Marina Salles

Estava deitada sobre o peito de Dante, o corpo dele era quente, firme, e estranhamente confortável — como se tivesse sido moldado para ser meu travesseiro pessoal. A respiração dele era constante, sincronizada com a tensão do filme que passava na tela. Tropa de Elite. Um clássico brasileiro que eu escolhi mais por impulso do que por estratégia. A verdade é que descobri que filmes de ação era um ponto em comum entre nós.

Dante estava completamente absorvido pela trama, os olhos fixos na tela como se decifrassem cada detalhe. Às vezes, ele fazia perguntas rápidas sobre os cenários, sobre o contexto das cenas, curioso de um jeito que eu não esperava. Eu respondia no automático, com a cabeça distante — e não por causa do filme. A verdade é que, enquanto a tela exibia violência e corrupção, eu era sufocada por um pensamento muito mais íntimo: a minha volta para o Brasil. Estava cada vez mais próxima, e eu ainda não sabia como lidar com isso.

Ele sabia que eu voltaria, claro.