Tentei me concentrar, mas mal entrei no escritório e vi Kairos passando pela minha mesa, indo para a sala dele. Ele nem me olhou, como se eu fosse invisível, mas eu não pude evitar de perceber cada detalhe dele: o perfume forte, amadeirado, que preenchia o ar e grudava na minha memória; os cabelos ligeiramente desalinhados, o brilho nos fios que refletia a luz do corredor; a calça escura perfeitamente ajustada, a postura firme, imponente. Meu coração disparou, como se meu corpo tivesse uma memória própria e reagisse a ele antes mesmo da minha mente conseguir processar qualquer pensamento racional.
Segurei a respiração por um instante, tentando não demonstrar o turbilhão de emoções que me invadia. Cada passo que ele dava parecia me atravessar. Eu sabia que precisava me manter firme, mas era impossível não sentir o efeito que ele ainda tinha sobre mim. O ar parecia mais pesado, a temperatu