Era sábado de manhã e Paris estava úmida.
Aquelas garoas finas que pareciam mais poesia do que chuva.
Dentro do apartamento, Allegra aquecia as mãos com uma caneca de chá e encarava a nova tela em branco no ateliê.
— “Depois do Silêncio” foi como uma despedida — ela murmurou para si mesma. — Agora é hora de um recomeço inteiro.
Pegou o carvão e desenhou o contorno de um espelho.
Mas o reflexo dentro dele estava vazio.
Era isso que queria explorar agora: o que a gente enxerga quando ousa se olhar com verdade.
No canto da tela, escreveu:
“A coragem de ver.”
Sophia apareceu na porta do ateliê com o rosto ainda meio inchado de sono e Louis embaixo do braço.
— Você não dorme mais, Allegra Bianchi?
— Quando estou criando, parece que o mundo me chama mais cedo.
— O mundo ou o Lucca? — ela provocou, com um sorriso safado.
Allegra riu.
— Ele dorme mais do que eu. Um músico noturno. Mas a verdade é que... eu preciso começar essa obra.
Washington é logo ali.
Sophia se sentou no chão, encostando