Cheguei em casa com os pés doendo e o coração inquieto. Um tipo novo de cansaço, que não era de dor — era de vida.
Sophia estava no sofá com uma taça de vinho e uma expressão satisfeita demais para ser ignorada.
— E então? — perguntou, assim que fechei a porta.
— Foi… muito.
— “Muito” tipo “vou fugir pra um vilarejo e abrir uma lojinha de sabonetes artesanais” ou “muito” tipo “minha vida está mudando e eu não sei como reagir”?
— Acho que o segundo.
Ela bateu palmas devagar, teatral.
— Sabia. Sabia que a proposta da Anaïs ia ser um soco e um abraço ao mesmo tempo. Ela tem esse dom. Já tá se sentindo uma artista atormentada?
— Estou me sentindo viva. E um pouco exposta.
— Bem-vinda ao clube.
Sentei ao lado dela e aceitei metade da taça. Contamos os acontecimentos do dia como duas amigas que não querem dormir porque têm medo de perder a beleza do momento.
— E Lucca? — ela perguntou, com um sorrisinho no canto da boca.
— Estava lá. Esperando. Como se o universo tivesse marcado hora e luga