Daniel me levou de volta à Mansão Falkner, no norte de Belcaster.
Eu estava no banco do passageiro, observando as luzes de néon passarem pela janela. Por dentro, me sentia vazia.
— Chegamos — disse Daniel.
Depois de estacionar o carro, ele contornou o veículo para abrir a porta pra mim.
Por que ele sempre fazia isso? Ele não me amava, mas me queria na cama dele e ainda assim me tratava com tanta delicadeza.
Senti o nariz arder enquanto saía, arrastando a mala atrás de mim. A casa era familiar demais, cada canto impregnado de lembranças dos tempos em que a gente não conseguia ficar longe um do outro.
Daniel estendeu a mão para pegar minha mala, pretendendo levá-la até o quarto que costumava ser meu.
— Não precisa. — Falei, indo na direção do quarto de hóspedes.
— Vou ficar só uns dias. Esse serve.
Ele parou no meio do caminho.
— Pode ficar o tempo que quiser.
Coloquei a mala no quarto de hóspedes e fechei a porta.
Sentei-me na beira da cama e encarei o celular. Faltavam doze dias. Doze dias até eu deixar Belcaster — a cidade onde cresci — para sempre.
...
Na manhã seguinte, desci e encontrei Daniel já tomando café na sala de jantar. Ele ergueu o olhar e apontou para o assento em frente ao dele.
Uma empregada trouxe leite e torradas assim que me sentei.
— Daniel. — Comecei.
Ele levantou os olhos, o olhar calmo por trás dos óculos de armação dourada.
— Você sabia que a Serena é filha da Rowena?
— Só descobri ontem. — Respondeu, sereno, sem o menor sinal de culpa.
Soltei uma risada amarga.
— E o que é a Serena pra você?
Daniel pousou a xícara de café.
— Uma colega do ensino médio. Um dia, ela levou uma facada por minha causa e me salvou a vida. Está se recuperando em Norvane desde então.
— É mesmo? Só uma colega? A que salvou a sua vida? E é só isso?
A testa dele se contraiu.
— Freya, não quero que você implique com ela só porque foi morar na casa dos Seymour.
Ri, com o amargor transbordando na voz.
— Isso é um aviso?
O tom dele cortou como gelo.
— É um lembrete. Rena não está bem. Ela não pode passar por nenhum estresse.
Apenas assenti.
A defesa direta que ele fez dela já era mais do que eu esperava. O que mais havia para dizer?
— Entendi, vou subir. — Falei por fim, levantando.
Passei o dia inteiro no quarto de hóspedes. As empregadas trouxeram almoço e jantar, e eu não desci nem uma vez.
À noite, fiquei deitada sem conseguir dormir. Era justamente nessa hora que Daniel costumava abrir a porta, me prender sob o corpo dele sem dizer palavra, segurar minha cintura e me chamar de "princesa".
Mas naquela noite, o corredor ficou em silêncio.
Claro, Serena estava de volta ao lado dele. Por que ele pensaria em mim agora?
...
No dia seguinte, que era fim de semana, Daniel não foi ao escritório.
Por volta das dez da manhã, ele bateu na porta do meu quarto.
— Freya, tem um evento hoje à noite. Vem comigo.
Abri a porta e vi que ele já estava de terno preto.
— Que tipo de evento?
— Um encontro do nosso círculo.
Eu realmente não queria ficar sozinha naquela casa cheia de lembranças, então assenti.
...
Às sete da noite, o carro de Daniel parou em frente a um clube privado.
Eu o segui para dentro e encontrei o lugar decorado de forma acolhedora, com flores e fitas por toda parte. Não parecia em nada com os encontros empresariais que eu costumava frequentar.
Antes que eu perguntasse qualquer coisa, uma voz familiar ecoou:
— Danny! Finalmente você chegou!
Serena surgiu, deslizando até nós em um vestido de gala branco, leve como uma borboleta. Quando me viu, sua expressão congelou por um segundo, mas logo se acendeu num sorriso doce.
— Freya, você também veio! Que bom!
Olhei ao redor e vi uma faixa que dizia: "Bem-vinda de volta, Serena."
Então era pra isso que Daniel me tinha trazido, uma festa pra comemorar a volta dela ao país.
Virei-me pra ir embora, mas Serena se colocou na minha frente. Olhou pra mim com preocupação.
— Freya, o que foi? Você não está se sentindo bem? Ouvi dizer que se mudou da casa. Foi por minha causa? Me desculpa. Eu não sabia que o Sr. Seymour ia me colocar no seu quarto.
A voz dela era suave e delicada, mas alta o bastante para que os convidados próximos ouvissem. Alguns olharam pra mim, curiosos.
— Tudo bem. É só um quarto. — Respondi.
Os olhos dela se encheram de lágrimas.
— Mas o Sr. Seymour disse que você até rompeu com ele. E é tudo por minha culpa. Se eu não tivesse voltado...
— Serena — interrompi. — O que aconteceu entre mim e o Alfred não tem nada a ver com você. Você é só uma estranha nisso tudo.
As lágrimas escorreram de vez, e ela olhou pra Daniel, trêmula e frágil.
Ele se aproximou, me lançou um olhar de aviso e disse a ela, com gentileza:
— Não chore. Seus olhos vão inchar.
Então tirou um lenço do bolso e enxugou as lágrimas dela com cuidado.
Ela deu uma risadinha entre as lágrimas.
— Você é tão doce comigo, Danny.
Fiquei parada ali, vendo aquela cena aconchegante, com o peito apertando como se estivesse mergulhado em um balde de gelo.
Virei-me para a mesa de bebidas, peguei uma taça de champanhe e engoli metade de uma vez só.