Mundo ficciónIniciar sesiónLee Yong é tão gato que, sinceramente, nem parece real.
Mas não é só a aparência. Ele é inteligente, centrado, profissional — do tipo que sabe o que quer e como chegar lá. E frio. Muito frio. Só fala o necessário comigo. Às vezes, nem vira o rosto pra responder. Parece viver dentro de um iceberg… mas ainda assim, eu derreto só de ficar por perto. Hoje passei o dia inteiro com ele. Almoçamos juntos (sem trocar muitas palavras, claro). Fomos a várias reuniões. Vi de perto como ele lida com tudo: decisões, contratos, parcerias. E foi… perfeito. O emprego dos sonhos, literalmente. Tão perfeito que, por algumas horas, eu até esqueci do Hyun. O “chato do Hyun”, como costumo chamá-lo, não é tão chato assim. A verdade é que ele só parece ranzinza porque vive sobrecarregado. E agora começo a entender por quê: um vacilo meu, e quem dança é ele. Estou até cogitando comprar um babador pra ele. Sério. Do jeito que ele ficou encarando o Seo Jun — designer executivo da Scandal Clothes, nosso maior parceiro — eu quase perguntei se queria um guardanapo ou um copo d’água. Hyun é discreto, mas não me engana. Ele definitivamente se interessou por Seo Jun. E, quer saber? Achei fofo. Pensando bem, talvez a gente vire amigos. Eu espero que sim O resto da semana foi uma verdadeira loucura. Hyun, surpreendentemente, estava mais amável comigo. Aos poucos, estamos nos entendendo. Ele até riu de uma piada minha ontem — milagre! Já o meu chefe… continua o mesmo. Frio. Sério. Misterioso. Às vezes acho que ele tem medo de mim. E por um momento, quase pensei: só falta ele ser gay também! Mas não, impossível. Tenho certeza que não é. Quem vem equilibrando tudo isso é o Seo Jun. Um doce de pessoa, divertido, espontâneo — exatamente o tipo de gente que você quer por perto. Já combinamos de ir ao karaokê no domingo. E, claro, vou arrastar o Hyun comigo. Porque, sim, já tenho um plano: Miss Cúpido Anne em ação. — Hoje temos uma reunião importantíssima — anunciou Hyun, com a voz cheia de drama. — Com quem, Hyunieee?! — provoquei, já chamando ele pelo apelido que ele finge odiar, mas adora. — Com a noiva do Lee Yong. … — Perdão, o quê? — A noiva. Do seu chefe. Do Lee Yong. Do homem que você baba todo dia. Eu paralisei. Noiva? Claro que ele tinha noiva. Que ilusão minha. Um homem desses, lindo, rico, educado… óbvio que está comprometido. Mas por que ninguém comentou nada? Nem mesmo a imprensa? É bem a cara do Yong: Descrição. Eu podia até imaginar: uma deusa, com pele de porcelana e salto Louboutin. — Sim, queridinha. Kim Nayeon. Herdeira dos Kim. Uma das famílias que investe na Crystal Joias. É ela quem dá os toques finais nos projetos com o Seo Jun. Kim Nayeon. Bastou ouvir o nome para um calafrio correr pela minha espinha. Ela não era só herdeira. Era conhecida também por ser a cara da sofisticação sul-coreana. Alta, pele extremamente clara, cabelos pretos como a noite, sempre lisos e bem escovados. Olhos amendoados com delineado impecável. Nariz fino. Lábios perfeitamente preenchidos. E um estilo que misturava luxo clássico com um toque moderno. Mas o que mais chamava atenção em Nayeon era a presença. Quando entrava em um ambiente, todos notavam. Ela tinha aquele tipo de beleza e postura que te fazia se sentir meio fora de lugar, mesmo quando estava tudo certo com você. A reunião seria depois do almoço. Eu, sinceramente, mal consegui comer. Um misto de ansiedade com decepção entalado na garganta. Acorda, Anne! Você assistiu dorama demais. Romance com o chefe? Onde você tava com a cabeça? Já no escritório, ouvi um burburinho vindo do corredor. A porta se abriu de repente e uma mulher entrou, elegante, linda… e cheia de sacolas. — Hellooo, my babies!!! Hyun praticamente sapateou de alegria. — Ohhh Unnie! Bem-vinda de volta! Deixa eu pegar essas sacolas… Senta aqui, Seo Jun e Lee Yong estão chegando. Ah! Quase esqueci… Anne, querida, vem cá! Me aproximei, tensa, e a cumprimentei com um: — Annyeonghaseyo! Esperei um “oi” seco. Um olhar de cima. Talvez ser ignorada. Mas fui surpreendida: — Ah, oi! Sou a Nayeon! Você é a unnie brasileira que o Hyun tanto fala, né? Hyun deu uma cutucada nela, envergonhado. E eu… sorri. Sabia que ele gostava de mim. E agora, parece que ganhei mais uma amiga. Três, na verdade: Hyun, Seo Jun e… Nayeon. Fiquei impressionada com o quanto aqueles herdeiros eram jovens — e ainda assim, lidavam com uma empresa daquele porte com tanta segurança. Nayeon tinha a minha idade, vinte e cinco anos, mas a experiência e a postura de uma CEO veterana. Os ajustes que ela dava nos designs do Seo Jun eram de outro nível. Bastava uma olhada dela e o produto ganhava vida, como se um toque invisível transformasse o comum em extraordinário. Era… quase mágico. O Seo Jun, por sua vez, era um gênio. Vice-presidente da Scandal Clothes aos vinte e sete anos, tinha uma mente afiada e criativa que parecia não parar nunca. Seus designs, suas campanhas, suas ideias — tudo respirava inovação. Junto com Nayeon, formavam uma dupla perfeita. A harmonia entre eles era quase artística, como se lessem o pensamento um do outro. E, observando os dois lado a lado, eu percebi por que Lee Yong confiava tanto neles. Os três, ele, Nayeon e Seo Jun, eram praticamente a santíssima trindade da Crystal Joias. E o Hyun… bom, o Hyun era o braço direito leal, o primo que segurava as pontas e colocava ordem no caos. Pensei em como devia ser crescer nesse meio. Reuniões desde cedo, metas, decisões, responsabilidades que eu, aos vinte e cinco anos, ainda estava aprendendo a lidar. Eles pareciam carregar o peso de um império com uma leveza quase ensaiada. E mesmo assim, algo me dizia que por trás de toda aquela perfeição, havia histórias, pressões e segredos que ninguém ousava contar. Quando Nayeon riu de algo que Hyun disse, percebi que, apesar da aparência impecável e da aura poderosa, ela era… humana. Simpática, até. Do tipo que você quer ter por perto, mesmo sabendo que o brilho dela ofusca qualquer um. Talvez eu tivesse julgado cedo demais. E talvez — só talvez — essa nova amizade fosse o começo de algo inesperado. O que mais me chocava era a humildade e o tratamento que eu recebia ali. Eu esperava arrogância, olhares de cima e comentários atravessados, mas foi o oposto. Fui acolhida, incluída e respeitada. Eles me ouviram, me ensinaram, me fizeram rir. Não me tratavam como uma simples secretária — eu era parte da equipe. E, pela primeira vez desde que cheguei à Coreia, senti que realmente pertencia a algum lugar. Que não era apenas mais uma estrangeira tentando se adaptar, mas alguém que podia fazer a diferença. Eu me sentia especial ali. E isso, sinceramente, era o tipo de sensação que nenhum salário no mundo poderia pagar. Apesar de o Hyun ter sido extremamente ríspido comigo nos primeiros dias, eu entendi o lado dele. Ele precisava me treinar o mais rápido possível, me mostrar o ritmo, os padrões, as regras. Estava sob pressão — e eu sabia que, se eu errasse, quem pagaria o preço seria ele. Ainda bem que deu tudo certo.






