“Há noites que não dormem — elas apenas olham de volta.”
— Ditado entre as cortesãs da Cidade-Ilha de Mirlêa
A fumaça de kahve dançava em delicadas espirais, como véus de uma antiga deusa, perfumando o pequeno aposento com notas de cardamomo e carvão. A mesa era de madeira gasta, o chão, frio como os olhos dos senhores que vinham e partiam com moedas entre os dedos e segredos nos bolsos.
Lunara, de olhos cor de mel e expressão distante, segurava a pequena xícara como se ela pudesse aquecer algo além das mãos.
— Três sumiram esta semana. — disse sua amiga, Selin, enquanto soprava o vapor da própria xícara. — Três. Como se fossem penas levadas pelo vento.
— Não foi o vento que as levou. — Lunara respondeu, com voz seca como as terras do leste. — Foi algo mais escuro… algo com fome.
Lunara nem sempre fora uma cortesã.
Houve um tempo em que o mundo era feito de folhas caindo no outono, das histórias do pai — um poeta caçador — e da mãe, que tecia encantamentos com ervas e palavras doces.