Mundo ficciónIniciar sesiónWallace Thane
Nelson, CA Tyler disparava pelas ruas como se tivesse fogo nos calcanhares, enquanto eu e Lucan caminhávamos atrás dele, cumprimentando turistas sorridentes e moradores que já estavam acostumados com o caos ambulante que era meu filho. — Me diz que você pelo menos encontrou uma candidata nova pra vaga — Lucan comentou, ajeitando o sobretudo como se fosse prêmio de elegância da cidade. Suspirei pesado. — A última fugiu tão rápido que eu juraria que teleportou. Tyler fez ela levar o maior susto da vida… e cair da escada. — Passo uma mão no rosto. — Se Agnes não estivesse por perto, teríamos mais um problema gigante. — O menino tá ficando forte — ele disse, num tom quase orgulhoso, o que me fez revirar os olhos. — Tentou ver com Agnes alguma poção pra acalmar os poderes dele? — Ela disse que ia pesquisar. Mas até lá… — dou de ombros. — Boa sorte pra mim. Quando ergui o olhar, meu coração deu um tranco. Tyler havia sumido. O instinto tomou o controle, afiado como uma lâmina. O ar ficou mais denso, meus músculos tensionaram, e eu comecei a farejar qualquer rastro dele. — Tyler! — chamei, já imaginando o caos que encontraria. Mas o caos não era o que me esperava. Era uma mulher. E… meu filho conversando com ela. Por um instante, o mundo pareceu desacelerar. A rua, as pessoas, o vento… tudo ficou em segundo plano quando meus olhos pousaram nela. Alta, cabelo longo e escuro que caía pelas costas como um rio de tinta, pele iluminada pela luz da manhã, e aqueles olhos… azuis, profundos, como um céu prestes a chover. E o sorriso. Inferno. Aquele sorriso tinha algo perigoso, doce demais, suave demais. Um sorriso que poderia desarmar até um lobo velho e calejado como eu. Meu lobo rosnou, baixo, imperceptível para qualquer humano, mas rosnou. Que diabos…? Ela era humana. O cheiro denunciava isso de imediato. E ainda assim algo dentro de mim se agitou como se estivesse tentando atravessar a minha pele. Puxei Lucan e me aproximei. — E você está sozinho, querido? — ouvi ela perguntar, inclinada na altura de Tyler, a voz suave como um carinho. — Não. — minha voz saiu mais fria do que eu pretendia. — Sou o pai dele. Ela se virou para mim. E minha respiração falhou de novo. Não. Ela era ainda mais bonita de perto. Sardas como constelações, lábios carnudos que pareciam tentação pura, e aquele olhar… como se ela enxergasse algo além do que eu mostrava. O coração dela disparou audível para mim. Para um humano, seria só ansiedade. Para mim… era música. — Ah — ela murmurou, tentando recompor o fôlego. Tyler, claro, estava segurando um cachecol lilás que exalava o perfume dela — um aroma leve, floral, com algo cítrico no fundo. Meu filho analisava o tecido como se fosse o achado do século. — Ele pegou isso de você? — perguntei, arqueando a sobrancelha. Ela negou. — O vento levou. Ele trouxe pra mim. É um menino muito educado. — Ela sorriu para Tyler, como se o restante do mundo não importasse. E Tyler sorriu de volta. Meu filho. Sorrindo. Para alguém que não fosse Agnes. Lucan quase engasgou ao meu lado. — Seu cachecol é tão macio… e cheiroso — Tyler disse, sincero, e eu quase tive certeza de que meu amigo ia desmaiar. A mulher riu. E meu lobo rosnou de novo. — Pode ficar com ele, querido. Está frio demais pra você ficar sem. — disse ela, com aquela doçura que eu não sabia nem como lidar. — Sério? Obrigado, tia! — E Tyler simplesmente abraçou ela. Abraçou. Tyler, o mesmo garoto que evitava qualquer toque físico desde que seus poderes começaram a despertar. Tyler, que mal tolerava quando eu tocava no ombro dele. E estava abraçando uma estranha. Algo não fazia sentido. — Tyler, isso não é educado. — falei, firme. Ele me lançou um olhar contrariado e, por um segundo, os olhos dele brilharam em um amarelo tênue. O lobo dele estava à flor da pele. — Está tudo bem. — ela disse, numa calma que apagou aquele brilho nos olhos dele instantaneamente. — É um presente para o pequeno Tyler. — Qual é o seu nome? — perguntei em um impulso. Ela ergueu o olhar para mim. — Madson Granger. Lucan soltou um assobio baixo. Ah. Então essa era a famosa sobrinha de Agnes. — Sou Wallace Thane — respondi. — Esse é Lucan Delgado. Prefeito da cidade. Lucan, o pavão, fez questão de apertar a mão dela com todo o charme possível. Por isso se encaixou tão fácil como prefeito, e era um ótimo beta. — Um prazer, senhorita Granger. Espero que esteja aproveitando a cidade. Madson sorriu — pequeno, tímido, bonito demais. Antes que eu pudesse dizer algo, uma voz conhecida ecoou: — Mads, achei uma rosa lindíssima e… Sabrina estancou ao nos ver. Os olhos dela foram de Madson para mim e depois para Lucan, lentamente. — Mas que… o que vocês estão fazendo aqui? — perguntou, sem nenhuma cerimônia. — Bom te ver também, prima — dei um sorriso curto. Madson piscou, confusa. — Mads — Sabrina se aproximou dela. — Esse é meu primo, Wallace. E aquele ali é o idiota do melhor amigo dele, o Lucan. — Prefeito. — Lucan a corrigiu com uma reverência exagerada. — Não esqueça, cachinhos dourados. Ela resmungou um palavrão, e Madson riu. Riu. E o som bateu direto no meu estômago, como um soco leve. Tyler ainda estava ao lado dela, mexendo no cachecol, completamente tranquilo. Era surreal. Tudo estava muito surreal, na verdade. — Bom… — eu disse, tentando recuperar o controle da situação ridícula que estava se formando. — Tyler, vamos. Ele ergueu o olhar para mim. E, surpreendentemente, pegou na minha mão sem reclamar. Aquilo me pegou desprevenido. Madson observava a cena com um olhar curioso, como se estivesse tentando montar um quebra-cabeça que ainda não fazia sentido. E talvez… talvez não fizesse mesmo. Mas uma coisa eu sabia: quando me afastei, deixando aquele perfume floral para trás, alguma parte de mim, a parte que eu fingia não ouvir, voltou a rosnar. Como se dissesse: Volte. E eu me obriguei a não voltar. — Papai! — Tyler me chamou, me virei para ele. — Você bem que poderia pedir ela pra ser minha babá, eu ia gostar dela. Me virei para Lucan que estava tão surpreso quanto eu. Será que eu estava delirando?






