Início / Romance / NÃO SOU MULHER DE Ninguém / Não sou mulher de ninguém
Não sou mulher de ninguém

                            06

  

       — Ou voar. — Ele segurou meu olhar com firmeza. — Mas eu prometo... se você cair, eu caio junto.

Engoli seco. A intensidade dele era como fogo em lençóis de seda.

Desci do carro sem dizer mais nada. Apenas o encarei por alguns segundos. E então, com o coração batendo fora do ritmo, sussurrei:

— Eu nunca fui boa em confiar.

— E eu nunca fui bom em merecer.

A porta fechou, e ele partiu.

Mas eu sabia... a próxima jogada era minha.

                         《♤♧◇♤》

    Na manhã seguinte, o sol mal tinha surgido e eu já estava de pé, sentada à mesa da cozinha com uma xícara de café entre as mãos e mil pensamentos na cabeça. A noite passada ainda pulsava em mim — o jantar, Jonathan, Elói… e aquela promessa velada. “Se você cair, eu caio junto.”Palavras bonitas. Mas eu sabia que, no mundo de Elói, palavras podiam ser armas ou armadilhas.Mamãe entrou na cozinha, me observando em silêncio antes de perguntar com doçura:

— Já decidiu se vai?

Assenti, olhando pela janela.

— Vou para Seul.

Ela apenas sorriu. Como se soubesse que essa decisão era sobre muito mais do que uma viagem.

Minhas malas já estavam praticamente prontas. Ao meio-dia, recebi a confirmação do voo. Partida às 23h45. Classe executiva, como Elói havia prometido. Tudo pago. E tudo calculado.Por volta das 18h, meu celular vibrou. Uma mensagem.

Elói: “O carro vai te buscar às 21h30. Use algo confortável. O voo é longo. E as próximas horas… intensas.”

Revirei os olhos, rindo sozinha. Arrogante. Confiante. E ainda assim, impossível de ignorar.

Escolhi uma calça de moletom preta de corte elegante, um top branco e um casaco longo. Prendi o cabelo em um rabo de cavalo baixo e finalizei com um perfume leve. Natural. Despretensiosa. Mas atenta a cada detalhe.Às 21h30 em ponto, o carro preto estava à porta. Entrei. E claro, ele estava lá.

Elói me observou em silêncio por alguns segundos.

— Gosta de cumprir horários. Gosto disso.

— E você gosta de controlar tudo — retruquei, sentando ao lado dele.

Ele sorriu.

— Só o que vale a pena controlar.

O trajeto até o aeroporto foi breve. Privado, claro. Sala VIP. Nenhuma multidão. Nenhuma distração.Durante o embarque, notei algo curioso. Ao lado da área reservada para nós, Jonathan. Elegante, sozinho, com um sorriso de canto nos lábios. Como se soubesse exatamente para onde eu ia — e com quem.

Elói notou também. E não disse uma palavra.

Já dentro do avião, acomodada ao lado de Elói, ele finalmente falou:

— Jonathan também estará em Seul. Ele tem negócios lá. Ou… talvez só queira me provocar.

Virei o rosto, encarando-o.

— E se ele quiser algo comigo?Elói se aproximou, a voz baixa, grave, quente:

— Ele pode querer. Mas só eu sei o que você faz quando olha assim.

Fiquei em silêncio.Porque ele estava certo.O avião decolou. E com ele, a certeza de que a viagem não seria apenas sobre negócios.

Seria sobre limites.Sobre poder.E, talvez… sobre algo que nenhum de nós estava pronto para nomear.

Durante o voo, o silêncio reinava ao nosso redor como uma bolha elegante e tensa. As luzes da cabine estavam baixas, e o som leve da aeronave preenchia os espaços entre uma respiração e outra.

Elói estava ao meu lado, com o cinto afivelado, os olhos fechados — mas eu sabia que ele não dormia. Ele pensava. Observava até de olhos fechados.Eu, por outro lado, não conseguia relaxar. Olhei pela janela. Lá embaixo, as nuvens escondiam tudo. Era como voar para o desconhecido.

Peguei o cobertor, ajeitei-me na poltrona e virei o rosto em direção a ele.

— Você está em paz? — perguntei de repente.

Os olhos se abriram lentamente, escuros e atentos.

— Paz é uma palavra que nunca combinou comigo.

— E o que combina?

— Conflito. Controle. Desejo. — Ele fez uma pausa, o olhar firme. — Você.

Desviei o olhar, como se a janela fosse capaz de me esconder.

— E você, está em paz? — ele devolveu.

Pensei por alguns segundos.

— Não. Mas estou em movimento. Acho que isso me basta.

Elói virou-se totalmente para mim. Agora não havia distração. Só nós dois.

— Quero que entenda uma coisa — disse com a voz baixa, grave, íntima. — Em Seul, as coisas são diferentes. Os jogos são mais sujos. As alianças são frágeis. E a confiança... é uma moeda rara.

— E eu? — perguntei. — Sou o quê nessa história?

Ele hesitou. Pela primeira vez, Elói Riveira hesitou.

— Você é o meu risco.

Meu coração bateu mais forte. Queria manter a compostura, mas as palavras dele me acertavam como socos envoltos em veludo.

— E por que correr esse risco?

Ele se inclinou, os rostos próximos, a respiração dele roçando a minha pele.

— Porque às vezes... o risco é a única coisa que nos mantém vivos.

Ficamos assim por alguns segundos. Um quase-beijo, um quase-erro. Mas ninguém se moveu.

Ele se afastou devagar e fechou os olhos outra vez, como se quisesse escapar do que acabara de acontecer.

E eu fiquei ali, encarando o teto da cabine, com a certeza de que, em Seul, tudo mudaria.Tudo.

O avião pousou em Seul pouco depois das 18h, horário local. A cidade nos recebeu com um céu carregado de nuvens cinzentas e uma leve garoa que fazia os vidros da limusine escurecida parecerem ainda mais opacos.

No trajeto até o hotel, Elói permaneceu calado, os olhos fixos na cidade que passava. Eu, por outro lado, absorvia tudo — os letreiros em hangul, as luzes em tons de neon, os passos acelerados das pessoas nas calçadas. Era como mergulhar em outro universo.

Chegamos ao hotel. Luxuoso. Alto. Silencioso demais.

A recepcionista nos conduziu até os andares superiores — suítes executivas, claro. Quando a porta se abriu, me vi diante de um quarto de vidro, mármore e madeira. E o detalhe que me fez engolir em seco: havia uma porta interna ligando meu quarto ao de Elói.

Ele notou meu olhar.

— Praticidade. — Disse apenas.

— Claro — respondi com ironia, deixando minha mala sobre a poltrona. — Nada mais prático que dividir o mesmo andar, a mesma vista... e o mesmo perigo.

Ele se aproximou, soltando o paletó e abrindo o primeiro botão da camisa.

— O verdadeiro perigo é você achar que ainda pode manter distância.

Antes que eu pudesse responder, o interfone do quarto dele tocou. Atendeu sem pressa.

— Sim?... Sim. Pode subir.

Desligou. Me encarou com uma expressão indecifrável.

— Jonathan está vindo.

Meu corpo enrijeceu.

— Aqui?

               

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App