O homem nos encara com olhos semicerrados, como se tentasse reconhecer o passado estampado nos nossos rostos. Ou talvez como se já soubesse exatamente quem éramos, e só não soubesse o que fazer com essa informação.
— Eu me lembro de você — ele diz, lentamente. — Você… era só uma filhote quando foi embora com sua mãe.
— E agora voltei — respondo, erguendo o queixo. — Não por saudade. Mas por necessidade.
Ele balança a cabeça, como se tentasse processar tudo de uma vez só.
— Por que agora? — pergunta. — Depois de tanto tempo? Sua mãe quase foi morta e imagino que ainda seja banida!
— Porque agora eu posso — digo. — Porque não dá mais pra fugir do que ficou pra trás.
O homem desvia o olhar por um instante. A tensão entre nós é densa, como se o ar carregasse tudo o que foi enterrado aqui. Memórias. Mágoas. Verdades demais.
— Não esperava vê-la de novo — ele confessa. — Muito menos assim.
— Eu também não esperava voltar — admito.
— E o que está procurando aqui?
— Meu pai.
O silêncio que se