65. O peso de uma Decisão
O som da água caindo na pia abafava meus soluços. Os olhos ardendo e o coração latejando como se tivesse sido espremido até a última gota.
Não sabia quanto tempo estava ali. O relógio marcava pouco mais das dez e meia da manhã, mas para mim o tempo havia parado desde que Kairos me olhou daquela forma — como se eu fosse apenas mais um problema a ser resolvido, uma pendência burocrática em meio à sua rotina de controle e silêncio.
Passei as mãos trêmulas pelo rosto e me olhei no espelho. O rímel borrado, os olhos vermelhos, o cansaço estampado em cada traço. Era quase impossível reconhecer a mulher que me encarava.
Respirei fundo, tentando conter o choro.
Eu precisava me recompor.
Não podia continuar me despedaçando por alguém que decidiu me transformar em um contrato, um número, uma obrigação.
Fiquei de pé, lavei o rosto com água fria e respirei fundo mais uma vez. O reflexo no espelho ainda mostrava dor, mas havia algo diferente — um fio de determinação nascendo entre as rachadu