Capítulo 03

༺ Isabela Martins ༻

Finalmente terminei de colocar as últimas caixas dentro do meu novo lar. Dou uma boa olhada em volta, avaliando o espaço e pensando nas melhores maneiras de organizar tudo.

Alguns móveis já estavam aqui antes de eu chegar — fechei um acordo com o antigo proprietário, que topou me vender por um valor ótimo.

Subo as escadas com minhas malas e entro no meu quarto, bem mais espaçoso do que o da casa da minha mãe.

Troco os lençóis e fronhas dos travesseiros, abro as malas e começo a organizar minhas roupas no closet. O foco agora é limpar ao menos o quarto onde vou dormir esta noite. O resto da casa pode esperar.

Duas horas depois, ainda limpando, meu estômago dá um grito.

"Nossa, me ocupei tanto com a casa que até esqueci de comer."

Vou até a cozinha, na esperança de encontrar algo nos armários ou na geladeira. Nada. Totalmente vazios. Dou um suspiro derrotado e resmungo:

— Sou uma burra mesmo. Como é que ia ter comida aqui se acabei de me mudar? Preciso fazer compras... e tô morrendo de fome!

Procuro minha bolsa, checo se o dinheiro está lá, não quero passar a vergonha de chegar no caixa e dar aquela clássica desculpa: “Esqueci o dinheiro em casa.” Tudo certo. Pego as chaves, entro no meu velho Fusca azul e parto em direção ao mercadinho mais próximo.

Algumas quadras depois, encontro um mercado. Estaciono, desço e vou em direção à entrada. Algumas pessoas que estão do lado de fora olham pro meu carro e caem na risada. Um mauricinho encostado perto da porta solta:

— Olha só... uma lata velha e ainda edição limitada? Que gracinha!

Reviro os olhos com o deboche barato e respondo com firmeza:

— E o que você tem com isso? Te conheço por acaso pra vir com essa intimidade toda, seu babaca?

— Sabe com quem tá falando, sua vagabunda?

Dou uma risada debochada, olho ele de cima a baixo e rebato:

— Não! E nem faço questão de saber. Agora, me poupe. Vai arrumar o que fazer, idiota. Quer zoar meu carro? Fique à vontade. Gente como você normalmente é vazia por dentro. Cheia de gente ao redor, mas vive como se estivesse sozinha. Com licença.

Abro a porta do mercado e entro, deixando ele e a plateia sem reação. Pego o carrinho e começo minhas compras. Vou passando pelas seções, pego algumas lasanhas e pizzas congeladas — minhas paixões — e dou uma olhada nos hortifrútis. Mas a seção de doces e salgados... nada de encontrar!

Dou mais uma volta e, de novo, nada. Já estou ficando frustrada quando ouço uma voz divertida atrás de mim:

— Oi! Desculpa perguntar, mas você tá procurando alguma coisa? Já te vi passar aqui umas três vezes... parece que tá buscando "o item".

Viro-me e dou de cara com um moreno claro de olhos verdes, porte atlético, cabelos lisos até o ombro... Um pedaço de mau caminho. Saio do transe e respondo:

— Tô procurando a seção de doces e salgados. Quero levar uns biscoitos e minha pasta de amendoim, mas parece que essa parte do mercado se escondeu de mim hoje.

Ele sorri e faz um gesto com a cabeça.

— Vem comigo. É por aqui. Também me perdi todo nesse mercado quando me mudei pra cá.

Caminho ao lado dele e, quando chegamos na tal seção, fico pasma. Já tinha passado por ali pelo menos duas vezes.

— Sério isso? Como não vi antes?

Pego meus biscoitos, meus salgadinhos e, claro, dois potes de pasta de amendoim. Sorrio para ele, aliviada.

— Muito obrigada! Já estava ficando aflita por não achar.

Ele dá de ombros, ainda sorrindo, enquanto coloca alguns biscoitos no carrinho dele:

— Relaxa. Você é nova por aqui, né? Aconteceu o mesmo comigo quando cheguei. Ah, sou Edgar Lewis. Muito prazer.

— Isabela Martins. Sou de Virginia, cidade pacata, tranquila... talvez até meio caipira.

— Nova Iorque. Correria, barulho e trânsito infernal. — ele ri, e eu ajeito o cabelo, tentando parecer mais composta.

— Foi um prazer te conhecer, Edgar, mas preciso ir. Tô faminta e quero preparar algo rápido.

— Se quiser, posso cozinhar pra você. Sou um ótimo chef!

Ele pisca, sedutor. Fico meio sem jeito e respondo:

— Outro dia, talvez. Hoje só quero algo prático. Estou exausta.

— Então deixa que eu te levo num restaurante aqui perto. Comida caseira de verdade!

A insistência dele começa a me deixar desconfortável.

— É melhor não. Sério, só quero ir pra casa.

Empurro meu carrinho, mas ele continua andando ao meu lado.

— Me desculpa, de verdade. Acho que fui meio direto demais. Mas é que... gostei de você. Só queria te conhecer melhor.

Respiro fundo. A lembrança do meu ex, o infeliz do Jules, aparece na mente. Dou um passo atrás, firme:

— Olha, você parece ser legal. Mas não vai rolar. Não tô interessada.

Ele cruza os braços, me encara de cima a baixo, e então solta uma gargalhada alta:

— Nossa! Você achou que eu tava dando em cima de você?

As pessoas ao redor começam a olhar. Eu só queria sumir no chão.

— Bem... foi o que pareceu! — respondo, encabulada. — Com licença.

Mas Edgar se adianta, rindo:

— Espera! Não tô dizendo que você não é bonita. Pelo contrário, você é linda. Mas... sou gay, gata! Só queria fazer amizade mesmo. Tô morando aqui há três meses, e essa cidade é um deserto pra conhecer gente legal.

Fico ali parada, com a maior cara de tacho.

"Parabéns, Isabela. Mais um mico pra coleção."

Penso no meu irmão Yuri, também gay, e rio comigo mesma. Como não percebi? Talvez por ele parecer mais... másculo. Vai entender.

— Tá bom... Se eu te convidar pra ir na minha casa, você me deixa em paz?

— Prometo! E ainda faço um macarrão com queijo que é de comer rezando!

Dou uma risada e seguimos juntos até o caixa. Cada um paga suas coisas, e saímos.

Quando Edgar vê meu Fusquinha, fica com cara de quem viu um palito de dente pra se encaixar.

— Me diz uma coisa... Como é que um homem do meu tamanho vai entrar nesse carro minúsculo?

Abro a porta, coloco as sacolas no banco de trás e respondo:

— Isso aí é puro charme vintage! Se cabe no ego, cabe no Fusca.

Ele ri, se espreme como pode e entra. No caminho, me conta que é designer gráfico em uma das indústrias Scott. Ama o que faz, tem projetos incríveis e, apesar de não ser daqui, já está se acostumando com o novo ritmo.

Eu só ouço, pensando...

“Você e o Yuri... Vocês dariam um casalzão.”

Nem bem cheguei, e já ganhei um amigo.

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