O segredo dos gêmeos

O vento soprava forte nas montanhas geladas daquele país distante. O inverno havia chegado cedo, cobrindo as florestas de branco e silenciando até os lobos que, em noites comuns, uivavam para a lua cheia. Dentro de uma cabana simples, isolada do mundo, duas crianças gêmeas de apenas sete anos brincavam próximas à lareira. Seus risos inocentes ecoavam pelo espaço pequeno, mas eram risos que carregavam em si um peso invisível — o peso de um destino que nem mesmo eles compreendiam.

Apolo e Arthur , assim se chamavam. Iguais no rosto, mas diferentes na alma. Artur tinha olhos de um azul profundo, herdados da mãe, que refletiam uma sensibilidade incomum. Apolo, por outro lado, tinha o olhar intenso e Azuis escuro, como o pai, e um temperamento que oscilava entre calma e explosão. Apesar de tão pequenos, já demonstravam uma energia estranha, como se dentro deles pulsasse algo que nenhuma criança deveria carregar.

O pai, Darius, era um alfa marcado pela guerra. Havia jurado lealdade a Magnus, o senhor das sombras, quando o mundo sobrenatural se dividiu. Agora, com a queda de Magnus e a purificação da deusa da lua, vivia atormentado. Cada passo que dava parecia vigiado, cada decisão parecia arrastá-lo mais perto da condenação. Muitos alfas que haviam se rendido à escuridão foram caçados e mortos, suas alcateias destruídas. Darius sabia que poderia ser o próximo.

Mas havia algo que ele ignorava. Algo que sua companheira, Lyra, guardava em silêncio como quem protege um tesouro sagrado. Ela era uma banshee, uma criatura de presságios e lamentos, ligada ao véu entre a vida e a morte. Desde o nascimento dos gêmeos, sabia que eles carregavam uma marca única. Quando Apolo chorou pela primeira vez, seu choro fez todas as velas da cabana se apagarem de uma só vez. Quando Arthur riu ainda bebê, o som fez os lobos da montanha se curvarem e uivarem em reverência.

Lyra nunca contou nada a Darius. O medo era maior que a confiança. Sabia que, se ele descobrisse, poderia usar os filhos para tentar redimir-se, ou pior, entregá-los a algum inimigo na esperança de ganhar piedade. Ela não confiava mais nele desde que jurou lealdade às sombras.

Naquela noite, os meninos pararam a brincadeira e ficaram em silêncio, olhando pela janela coberta de gelo. A lua estava cheia, e algo dentro deles despertava toda vez que a viam brilhando assim.

— Você sentiu isso? — perguntou Arthur ao irmão, sua voz baixa, quase um sussurro.

— Senti… como se alguém chamasse a gente — respondeu Apolo, estreitando os olhos para a lua.

A mãe, que costurava em um canto da cabana, estremeceu ao ouvir aquelas palavras. Seu coração acelerou. O chamado da lua… era cedo demais para que eles percebessem.

A lua ainda era bebê e os dois criança, seria muito arriscado para eles se encontrarem.

— Venham, meninos, é hora de dormir — disse Lyra, tentando disfarçar o nervosismo.

Os gêmeos obedeceram, mas ainda trocando olhares cúmplices. No fundo, sabiam que algo neles era diferente. Arthur sonhava constantemente com uma mulher de cabelos prateados, que o chamava por um nome que ele não entendia. Apolo, por sua vez, ouvia vozes nas sombras da floresta, vozes que pediam que ele fosse mais forte, que não tivesse medo. Nenhum dos dois ousava contar ao pai. Mas com a mãe, às vezes, deixavam escapar uma palavra, um desenho, um sonho.

Naquela mesma noite, Lyra foi até eles depois que adormeceram. Tocou o rosto de cada um, lágrimas silenciosas escorrendo de seus olhos. Ela sabia que não poderia esconder para sempre. A deusa da lua havia protegido o mundo e proibido novas guerras entre sobrenaturais, mas isso não impedia que os resquícios da escuridão buscassem formas de retornar.

— Meus pequenos… vocês são o futuro, ainda que não saibam. — Ela sussurrou, como se eles pudessem ouvir mesmo dormindo. — A deusa os escolheu, e eu… eu só posso rezar para que sobrevivam quando chegar a hora.

Do lado de fora, Darius caminhava inquieto pelo jardim coberto de neve. Sentia-se caçado mesmo na ausência de inimigos. Os rumores diziam que muitos antigos aliados de Magnus ainda procuravam por crianças especiais, descendentes de linhagens antigas, para sacrificar ou corromper. Ele não sabia que tinha em casa exatamente o que esses rumores descreviam.

O tempo passou lentamente, e os dias seguintes foram de silêncio e tensão. Os gêmeos continuaram crescendo em segredo, escondendo seus dons até mesmo de si mesmos. Certa vez, enquanto brincavam no bosque, Arthur escorregou e caiu em um lago congelado. Apolo, em pânico, gritou tão alto que o gelo se partiu sozinho, arremessando Arthur de volta para a margem, como se a própria natureza tivesse obedecido ao seu chamado. Os dois ficaram paralisados, ofegantes, sem entender o que havia acontecido.

— A gente não pode contar pro papai — disse Arthur tremendo.

— Nunca — respondeu Apolo sério, com um olhar de adulto em um corpo de criança.

Lyra assistia de longe, escondida, o coração apertado. Sua intuição gritava que o destino dos filhos estava se aproximando, e nada poderia detê-lo.

Numa noite de tempestade, a verdade quase veio à tona. Darius, bêbado e tomado pela raiva de sua própria fraqueza, gritou com Lyra, acusando-a de esconder algo.

— Você pensa que não percebo? Esses meninos não são normais! Eles olham pra lua como se fossem deuses, Lyra! — rugiu ele, batendo com força na mesa.

— Eles são apenas crianças! — respondeu ela, protegendo os gêmeos que se encolhiam atrás dela.

Mas Darius não acreditava. A paranoia o corroía, o medo de ser caçado e o peso da culpa por sua lealdade às trevas o tornavam cada vez mais instável.

Lyra sabia que chegaria o dia em que teria de escolher: revelar ao mundo quem eram seus filhos, ou continuar protegendo-os até que o destino viesse buscá-los.

E, acima de tudo, sabia que não estava sozinha nessa decisão. Pois todas as noites, quando olhava para a lua, sentia a presença da deusa observando-os. A deusa que havia silenciado a guerra, mas que também havia deixado um recado: o verdadeiro equilíbrio só retornaria quando a lua encontrasse o seu par.

E Lyra tinha certeza de que seus filhos Apolo e Arthur estavam destinados a esse futuro.

Este capítulo é apenas um gostinho do próximo livro,

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