Max
Fechei a porta atrás de mim e me encostei nela, levando os dedos aos olhos enquanto soltava um suspiro pesado. — Em que grande enrascada eu fui me meter… — murmurei, caminhando em direção ao quarto ao lado. Bati uma vez na porta antes de entrar, lembrando da última vez em que quase levei um tiro na testa por entrar sem avisar. — Deu sua preciosa lição à garota? — Royal zombou, enquanto lustrava sua pistola com uma flanela. — Vai à merda. — Respondi, desabotoando a calça e jogando-a num canto qualquer. — Por que está tirando a roupa no meu quarto? — perguntou, franzindo a testa. — Para dormir, é claro. — resmunguei. — Saia do meu quarto. — falou, mal-humorado, e eu revirei os olhos. — Para de ser rabugento. Jack trancou o quarto dele, e Dante está com a Eva. A extensão da casa ainda não está pronta, então só sobrou você, que, por acaso, é meu irmão gêmeo. Agora, me deixa deitar, porque o dia foi exaustivo. Ele levantou o olhar na minha direção, ponderando a situação, e depois fechou os olhos, respirando profundamente. — Só hoje. — Disse, colocando a pistola debaixo do travesseiro e a flanela sobre a escrivaninha ao lado da cama, abrindo espaço para mim. — E se encostar em mim, eu te mato, mesmo sendo meu irmão. — Quanta ignorância. Quando éramos pequenos, você não se importava de dormir grudado em mim. — Cala a boca e dorme, ou vou te jogar no corredor. — Resmungou. Não digo mais nada, não por medo ou algo do tipo, mas simplesmente porque não estou com ânimo para provocá-lo e lidar com seu mau humor. Deito-me em silêncio, fixando o olhar no teto que, de repente, pareceu realmente interessante. Não sei por quantos minutos permanecemos assim, até que Royal chama minha atenção. — Não estava cansado? Por que continua acordado? — pergunta, enquanto continuo olhando para o teto. — Achei que você já estivesse dormindo. — Não consigo dormir com você ao meu lado, mexendo os dedos inquietamente. Você sabe que o menor barulho me desperta, por isso quase não durmo. — Ele nos ferrou, não é? — digo, torcendo o nariz e rindo com desgosto ao me lembrar de Donatel. — De todas as maneiras possíveis, mas isso não vem ao caso agora. — Você tem razão, Donatel está morto. — Apoio o braço sobre os olhos. — Onde está sua pistola? Você não costuma sair sem ela. — No cofre. Senão teria estourado os miolos da russa. — sussurro, desgostoso. — Quer conversar sobre hoje? — Não sei. — admito. Ele permanece em silêncio por alguns minutos e depois diz. — Você me deixou preocupado, achei que realmente abusaria da menina. — Estava com tanto ódio que teria abusado se ela não fosse tão quebrada como nós. — Murmuro. — A que nível? — Ao ponto de se jogar no chão, encolhida, só de me ver tirar o cinto, acreditando que eu iria espancá-la. — Engulo o nó de nojo que se forma em minha garganta ao lembrar do que aconteceu e, por um momento, sou levado de volta ao passado. Flashback — Levanta! — Ordena Donatel, sua voz carregada de desprezo, enquanto seus dedos ásperos se entrelaçam nos meus cabelos, forçando-me a ficar de pé. A dor aguda que percorre meu couro cabeludo é quase insuportável, mas o medo é ainda maior. — Mamãe! — Chamo, minha voz trêmula, por entre lágrimas que insistem em cair. Ela está caída aos pés de Donatel, seu corpo frágil tremendo de dor e medo, após ter sido brutalmente espancada por nos presentear com um carrinho de madeira. Um gesto simples de amor que nos custou caro. Donatel ri, um som frio e sem alma. — Avisei para não mimar esses merdinhas — ele diz, chutando o braço dela com força. O grito de dor que escapa de seus lábios ecoa pela sala como um lamento desesperado. Tento chutá-lo com todas as forças que meu pequeno corpo de sete anos consegue reunir, mas é como tentar derrubar uma montanha. Meu irmão, Royal, está ao meu lado, seus olhos arregalados de pavor, mas também de determinação. Ele se levanta, pronto para atacar Donatel, mesmo sabendo que não tem chance. Com um único movimento, Donatel o derruba com um tapa, fazendo-o cair sobre o corpo trêmulo de nossa mãe. — Você sempre foi mais selvagem. Acha que não percebo que protege esse inútil chorão? — As palavras de Donatel são como veneno, e o tapa que recebo no rosto é tão forte que faz meu ouvido zunir. Minha mente gira e o gosto metálico do sangue se espalha pela minha boca. — Por favor, pare. A culpa é minha, eles não fizeram nada. — Implora mamãe, sua voz um sussurro desesperado enquanto agarra a barra da calça dele. — Não machuque meus filhos, Donatel, eles fazem tudo o que você manda. Errei em trazer o brinquedo. Donatel a ignora, pisando com força sobre os dedos de Royal, que tentava desesperadamente abraçar nossa mãe. Os gritos de Royal são dilacerantes, e eu quase posso sentir sua dor como se fosse minha. Donatel sabe que nos ferir separadamente não causa tanto impacto quanto nos ver machucados juntos. Ele gosta de nos ver sofrer, mas hoje ele está tocando em nosso ponto mais sensível: nossa mãe. Apesar de nosso contato ser limitado, ela sempre nos tratou com carinho quando podia, e isso era tudo para nós. A sala está mergulhada em um silêncio opressivo, quebrado apenas pelos soluços abafados de mamãe e os gemidos de dor de Royal. Olho ao redor, desesperado por uma saída, um milagre que nos salve desse pesadelo. O sol começa a se pôr do lado de fora, lançando sombras longas e ameaçadoras pela sala, como se o próprio mundo estivesse se fechando sobre nós. — Russo? — A voz de Royal me traz de volta dos meus pensamentos, e eu agradeço por isso. — Não sei quem a machucou e não quero saber. Não confio nela e prefiro não me envolver — respondo, tentando afastar as dúvidas que persistem em minha mente. Royal me observa com atenção, seus olhos refletindo uma mistura de preocupação e curiosidade. — Você já está envolvido e sabe disso. Não acha que ela pode estar jogando? Balanço a cabeça, lembrando-me da cena que presenciei.