O café escolhido por Anaïs era discreto, elegante e escondido atrás de uma floricultura. Tinha poucas mesas, prateleiras com livros de arte e uma vitrola antiga tocando jazz baixo demais para distrair, alto o suficiente para acolher.
Cheguei cinco minutos antes, as mãos trêmulas dentro do bolso do casaco. Uma garçonete me guiou até a mesa dos fundos, onde Anaïs já me esperava com um chá fumegante e uma pasta de couro ao lado.
— Allegra Bianchi — disse ela, como se estivesse anunciando um título. — Já posso dizer que te admiro, mas hoje quero dizer que te proponho.
— Propor o quê?
— Um mergulho. Uma coleção só sua. Íntima. Crua. Sem a pressão de agradar. Como se você estivesse escrevendo cartas com pincel.
Sentei devagar, tentando absorver cada palavra.
— Eu... ainda estou entendendo tudo isso.
— Ótimo. Então pinte isso. A travessia. A transformação. Os bastidores do que o mundo chama de sucesso. Isso, Allegra, é o que as pessoas querem ver. E o que você precisa dizer.
Ela abriu a past