Allegra estava deitada no tapete do ateliê, cercada por papéis, lápis, chá morno e o som suave do violino que vinha do quarto ao lado.
Era final de tarde e o céu de Paris estava cor-de-rosa.
O tipo de céu que parece querer dizer alguma coisa.
Na folha à sua frente, a primeira linha escrita com sua caligrafia firme:
“Carta para quem nunca se escolheu.”
Ela mordeu a parte de dentro do lábio, como fazia sempre que precisava mergulhar fundo em alguma lembrança que ainda doía.
“Eu sei que você tem medo.
Sei que escolheu silenciar porque parecia mais fácil do que explicar.
Mas deixa eu te contar uma coisa:
O silêncio pesa.
E a única maneira de sobreviver a ele… é dizer.
Mesmo com a voz trêmula.
Mesmo sem saber o final.”
Ela parou. Respirou.
Leu em voz alta e sentiu que as palavras estavam certas.
Do outro cômodo, Lucca apareceu na porta, segurando o violino como quem segura um segredo bonito.
— Posso te mostrar um trecho novo?
— Sempre.
Ele sentou ao lado dela no tapete, afinou uma corda, e