Capítulo 58

Era sábado de manhã e Paris estava úmida.

Aquelas garoas finas que pareciam mais poesia do que chuva.

Dentro do apartamento, Allegra aquecia as mãos com uma caneca de chá e encarava a nova tela em branco no ateliê.

— “Depois do Silêncio” foi como uma despedida — ela murmurou para si mesma. — Agora é hora de um recomeço inteiro.

Pegou o carvão e desenhou o contorno de um espelho.

Mas o reflexo dentro dele estava vazio.

Era isso que queria explorar agora: o que a gente enxerga quando ousa se olhar com verdade.

No canto da tela, escreveu:

“A coragem de ver.”

Sophia apareceu na porta do ateliê com o rosto ainda meio inchado de sono e Louis embaixo do braço.

— Você não dorme mais, Allegra Bianchi?

— Quando estou criando, parece que o mundo me chama mais cedo.

— O mundo ou o Lucca? — ela provocou, com um sorriso safado.

Allegra riu.

— Ele dorme mais do que eu. Um músico noturno. Mas a verdade é que... eu preciso começar essa obra.

Washington é logo ali.

Sophia se sentou no chão, encostando
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