O último dia amanheceu com céu claro e vento preguiçoso.
Na varanda, o cheiro de pão fresco se misturava com o som leve das folhas dançando. Eu estava no ateliê, finalizando os últimos detalhes da última tela. Lucca sentado ao meu lado, observando em silêncio enquanto eu contornava as bordas com pincel fino.
— Vai chamar essa de quê? — ele perguntou, com a voz baixa, quase cúmplice.
— “Depois do Som”.
Ele sorriu.
— Parece um nome nosso.
— Talvez seja mesmo.
Encostei o pincel e respirei fundo. Olhei em volta. As telas estavam todas organizadas: dez obras que carregavam tudo o que vivi naquela semana. Tudo o que senti, pintei, soltei e acolhi.
Lucca se levantou, foi até uma das janelas abertas e ficou ali, olhando para o campo que se estendia até onde a vista não alcançava.
— Pronta pra voltar?
— Pronta pra seguir. Voltar, só se for pra buscar quem eu era antes.
Ele me olhou. Sério. Do jeito que só ele olhava.
— Então vamos juntos.
Antes que eu respondesse, o celular vibrou em cima da b