O leilão começou oficialmente. Apertei firme o número da minha plaquinha, esperando pelo Lote 47.
Finalmente, o leiloeiro ergueu o colar de pérolas.
— Lote 47, um colar de pérolas. Lance inicial, cinco milhões de dólares.
Levantei minha plaquinha imediatamente.
— Cinco milhões de dólares.
— Dez milhões de dólares — veio a voz de Serena, bem ao meu lado.
Olhei para ela. Estava sorrindo, a plaquinha erguida.
— Quinze milhões de dólares! — Disse, levantando novamente.
Serena nem hesitou.
— Vinte milhões de dólares.
O preço começou a subir vertiginosamente. Trinta milhões. Cinquenta milhões. Oitenta milhões…
Minhas mãos suavam. Meu advogado dissera que tudo o que eu possuía valia cerca de cem milhões no total, mas o preço já chegava perto de cento e vinte milhões.
— Cento e vinte milhões de dólares.
Serena ergueu a plaquinha com tranquilidade, como se fosse um número qualquer.
O leiloeiro olhou pra mim.
— Senhora, deseja continuar?
Minhas mãos tremiam. Eu não conseguia mais levantar a plaquinha. Eu não tinha o suficiente.
Todos os olhares estavam sobre mim, inclusive o de Daniel. Engoli o orgulho e me virei para ele.
Minha voz vacilou.
— Daniel, me empresta um pouco de dinheiro, por favor. Esse colar era da minha mãe. É a única coisa que ela me deixou.
Daniel me encarou. Algo indefinido brilhou em seus olhos. Assim que ele levou a mão ao bolso para pegar o cartão, Serena também se virou para ele.
Com um tom doce e manhoso, disse:
— Danny, eu nunca tive nada quando era pequena. Esse é o primeiro colar que eu realmente amei. Você pode pedir à Freya pra me deixar ficar com ele?
Ela segurou na manga dele, os olhos brilhando de expectativa.
Daniel olhou para Serena, depois para mim e ficou em silêncio por alguns segundos — segundos que pareceram uma eternidade.
— Deixe a Rena ficar com ele. — Disse, por fim.
Um arrepio percorreu minha espinha. Meu mundo desabou.
A voz do leiloeiro ecoou:
— Cento e vinte milhões de dólares, dou-lhe uma! Cento e vinte milhões, dou-lhe duas!
Quis implorar de novo, mas nada saiu da minha boca.
— Cento e vinte milhões de dólares, pela terceira e última vez! Vendido!
No instante em que o martelo bateu, meu coração gelou.
Serena, radiante, bateu palmas e virou-se para mim.
— Freya, obrigada!
A satisfação estampada no rosto dela era insuportável.
Depois do leilão, Serena disse que estava com dor de cabeça e Daniel foi buscar o remédio. Fiquei sozinha no saguão, vendo os funcionários recolherem os itens.
Dez minutos depois, Serena apareceu nos bastidores e parou diante de mim.
Levantei-me.
— Serena, você trocaria o colar por outra coisa?
Ela arqueou uma sobrancelha.
— Trocar por quê?
Forcei-me a manter a calma.
— Tenho um carro esportivo e alguns relógios de luxo. Não chegam a cento e vinte milhões, mas se me der um tempo, eu completo o valor. Só peço que me devolva o colar.
Serena balançou a cabeça.
— Não preciso disso.
— Então o que você quer?
Ela pensou por um momento e sorriu.
— Quero que você se ajoelhe e suplique.
— O quê?
Um brilho cruel apareceu nos olhos dela.
— Ajoelhe-se, peça desculpas e implore pelo colar. Depois do jeito que me tratou antes, é sua vez de se humilhar.
Fiquei olhando pra ela, os punhos cerrados. Pensando no colar da mamãe, me ajoelhei.
— Ótimo. Deixe eu te mostrar onde o colar está… — Disse ela.
Com um sorriso vitorioso, tirou o celular do bolso. Abriu um vídeo e me entregou. Na tela, um cachorro de rua, todo sujo, abanava o rabo com o colar de pérolas no pescoço.
Era o da mamãe.
O sorriso de Serena se tornou perversamente doce.
— Viu? É aí que ele está agora. Acho que combina perfeitamente com o cachorro. Coisas de cadela pertencem a uma.
Meu sangue gelou.
— O que você acabou de dizer?
Ela guardou o celular.
— Eu disse que cadela combina com cadela. Sua mãe não era uma? Mereceu ser atropelada e morrer. Agora o colar dela está com um vira-lata. Faz sentido, não acha?
— Qual mão você usou pra colocar o colar no cachorro? — Perguntei, com a voz tão baixa que mal reconheci.
Serena ainda sorria.
— A direita. Por quê?
Peguei a faca de jantar da mesa e enfiei na palma direita dela. O sangue jorrou, e ela soltou um grito estridente.