Mundo ficciónIniciar sesiónAquela semana foi um exercício de autocontrole. Eu entrava na sala de aula tentando parecer apenas mais um professor em início de semestre, cumprimentava a turma, abria meus slides e iniciava a explicação. Mas bastava levantar os olhos e vê-la sentada ali, cabelos negros caindo sobre os ombros, fingindo anotar algo no caderno, para que todo o meu discurso ensaiado ameaçasse ruir.
Camila. Ela não me olhava diretamente. Talvez porque sabia o que encontraria em mim. Ainda assim, em pequenos descuidos, nossos olhos se encontravam. Um choque breve, rápido, como um raio que incendeia por dentro antes de desaparecer. E então ela desviava, voltava a escrever, mas eu sabia. Sabia que ela também sentia a mesma corrente elétrica atravessando o ar. A aula seguia arrastada para mim, ainda que eu me esforçasse em parecer absolutamente neutro. Cada vez que passava perto da fileira onde ela estava, era como sentir o cheiro de perigo, doce, viciante, impossível de ignorar. No fim da aula, quando todos já guardavam mochilas e se levantavam, tomei uma decisão estúpida. Já havia feito uma busca de seu histórico dentro da universidade, ela é uma das melhores alunas de sua turma, dedicada e muito inteligente. Mas precisava de um momento sozinho com ela, queria ter a certeza, quieria ouvir dos seus doces lábios que eu era para ela apenas uma aventura de uma noite, dentro de mim lutava para que ela dissesse que também pensa em mim o tanto quanto penso nela. — Camila. — chamei seu nome em voz firme, tentando soar natural. — Preciso falar com você um instante, te vi um pouco desatenta durante a aula, podemos conversar um pouco? Ela me olhou surpresa, e os colegas em volta também. Uma das alunas, uma ruiva sempre cheia de comentários, não perdeu a chance de brincar: - Professor, cuidado… vai se frustrar. A Camila pode até dormir na aula, mas ainda assim tira nota mais alta que todo mundo. A turma riu. Eu disfarcei com um sorriso curto, mas por dentro me diverti com a informação que ja sabia, essa mulher precisa ter algum defeito, não pode ser perfeita dessa forma, inteligente, linda, gostosa, boa de cama, tem os melhores beijos, um cheiro viciante, linda... Eu ja disse linda? Ela, por sua vez, corou imediatamente. As bochechas cor-de-rosa, o olhar baixo. Tão linda que precisei virar de costas para não trair o sorriso que ameaçava escapar. Quando a sala finalmente esvaziou, fechei a porta. Ficamos apenas nós dois. O silêncio parecia pulsar. Ela ajeitava os cadernos no colo, nervosa, e eu sabia que não poderia enrolar. - Preciso ser honesto - comecei, minha voz mais grave do que eu queria. - Eu sei que isso é uma loucura. Sei o quanto é proibido. Mas não consigo… não consigo esquecer aquela noite. Ela ergueu os olhos para mim, e havia medo neles. Um medo real, que doeu em mim. - André… - o nome saiu baixo de sua boca, como se fosse um erro pronunciá-lo. - Foi só uma noite. É isso o que precisamos aceitar. Foi só uma noite. Balancei a cabeça, me aproximando um passo, quase sem perceber. - Pode repetir isso quantas vezes quiser… mas não vai apagar o que aconteceu. Não vai apagar o que eu senti quando te toquei. Para mim foi muito mais que uma noite. Ela apertou os lábios, como se minhas palavras fossem um golpe. A respiração dela ficou mais rápida, os olhos marejados. - Não podemos - sussurrou, a voz embargada. - Pelo bem de nós dois… esqueça. E antes que eu pudesse responder, pegou os livros e saiu quase correndo, os olhos brilhando de lágrimas contidas. Fiquei sozinho na sala, o coração batendo contra o peito como se tivesse acabado de correr uma maratona. Passei as mãos pelos cabelos, frustrado, a garganta seca. Era isso. Eu deveria aceitá-la como apenas mais uma aluna. Mas como? Como esquecer o gosto dela, o calor daquela noite, agora que o destino a colocara exatamente diante de mim todos os dias? Fechei os olhos e respirei fundo. Eu estava perdido - e sabia que a queda só estava começando. Sai dali frustrado, a raiva consumia todo meu corpo, não dela, por ela sentia apenas atração, vontade de cudar dela, de ter ela novamente em meus braços, de poder acariciar sua pele e dizer a todo momento que ela era minha, sempre minha pequena, minha doce Camila. Aquela que eu vi sair da sala não era nada parecida com a que conheci naquela balada, eu vi ali nos olhos dela alguém que também estava se quebrando por abrir mão de algo que queria tanto. "Ah Camila, se você soubesse como meu travesseiro ja sabe decorado seu nome por tanto que te chamo todas as noites desde que descobri como você se chama" Se ela ao menos imaginasse como ela me faz sentir um adolescente na puberdade que se toca pensando na gorota que gosta. cada canto da minha casa ja sabe o nome dela, meu corpo agora só reage a ela... ah Camila, não foge de mim... P.O.V. Camila Saí da sala quase tropeçando nos próprios pés. Eu precisava de ar. Precisava colocar distância entre nós antes que desmoronasse de vez. As lágrimas ardiam nos olhos, mas não me permiti chorar ali, no corredor, diante de tantos colegas. Andei rápido até o banheiro feminino e me tranquei em uma das cabines. Apoiei a testa contra a porta fria, tentando recuperar o fôlego. “Foi só uma noite.” A frase ainda ecoava na minha cabeça, como se tivesse sido cuspida por alguém que não era eu. Eu tinha dito aquilo para me proteger, para proteger a ele, mas a cada repetição ela soava mais falsa, mais cruel. Porque não tinha sido apenas uma noite. Meu corpo lembrava. Meus lábios ainda sabiam o gosto dele. E quando André me olhou, com aquela intensidade que parecia atravessar todas as minhas defesas, eu quis simplesmente me render. Passei alguns minutos ali, respirando fundo, tentando controlar o tremor nas mãos. Quando finalmente consegui me recompor, lavei o rosto, ajeitei os cabelos e saí fingindo que nada havia acontecido. No apartamento, à noite, Letícia percebeu de imediato, sempre atenta a tudo e me questionou. - Tá tudo bem, Camila? Você tá esquisita. - Ela largou o celular na mesa e me encarou com aquela expressão curiosa de sempre. Balancei a cabeça, tentando sorrir. - O que o professor gato queria com você? - perguntou Eu não podia dizer a verdade, não agora, minhas amigas surtariam com essa história louca. - Apenas pediu que não me distraisse mais. - Disse apenas e corri para o quarto, precisava pensar, ficar sozinha, e me convencer que esquecer André era a coisa certa a se fazer, será apenas um semestre e pronto, não nos veriamos mais com tanta frequência e com o tempo esse desejo louco passaria... Teria que passar... — O expliquei que era apenas o cansaço do novo semestre… nada demais. Mas Paula não se convenceu tão fácil, abandonou seu laptop de lado e foi direta como sempre. — Hummm… eu conheço esse olhar. Não é cansaço, é outra coisa. Quem foi que mexeu com você? A pergunta foi um tiro certeiro, e precisei desviar o olhar antes que elas percebessem a verdade. Peguei uma maçã da fruteira só para ocupar as mãos, mas a mordida não desceu. Meu estômago estava fechado. Passei a noite virando de um lado para o outro na cama. Sempre que fechava os olhos, via André. Via sua boca formando meu nome, sentia o calor do seu corpo, lembrava da firmeza da sua voz ao confessar que não me esquecera. E então, como uma faca, vinha a lembrança de mim mesma dizendo para ele esquecer. Era o certo. Eu sabia. Era a única escolha possível. Mas, deitada ali, o coração disparado e o corpo queimando de desejo, parecia impossível acreditar que conseguiria manter essa decisão por muito tempo. Eu estava me enganando. E talvez estivesse enganando a ele também. Me tocar nunca foi tão difícil como agora, eu não queria as minhas mãos, queria as dele. Era o cheiro dele que que queria sentir...






