Aquela semana foi um exercício de autocontrole. Eu entrava na sala de aula tentando parecer apenas mais um professor em início de semestre, cumprimentava a turma, abria meus slides e iniciava a explicação. Mas bastava levantar os olhos e vê-la sentada ali, cabelos negros caindo sobre os ombros, fingindo anotar algo no caderno, para que todo o meu discurso ensaiado ameaçasse ruir. Camila. Ela não me olhava diretamente. Talvez porque sabia o que encontraria em mim. Ainda assim, em pequenos descuidos, nossos olhos se encontravam. Um choque breve, rápido, como um raio que incendeia por dentro antes de desaparecer. E então ela desviava, voltava a escrever, mas eu sabia. Sabia que ela também sentia a mesma corrente elétrica atravessando o ar. A aula seguia arrastada para mim, ainda que eu me esforçasse em parecer absolutamente neutro. Cada vez que passava perto da fileira onde ela estava, era como sentir o cheiro de perigo, doce, viciante, impossível de ignorar. No fim da aula, quando to
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