Davi sorriu, batendo no próprio peito com confiança:

— Eu prometo que vou fazer a Lara feliz.

Para não estragar o clima, ninguém da família ousou mencionar que já fazia tempo que não se tinha nenhuma notícia minha.

Foi então que a campainha soou, alta e repentina, do lado de fora da casa.

Os olhos apagados de Davi se acenderam de repente.

Ele se apressou até a porta com passos largos, cheio de expectativa.

Na sua cabeça, eu havia descoberto a gravidez da Lara, perdoado tudo, e voltado para celebrar com a família.

Mas, ao abrir a porta, o sorriso congelou.

Quem estava ali não era quem ele esperava — era minha melhor amiga, Lúcia.

Lúcia entrou cruzando os braços, os olhos afiados como lâminas mirando diretamente Davi:

— Cadê a Ayla?

Nos conhecíamos há mais de dez anos.

Lúcia teve uma vida dura: a mãe se casou de novo e a abandonou, e ela foi criada por um pai alcoólatra.

A vida a ensinou a ser dura — impaciente, explosiva.

Mas comigo, ela sempre foi doce e protetora.

Não importava onde ou quando, se eu estivesse magoada, era para os braços dela que eu corria primeiro.

— Ela não tá aqui. Se quiser saber, vai perguntar pra outro. — Disse Lara, saindo de trás de Davi com frieza.

E já estendia a mão para fechar a porta, quando Lúcia meteu o pé no meio.

Forçando a entrada, ela empurrou a porta com força e entrou, gritando:

— Ayla! Sou eu! Tô aqui! Você tá em casa?

— Some daqui, sua maldita! Aquela vadia nem tá aqui! — Rugiu Lara, indo pra cima dela.

As duas se agarraram uma à outra, rolando em meio ao caos que virou a sala. Objetos caíam, móveis se arrastavam — um verdadeiro pandemônio.

— Lúcia, para com isso! A Ayla realmente não tá aqui! — Gritou Davi, tentando segurar Lara para protegê-la.

Ele empurrou Lúcia com força, fazendo-a tropeçar.

Vendo Davi ainda tentando proteger Lara, Lúcia perdeu o controle.

Ela ergueu a mão com raiva e — "PAH!" — estalou um tapa com força total no rosto de Davi.

As garras de loba surgiram instintivamente, deixando cinco arranhões fundos na face dele.

— Seu canalha miserável! Você quebrou a promessa, traiu a Ayla e virou companheiro da irmã dela?

— Cadê a sua consciência, Davi? O que foi, o cachorro comeu?

— A Ayla te deu tudo. Tudo! E você fez isso com ela? Você é desprezível!

— E vocês dois! — Ela apontou para os pais. — Já são velhos o bastante, e ainda têm coragem de pisar na própria filha?! Sim, porque a Ayla também é filha de vocês!

— Vocês não têm vergonha? Não merecem ser chamados de pais!

Lúcia tremia dos pés à cabeça, gritando com a garganta em carne viva:

— Se aconteceu alguma coisa com a Ayla, eu juro pela minha vida... eu vou botar cada um de vocês na cadeia!

A família toda ficou paralisada.

Assustados com a fúria de Lúcia, ninguém teve coragem de dar um passo.

Só conseguiram assistir em silêncio enquanto ela batia a porta com força e desaparecia.

À noite, depois de muito bajular, Davi conseguiu fazer Lara adormecer.

Os demais se reuniram na sala.

Davi, preocupado, foi o primeiro a falar:

— Pai, mãe... Já faz dias que não temos notícia da Ayla. Será que aconteceu alguma coisa?

Os dois baixaram a cabeça, em silêncio.

Sabiam, no fundo, que tinham passado dos limites.

Mas agora, com tudo já feito, só podiam rezar para que eu "esfriasse a cabeça" e voltasse, pra então me oferecerem algum tipo de compensação.

O que eles nunca imaginaram...

É que eu jamais teria a chance de ser compensada por nada.

Meu corpo já estava em avançado estado de decomposição na mina de prata. O cheiro atraiu uma infestação de ratos.

A equipe de manutenção do condomínio chamou um serviço profissional para localizar a origem do problema.

Na manhã seguinte, o celular de Davi tocou. Era a polícia.

— Alô? É parente da Ayla?

— Encontramos um corpo feminino em decomposição na mina de prata atrás da vila. A identificação preliminar indica que é Ayla. Solicitamos sua presença na delegacia para o reconhecimento formal.