Meu nome é Cristian Montesano, sou largado na vida. Amor para mim, só de mãe. Pego todas mesmo, não ligo para nada. Meu nome é Belinda de Castro, sou romântica por natureza. Gostaria de me casar com o amor da minha vida. Mas tenho um noivo que não amo. Cristian é um cara um tanto peculiar, não se apega a ninguém a não ser que seja ele mesmo. Mas tudo muda ao avistar em uma festa, para a qual não fora convidado, a filha do anfitrião. No momento em que a viu, quis saber seu nome. Quando Belinda cruzou os olhos com o rapaz, não conseguiu mais desviar. Foi amor a primeira vista. Mas ela sabia que não seria fácil viver este amor. Apesar dos tempos serem outros sua família havia prometido sua mão a um outro homem. Recontando a triste história de Romeu e Julieta, vou falar de temas como preconceito racial e de homofobia.
Leer másDesde pequena sou mimada por todos. Tenho uma criada que cuida de mim desde as fraldas. Seu nome é Uli. Trata - me como filha e impede minhas maluquices.
Aos sete anos se eu saísse da cama sem calçar os pés, já sabia o que viria.-Bela, querida, não ande sem os sapatos. Pode se resfriar.
-Não mudou nada não é Uli? Voltei de viagem apenas ontem, após nove longos anos e ainda me trata como se tivesse a idade de quando saí daqui.-Me preocupo menina. -Eu sei, não sei se vê, mas já passo dos dezesseis. Não tenho mais sete anos.-De qualquer maneira, use as pantufas antes de sair para o banheiro - Disse ela colocando o par de pantufas em forma de ursinho no chão a minha frente.Revirei os olhos, mas obedeci.-Elas são ridículas.
-Sim, são, mas também são confortáveis e quentes.-Nunca esteve na Europa. Lá uma dessas não ajuda em nada. -É tão frio assim?-Sim. No colégio eu dormia com quatro meias.-Meu bom Deus!Passei por ela sorrindo e fui ao banheiro fazer minha higiene matinal.
Após colocar uma calça jeans, blusa preta de manga comprida e tênis, desci para o café.-Bom dia Belinda.
-Bom dia mamãe. Onde está o papai e o Martin?-Eu estou aqui e seu irmão na certa ainda está dormindo. Chegou às quatro da manhã - Disse meu pai chegando a mesa.-Teremos um jantar hoje - Anunciou minha mãe.-Eu não participarei.-Participará, é para você. Para reintegrá - la a sociedade.-Mamãe, cheguei de viagem ontem.-Por isso mesmo. Ficou muito tempo fora e agora precisamos que toda a sociedade a conheça - Completou o pai.-São Paulo é uma cidade grande, não pode me mostrar para todos.-Podemos sim, a imprensa tem um poder incrível. No jantar só virão conhecidos.Eu suspirei aliviada, ao menos não teria que lidar com completos estranhos, apesar de que era provável que não me lembrasse de ninguém.
Acordei cedo e vi que em minha cama havia alguém. Dormi tão bêbado na noite anterior que sequer me lembrava de como a garota loira havia chegado ali. Me mexi de propósito e ela acordou.
-Oi- disse melosa.
-Oi. Você precisa ir.-Não vai tomar café comigo? -Foi apenas uma noite, entenda, não me apego a ninguém. -Você me usou.-E você me usou também, e julgando pela cara que acordou, você gostou bastante.-Gostei e por isso quero repetir.-Não repito figurinhas, é melhor você ir antes que minha mãe acorde.A garota ficou emburrada mas se levantou. Se vestiu, pegou seus pertences e se foi.
-Finalmente.
Me levantei e fui ao banheiro. Minha higiene matinal foi rápida e em minutos eu estava na mesa do café.
-Outra garota Cristian?
-Você a viu?-Acha que eu acordo tarde como você? -Vou acordar cedo para quê?-Sei lá, talvez para se exercitar.-Me exercitei bastante ontem...-Cristian! Poupe - me dos detalhes. Já me basta ver uma mulher diferente sair daqui a cada três dias. -Serei mais cuidadoso.Minha mãe revirou os olhos e abocanhou seu pedaço de bolo. Segundos depois meu pai surgiu a mesa.
-Pare de implicar com o menino Verônica.
-Minha casa não é motel.-Ele é homem.-Então que vá ser homem em outro lugar.-Está bem mãe, não trarei mais garotas aqui.-Acho bom.-Bom eu tenho que ir.O primeiro dia de aula é o mais complicado de todos. Não conhecer ninguém não ajuda. A minha sorte era que minha prima estava na mesma sala que eu. Na verdade eu é quem estava na dela, já que ela está nessa universidade desde o ano passado. Como eu fiz um ano na Europa, dei sorte de cair na mesma unidade que ela.
Sabrina me guiou pelo campus e me apresentou a todos.Na hora do intervalo, lá estava eu com a galera dela.-Você entendeu o que a professora de anatomia disse sobre os músculos Belinda?
-Acho que entendi, passa lá em casa que eu te explico melhor.-Combinado então? -Sim. Eu vou...Próximo a porta estava um garoto. Ele conversava animadamente com mais dois. Seus cabelos castanhos caiam sobre a testa. E eu podia ver seus olhos azuis de onde eu estava.
Seus dentes eram brancos e perfeitos. Pude ver quando ele gargalhou, jogando a cabeça para trás. Sua camisa aberta mostrava seu abdômen definido.-Está me ouvindo Belinda?
-Eu... Quem é ele? O rapaz de camisa branca?-Aquele é Cristian Montesano, nossa família não fala com a dele.-Por que?-Dizem que é uma briga antiga por causa de terras. Ele está na cidade há pouco tempo, mas já partiu o coração de metade das garotas daqui. Fique longe, ele é perigoso.-Não tenho medo.-Seus pais não aprovariam.Sorri com a possibilidade de beijar aqueles lábios vermelhos.
A aula foi muito chata. Só estava fazendo engenharia, por insistência de meus pais. Eu queria mesmo era medicina. No intervalo eu conversava com Martin de Castro. A família dele detestava a minha, mas nos eramos amigos desde sempre, mesmo contra a vontade de seus pais. Na verdade os velhos nem me conheciam. Se passassem por mim seriam totalmente cordiais sem se dar conta de que me odiavam por sobrenome.
Martin estava dizendo que teria um jantar em homenagem a sua irmã, que por sinal estudava na mesma faculdade, mas ele disse que eu só a conheceria no jantar. Ela havia estudado quase toda a vida na Europa e voltara para o Brasil no dia anterior. Com certeza eu iria nesse jantar.A noite estava próxima e todos os preparativos para o jantar já estavam concluídos. Uli me ajudava a escolher uma roupa.
-Que tal esse menina?
-Por mim vestia uma calça e um suéter. É só um jantar.-É um jantar formal. E precisa estar elegante.Abri o closet e olhei todos os vestidos sem vontade. Coloquei os olhos em um que não me lembrava de ter.
Ele havia sido comprado para minha festa de quinze anos. Mas eu não havia conseguido chegar ao Brasil para ela. Ele era um tomara que caia simples. Com alguns bordados no corpete. Com a ajuda de Uli eu o vesti.Ficou perfeito.-Vai ser esse então.
-Mas...-Ou é esse, ou calça jeans e suéter.Uli se calou porque ela sabia que eu seria capaz de descer assim.
-Os sapatos também?
-Por favor.Não era um jantar, era uma festa, haviam pelo menos duzentas pessoas ali. Martin trouxe um drinque e ficamos ali conversando por um tempo.
-E ai cara, não vai me apresentar sua irmã?
-Ela não é como as outras que você pega Cristian. -Só quero conhecê -la.-Ela lá já deve estar vindo...Olha ela ali.Olhei na direção em que Martin apontava. No alto da escada uma beldade de cabelos negros que lhe chegavam até a baixo do busto em longos cachos alinhados, olhava para a multidão de pessoas incrédula.
Aquele que supus ser seu pai, subiu até o topo da escada e pegou em sua mão, a conduzindo até o cento da festa.- Quero que todos conheçam Belinda, minha filha que estava na Europa. Ela está de volta e nada me faz mais feliz.
Todos aplaudiram e a garota ficou carmesim. Ela se afastou e uma garota a acompanhou. Um velho que eu não me lembrava o nome se aproximou do pai dela e cochichou algo em seu ouvidoO homem sorriu e cumprimentou o velho. Mais para o final da noite o pai de Martin acompanhado do tal velho reuniram a todos para um comunicado.Meu pai chamou a todos e disse que faria um comunicado. Isso não me cheirava bem, mas ainda assim eu fui.
-Eu não vou me demorar. Bem, como eu disse minha filha foi para a Europa com apenas sete anos e voltou uma doce jovem. Quase uma mulher feita. E é com muita alegria que eu anuncio a vocês que a família Bertolli e a família Castro se tornarão uma através do matrimônio de nossos filhos.
Meu ar faltou. Os Bertolli não tinham filha mulher, por isso não poderia ser Martin. Seria eu e um dos filhos dos Bertolli.-Estevão Bertolli, se torna noivo de minha filha Belinda de Castro hoje.
Eu não pude conter a minha decepção e corri para o jardim.
Me sentei na balança que eu brincava aos sete anos e chorei. Senti uma presença ao meu lado e me virei assustada.-Te assustei?
-Não.Era o garoto da escola.
-Percebi que você não gostou do seu noivo.
-A gente brincava de pegar, quando éramos crianças Ele está mais para um irmão.-Agora é que vão brincar de pegar.-Idiota! -Desculpe.Mais lágrimas surgiram e Cristian enxugou com os polegares.
-Não se preocupe. Tudo vai dar certo.
-Tenho minhas dúvidas.Eu tinha vontade de consolá - la e por isso aproximei meu rosto do dela. Ficamos a poucos centímetros de distância...
-O que está fazendo com a minha noiva?
Me afastei rapidamente e olhei para o rapaz que me olhava com o rosto vermelho em fúria.
-Ela nem quer ser sua noiva.
-Mas ela é, e vai se acostumar com isso.-A vontade dela não conta?-A dela ou a sua?-Como ousa falar dela assim? -Falo como eu quiser.Ele socou o meu rosto e eu parti para cima dele.
Nós dois rolamos no chão. Belinda começou a gritar para que parássemos. Dois homens chegaram e nos separaram.-Quem é você?
-Este é Cristian Montesano.-O que um Montesano faz em minha casa?-Eu o chamei papai.-Ousa me contrariar? Sabe que esta família não é bem vinda aqui.-Ouso papai. Cristian é uma ótima pessoa.-Não é você quem decide. Levem esse rapaz daqui.-Papai deixe - o. -Não Belinda. Ele deve ser preso.-Será preso porque se defendeu? Estevão socou o rosto dele primeiro.-Mas ele estava tentando te beijar.-Que tentando me beijar? Eu nem conhecia ele. -Então por que está defendendo?-Porque não suporto injustiças. -Já chega! Martin leve esse rapaz daqui, e que fique bem claro que não desejo vê -lo mais aqui. E quanto a você Belinda, vá para o seu quarto.-Mas pai...-Agora Belinda!-Humpf!Eu saí correndo e entrei, bati a porta do quarto.
Todos os convidados haviam ido embora e Martin me acompanhava até o portão da frente. Ele me deixou do lado de fora, e após se despedir voltou para dentro. Já na rua, notei que havia uma sacada iluminada, olhei em sua direção e vi Belinda de longe. Pulei o muro de volta e joguei uma pedra.
Ouvi um barulho e notei que havia uma pedra no chão. Alguém me chamava pela sacada. Sai e vi que lá em baixo estava Cristian.
-Ficou louco?
-Pode - se dizer que sim.-Você é mesmo um Montesano?-Sou. E o que me importa se você é uma Castro? O que importa é o que vem da alma.-Você faz parecer fácil. -E é.-Por que me tenta?-Porque o amor chegou a mim assim que te vi.-Então acredita em amor a primeira vista?-Sim, e por que não? -Porque vindo de quem já quebrou muitos corações, soa duvidoso.-E acha que me arriscaria por algo que não fosse verdadeiro?-Talvez, pela emoção da conquista.-Faz - me rir.-É melhor que vá agora.-Sim, irei. Mas todas as noites me aguarde nesta sacada que virei.-Pode me ver na faculdade.-Não seria gracioso como ver - te no conforto de seu lar.-Muito engraçado. Agora vá.Eu fiz uma mensura exagerada, lembrando Romeu e sai andando de costas até que cheguei ao muro, me virei e pulei.
Dentre todas as garotas que passaram em minha cama, fui me apaixonar pela proibida e que não passou em minha cama.Eu estava ferrado. Ferrado mas feliz.As coisas mudaram rápido na vida da minha família. Todas as coisas começaram a se encaixar em seus lugares. Eu finalmente passei a ver meu filho como tal, e não como um estorvo. Algumas coisas ainda estavam pendentes. Por alguma razão que eu desconheço no momento, eu não havia contado a Cristian que havia me lembrado dos cinco anos que minha mente apagou no acidente. E sinceramente, não sei como ele não reparou. A voz de Cristian me tirou das minhas divagações. Ele dizia algo que eu não entendi.-Perdão, querido, o que disse?-Eu disse que está tudo no carro.-Vou pegar as crianças.-Precisa de ajuda? -Sim. Sabe como Theodore anda traquinas.-Se sei, ele tem apenas seis meses e já parece tão mais velho. Muito sabido.Subimos as escadas e ouvimos do corredor as vozes de Bella e Theo. Ela conversava com ele, e ele lhe respondia naquela linguagem incompreensível dos bebês.Paramos por um minuto na porta para observar os
Dizem que quando morremos, passa um filme de nossas vidas diante dos nossos olhos. Acho que comigo não seria diferente se isso fosse verdade. Passei por experiências de quase morte por mais vezes do que posso contar. E em nenhuma delas vi filme algum. Mas pensei. Pensei muito em tudo o que havia vivido. E no que havia deixado de viver. Fui feliz. Sei que não estou morta. Não me sinto como se estivesse morta. Mas em um transe profundo do qual não sou capaz de me libertar. Sei disso porque ouço cada palavra que é dita próximo a mim. Ouço o desespero e a angústia de Cristian, o sofrimento da minha família e sinto a falta da minha filha. Minha filha... Minha pequena que estava tão doente. Será que o bebê tinha sido capaz de salvá-la? Queria muito acordar, abrir os olhos e mostrar a todos que estou bem. Mas me sentia cansada, como se meus músculos não me pertencessem
-Ahh!Belinda gritou uma última vez e o choro do bebê encheu meus ouvidos. Aparei Theodore nos meus braços. Com uma das mãos tirei minha camisa e o embrulhei. Logo em seguida a luminosidade que eu vira antes parou ao lado do carro.Era uma ambulância e o policial que me abordara, descia dela com paramédicos.-Eu imaginei que não daria tempo e acionei a emergência.-Obrigada.-Cristian- Belinda sussurrou.Olhei para ela e fui mais uma vez tomado pelo pânico.Sua cor desaparecera totalmente. E ela desfalecia no banco de trás do carro.-Belinda!-Calma, os paramédicos vão cuidar dela.Enquanto eu segurava o bebê, eles cortaram o cordão umbilical e trouxeram uma maca para minha esposa.Colocaram- na na ambulância e eu me sentei ao seu lado. Uma enfermeira se aproximou de mim.-Preciso examinar o bebê.Entreguei meu filho a ela que fez alguns procedimentos. Eu fiquei olhando e ela sorriu.-Isso serve para
Me levantei com cuidado para não acordar Cristian. Não resolveu muito. No momento em que eu coloquei os meus pés no chão ele abriu os olhos e me agarrou pela cintura.-Hum. Você cheira muito bem Sra. Montesano.Ser chamada de Sra. Montesano ainda era muito estranho para mim, mas ainda assim eu sorri e dei um gritinho quando ele me puxou para a cama.-Eu preciso ir a casa da minha mãe, Cristian.Ela vai se livrar de algumas coisas e quer minha ajuda.-Você não vai pegar peso, não é?-Claro que não.-Eu acho que eu não quero que você vá - Sussurra ele no meu pescoço.-Venha comigo, então. Assim você ajuda na faxina. Você fica com o peso - Digo sorrindo.-Fechado.A casa da minha mãe parecia o Monte Vesúvio após uma erupção. Haviam caixas e mais caixas com diferentes tipos de quinquilharias. Nós separavamos aquilo que ia ser útil ainda e descartávamos o resto. Eu me perguntava por q
Eu nem sei por que fiquei. Acho que o desespero no olhar dela me fez ficar. Ou talvez o meu amor é que tenha falado mais alto. Eu não sei, só sei que não fui capaz de deixá-la. Desfiz minhas malas e voltei para sala. Belinda estava sentada ao piano e tocava. Me encostei no corrimão da escada e fiquei observando-a tocar. Ela tocava uma peça melancólica após a outra. Ela estava triste.Me aproximei e no instante que notou minha presença, ela parou de tocar.-Faz tempo que está ai?-Uns dez minutos. Por que parou de tocar?-Não sei...-Eu gosto quando você toca.-Eu também gosto de tocar.-Mas parece triste.-A peça?-Não, você. O que há de errado Bella?-Você nunca mais havia me chamado de Bella.-Você se lembra que eu a chamava assim?-Sim.-Então há esperança.-Sim, há.-Mas você ainda não me disse o que há de errado.-Nós... Eu. Acho que está tudo muito complicado.-Você me pediu para ficar e aqui estou. Mas não quero te v
Peguei no sono pensando nas causas da perda de memória da minha esposa. Acordei sobressaltado com uma batida na porta. Olhei na direção da cama de Belinda, ela ainda dormia. Bateram na porta novamente e eu me levantei para atender. Era Uli.-Eu trouxe um lanche.-Obrigada Uli.-Ela ainda está dormindo?-Perguntou apoiando a bandeja no criado mudo.-Sim.-Por que não estão no quarto grande?-Ela não quis.A expressão de Uli mostrava dúvida.-Ela não se lembra de nós Uli.-Como não se lembra de nós?-De mim e dela, para ela, nos conhecemos há apenas alguns dias.-Meu bom Deus!-Eu não sei o que fazer.-Se acalme senhor, a menina já o amava nessa época.-Não sei, ela não parece me amar agora.-Ela está confusa. Imagine se o senhor acordasse imaginando ter dezesseis anos e alguem lhe dissesse que tem vinte e um, se casou duas vezes, tem uma filha doente e espera outro, o senhor não ficaria confuso?-Talvez, Uli, mas o que mai
Último capítulo