Frio na pele.
Isadora Alencar
O cheiro de terra molhada ainda me envolvia quando ele entrou no carro. As luzes internas se acenderam, mais intensas do que qualquer lampião da varanda. Fiquei parada, esperando que desse partida e sumisse da minha vista.
Mas, claro, Dante Tavares não era homem de ir embora sem deixar um rastro.
Abriu a porta devagar, como se me chamasse sem voz. Exibiu a garrafa de vinho.
— Para os seus pais — murmurou, o olhar fixo em mim.
Respirei fundo. Dois passos hesitantes, e me aproximei. Não por ele. Pelos meus pais. Ou pelo que restava da minha dignidade.
Mas, em vez de me entregar a garrafa, ele abriu a porta do carro. Um gesto lento, calculado.
— Vou te passar o contato de um cardiologista de confiança. Marque uma consulta para o Pedro.
— Não... — murmurei, confusa, dando um passo atrás.
— Não estou pedindo. Entre — sua voz era firme, seca. Do tipo que não aceitava recusa.
Ele estendeu a garrafa. Peguei. O vidro gelado contrastava com o calor que subia do meu estômago para