Rosa viu sua vida mudar drasticamente na adolescência após perder os pais em um trágico acidente que também resultou na perda de uma perna. Sob o domínio de uma avó que a despreza, Rosa enfrenta a solidão e a amargura, enquanto suas irmãs desfrutam de privilégios. Determinada a encontrar paz e redescobrir suas raízes, Rosa retorna à Argentina, onde é tocada pela inocência e alegria de Nina, uma jovem cuja presença lhe traz um novo sentido de esperança. Juan Carlos, um respeitado cirurgião, também tem sua vida transformada ao assumir a responsabilidade por Nina, sua filha de um breve romance. Comprometido em proporcionar um lar estável para Nina, ele enfrenta desafios emocionais profundos enquanto se adapta ao papel de pai solteiro. À medida que Rosa e Juan Carlos enfrentam suas batalhas pessoais, seus caminhos se entrelaçam de maneiras surpreendentes. Em meio a um turbilhão de emoções, eles descobrem que, mesmo nos momentos mais difíceis, o amor verdadeiro pode curar feridas antigas e abrir caminhos para um futuro repleto de esperança e possibilidades.
Leer más"Rosa"
— Rosa, Rosa — ouvi gritos estridentes e pancadas na porta que faziam as paredes do meu minúsculo quarto estremecerem. Quem me vê neste quarto, onde só cabe uma cama de solteiro e eu muitas vezes tenho que ficar curvada para não bater a cabeça, já que fica debaixo da escada, pensaria que sou pobre ou vivo de favor neste lugar. Mas a verdade é que tudo nesta casa é meu, e o lugar é muito grande, tem seis quartos. Porém, minha avó não me deixa dormir no andar superior; na verdade, ela nem gosta quando fico aqui. Saí do meu cubículo com cuidado, não podia fazer barulho e não queria bater a cabeça novamente, muito menos cair. — Finalmente você acordou — minha avó falou, já toda elegante. — Desculpa, eu fui dormir um pouco mais tarde... — Só espero que não tenha ido falar com um namoradinho. Você sabe que nenhum homem vai te amar. Afinal, quem vai querer namorar uma assassina e uma deficiente? — ela falou e me empurrou, fazendo-me cair. — Vovó! — Ramona gritou de cima da escada e veio correndo. — O que foi, minha netinha linda? Você já deve estar com fome — minha avó falou esboçando um sorriso para ela. — Levante logo daí e vá fazer o café das suas irmãs — ela falou, me chutando. — Não faz isso com a minha irmã — Ramona pediu. — Ela merece muito mais, essa assassina, miserável — minha avó falou, me dando outro tapa. — Você matou a minha filha — ela repetiu, como das outras vezes, e saiu. Tentei levantar, mas não conseguia, e isso sempre me fazia chorar. — Vem, Rosa, deixa eu te ajudar — Ramona falou, ajudando-me a levantar com cuidado. — Você se machucou? — ela perguntou, preocupada comigo. Eu me sentei no sofá e tirei a prótese da minha perna com cuidado. Está folgada desde que fui obrigada a voltar para o Brasil; eu perdi muito peso. — Rosa, não dê ouvidos para o que a vovó fala. Você vai encontrar um amor um dia. — Eu não ligo para isso, Ramona. Eu só quero ir embora o mais rápido possível daqui... — É só ir, ninguém está te segurando, você está aqui por opção — Rosário falou descendo as escadas de pijama. E ela, por um lado, está certa. Eu posso ir a hora que eu quiser, mas estou cansada de nunca pertencer a um lugar e ficar jogada de um lado para o outro. Também não posso sumir sem dinheiro, mas estou resolvendo isso. Eu preciso ter controle total do meu dinheiro, e mesmo eu estando aqui no começo para poder conviver com minhas irmãs, eu não as vejo há um tempo. — Não fale assim, Rosário. A Rosa está na casa dela, nós que moramos aqui de favor... — Se você não está lembrada, esta casa era dos nossos pais, e não da Rosa. O papai que foi um besta em ter colocado tudo no nome da aleijada — ela falou, e aquilo me deu vontade de chorar. Então só coloquei a minha prótese para sair dali o mais rápido possível. — Rosário, não fale assim da nossa irmã. Você sabe muito bem por que ela perdeu a perna, e tudo é dela. Nossa mãe nunca trabalhou, e todo o dinheiro que nossa família tem vem da Rosa. Agora pare de destilar seu veneno — Rosângela falou com um sorriso, vindo toda arrumada. Ela sempre foi uma fofa comigo. Bom, só a Rosário que, desde o acidente, ficou ácida e sempre me trata mal. — E você quer ajuda para tomar banho? — Rosângela perguntou. — Não precisa, Ângela, eu consigo sozinha. Mas deixa eu fazer o café de vocês. E você, Ramona, vai sair comigo? Hoje eu vou à universidade — falei, me levantando. Eu me viro muito bem sozinha. Uso prótese há quase 15 anos, então tenho muita praticidade em me locomover e me virar sozinha. Afinal, nunca tive ninguém para me ajudar. Cheguei na cozinha. Hoje a cozinheira precisou de um dia de folga, e como eu dei sem pedir à minha avó, ela está uma fera comigo. Mas a verdade é que ela não gosta de mim, nunca gostou; para ela, eu deveria ter morrido há muito tempo. — Você vai embora quando? — minha avó perguntou. — Se você quiser, eu converso com o padre Eduardo, ele pode arranjar um ótimo convento. — Obrigada, mas eu não tenho vocação religiosa, e não se preocupe, eu só estou esperando a resposta da universidade... — E claro, não vai procurar emprego? — Mas quem contrataria ela, vovó? Quem quer uma aleijada cuidando de criança? Não sei para que ela gasta tanto o nosso dinheiro — Rosário falou, e eu abaixei a cabeça. Eu queria falar, mas essas palavras sempre me machucam. — Para com isso, Rosário. O dinheiro é da Rosa, ela faz o que quiser — Rosângela falou, vindo até mim e ajudando a fazer as torradas. — O dinheiro é nosso. Ela matou os nossos pais, é o mínimo que ela tem que fazer — quando ouvi o que ela falou, eu derrubei o prato que estava na minha mão no chão. — Olha aí, é uma inútil mesmo... Ela falou mais alguma coisa, mas eu não ouvi. Saí da cozinha e fui para o banheiro, tirando a prótese e pegando minhas muletas. Fui para a frente do espelho e comecei a chorar. Às vezes eu só queria ter morrido também. Perder minha perna não foi o suficiente. Olhei para o meu joelho que estava machucado por causa do empurrão. — Se um Deus existe de verdade, por que me fez sofrer tanto assim? Por que eu não tenho um minuto de felicidade? Por que me tirou os meus pais? Eu preferia ter morrido com eles — falei, chorando. Eu sei que é verdade, ninguém nunca vai me amar de verdade. Afinal, quem realmente amaria uma mulher assim? Eu sou horrível e não mereço ser amada. Tomei meu banho e vesti uma roupa como sempre, comprida. Eu não gosto que as pessoas vejam minha prótese e venham com perguntas chatas de como eu perdi a perna ou tenham aqueles olhares de pena. Vesti uma calça jeans e coloquei minha coturno preta, uma blusa lilás com uma das frases que eu mais amo. "Antes de falar qualquer coisa, se coloque no lugar de quem vai escutar." Eu só queria que mais pessoas realmente entendessem esta frase ou dessem atenção. Mas eu já entendi há muito tempo que as pessoas são más, e não há nada que eu faça que possa mudar o mundo. A única coisa que tenho que fazer é a minha parte. Arrumei minha bolsa. Eu precisava falar com o meu advogado pessoalmente. Saí de casa sem falar com ninguém. Não quero que a minha avó descubra a verdade sobre o dinheiro. Eu morro de medo de dirigir, e na verdade evito andar de carro. Faço tudo a pé ou de metrô, como vou fazer agora. Eu preciso saber se consegui a vaga na minha pós e resolver a questão do meu dinheiro. ©©©©©©©©© Continua...Juan Carlos Hernandez Depois da conversa com Rosa, eu tinha certeza de três coisas: a primeira, ela nos colocava sempre em primeiro lugar; a segunda, eu estava certo em recusar a promoção; e a terceira, eu não podia perdê-la de jeito nenhum. Com essa certeza, fui dormir mais tranquilo. Mas, por algum motivo, uma menininha invadiu meus pensamentos. Pequena demais, frágil demais… Se tivesse quatro anos, era muito. Sozinha nas ruas com a mãe, que ainda por cima estava grávida. Meu coração apertou. Tive uma noite péssima de sono. De manhã, levantei cedo, arrumei a Nina para a escola e me preparei para o trabalho. Mas, mesmo ocupado, aquela menina não saía da minha cabeça. Na hora do almoço, resolvi ir ao mesmo lugar onde as tinha visto no dia anterior. E lá estava ela, segurando uma cestinha de flores. Me aproximei devagar. — Oi, princesinha, lembra de mim? — perguntei, sorrindo. Ela me olhou desconfiada e logo virou o rosto na direção da mãe. Resolvi ir até a mulher. — Mãe! — a
Rosa Na manhã seguinte, seguimos nossa rotina como de costume, mas dessa vez fomos de carro. O dia passou tão rápido que, quando percebi, já era a hora da saída. Como na véspera, Juan me esperava no portão e, para minha surpresa, me entregou outra rosa branca. — Você é muito fofo — murmurei, segurando a flor com carinho. Ele sorriu, um pouco sem jeito. — Só queria te ver sorrindo. Assim que ele se afastou, senti um olhar atravessado sobre mim. Senhorita Grey, a professora que sempre tinha um comentário na ponta da língua, estava parada na porta, de braços cruzados. — Dando em cima do pai da minha aluna, senhorita Fernández? Revirei os olhos internamente, mas preferi ficar calada. Engolir sapo às vezes é mais saudável do que discutir. — Oi, meninas! — outra professora apareceu, sorrindo. — Oi! — respondemos juntas. Aproveitei a deixa e escapei para a sala, onde arrumei minhas coisas até que todos os meus alunos fossem embora. Quando fui até a sala dos professores guardar um
Rosa Quando Nina finalmente dormiu, saímos do quarto em silêncio, como se qualquer barulho pudesse acordá-la e arruinar a nossa pequena vitória. — Podemos conversar agora? — Juan perguntou, sentando-se no sofá. Assenti e me sentei ao lado dele. Antes mesmo de processar a pergunta, senti seus dedos tocarem a válvula da minha prótese. Ele a removeu com a naturalidade de quem já conhecia cada detalhe meu, e eu tirei o silicone, querendo me sentir mais à vontade. — Pode falar — incentivei, sentindo um friozinho na barriga. Juan se ajeitou, respirando fundo antes de soltar a bomba: — Me ofereceram uma promoção. Minha expressão se iluminou instantaneamente. — Juan, isso é incrível! — Sorri, orgulhosa. — Qual cargo? — Chefe dos Cirurgiões Gerais. — Meu Deus! — bati palmas, empolgada. — Você merece demais! Mas el
Rosa FernándezQuando saímos da concessionária, Juan nos levou para casa. Subimos juntos até nosso andar e, quando eu já estava prestes a entrar no meu apartamento, ele me chamou.— Rosa.Virei para ele, percebendo algo diferente no seu tom de voz.— O que foi?Ele hesitou por um momento, parecendo pensativo.— Podemos conversar?A preocupação se instalou no meu peito. O olhar dele não era dos melhores.— Aconteceu alguma coisa? — perguntei.— Vou dar um banho na Nina e fazer o jantar, mas... que tal você vir jantar com a gente? Podemos conversar depois.— Claro. Mas hoje o jantar é por minha conta. Pode ser?Ele sorriu de leve.— Combinado. Te vejo daqui a pouco.Entramos em nossos apartamentos. Coloquei minhas coisas na mesa e fui direto para o banho. Escolhi um vestido simples e chinelos, sem me preocupar muito com a aparência. Assim que saí do banheiro, meu celular tocou. Olhei no visor e vi o nome de Christopher.Atendi.— Oi, linda. O que está fazendo?— Acabei de tomar banho. V
Juan Carlos HernándezSaímos os três juntos em direção à concessionária. O dia estava bonito, e eu gostava da sensação de estar ao lado delas. Rosa e Nina iluminavam minha vida de um jeito que eu nunca imaginaria ser possível.Olhar carros sempre foi algo que me animava, mas hoje parecia diferente. Rosa estava empolgada, talvez até mais do que eu. Era contagiante vê-la desse jeito, analisando os veículos com aquele brilho no olhar.Assim que entramos na concessionária, Nina correu para perto de um dos carros e passou a mão na lataria brilhante.— Papito, esse é bonito! — ela disse animada, apontando para um modelo esportivo.Sorri e balancei a cabeça.— Sim, princesa, mas acho que não serve muito para levar você e sua mamãe confortáveis, né?Ela fez um biquinho e voltou para perto de Rosa, segurando a barra da blusa dela.— E então, Rosa? Gostou de algum? — perguntei, curioso. Eu adorava ouvir a opinião dela sobre qualquer coisa.Ela passou os dedos pelo capô de um dos carros, analisa
Rosa FernándezEu ainda estava na sala quando Juan me chamou. Ao ouvir sua voz, um sorriso involuntário surgiu em meus lábios. Ele é um homem incrível, de um jeito que às vezes me surpreende. Forte, protetor, mas ao mesmo tempo tão gentil. Queria tê-lo conhecido há muito mais tempo. Ao seu lado, me sinto segura. Me sinto... confiante.Assim que ele saiu, meus olhos voltaram para a rosa branca em minhas mãos. Era delicada, perfeita, e eu a segurei com cuidado, sentindo o perfume suave. Eu amo flores, e as rosas brancas sempre foram minhas favoritas. Um gesto simples, mas que aqueceu meu coração.Depois de finalizar algumas coisas, saí e fui direto para a sorveteria.Assim que chego, ouço uma vozinha animada me chamando.— Mamãe!Viro a tempo de ver um pequeno furacão correndo na minha direção. Largo minhas coisas na mesa e a pego no colo com facilidade.— Oi, minha vida! — respondo, enchendo seu rostinho de beijos, enquanto ela solta risadinhas.— Oi, Roseta! Como está a minha menina?
Último capítulo