Pietro Castellane:
O mundo gira em câmera lenta.
Desprevenido, o impacto explode no meu maxilar antes mesmo que eu registre qualquer movimento. Um gancho de direita perfeito, que pelo jeito foi aprimorado ainda mais desde a época da faculdade, de quando treinávamos box juntos.
O estalo é seco contra a minha mandíbula, os dentes rangem com força suficiente para fazer minha visão escurecer por um microssegundo.
O gosto de sangue invade minha boca, metálico e quente. Meu corpo recua instintivamente, os calcanhares escorregando no piso encerado dois passos para trás. O ar escapa dos meus pulmões num sopro quente, mas não caio. Também não revido.
Levanto os olhos e encaro Fernando.
Fecho minhas mãos em punhos, eu já esperava por essa reação, só não esperava que esse momento fosse agora.
Eles não deveriam descobrir assim.
Não dessa forma.
Mas agora é tarde demais.
— SEU FILHO DA PUTA!
Fernando rosna, a voz carregada de ódio, o punho ainda cerrado pronto para bater de novo, os nos dos dedos