POV LIAH
A luz das tochas queimava meus olhos enquanto eu era arrastada pelos corredores frios da fortaleza. Meus pés descalços raspavam nas pedras geladas, deixando a pele ralada e ferida. Eu tremia tanto que meus joelhos quase não sustentavam meu corpo. “Por que… por que isso está acontecendo comigo…?” Quando me empurraram para dentro do grande salão, o cheiro de vinho, carne assada e fumaça queimou minhas narinas. Havia lobos por toda parte – guerreiros enormes, Betas, Alfas menores. Todos bebericavam em taças de prata enquanto riam alto, sem perceber minha entrada. Até que ele apareceu. Magnus estava sentado em seu trono negro, entalhado com presas e marcas antigas de guerra. Usava apenas calças escuras e uma capa grossa jogada sobre um ombro. Seus cabelos negros caíam sobre os olhos vermelhos como brasas, que agora estavam cravados em mim. Eu senti meu corpo inteiro congelar. Era como se o ar fosse sugado dos meus pulmões. O medo queimava minhas veias, mas… no fundo, algo ardia junto com ele. Um calor maldito que fazia meu ventre apertar. — Ajoelhe-se. — Sua voz ecoou grave, poderosa, carregada de desprezo e algo ainda mais sombrio. Meus joelhos falharam antes mesmo de eu obedecer. Caí sobre o chão de pedra, sentindo o frio morder minha pele exposta. A camisola fina que me deram pouco cobria meu corpo. Senti os olhares dos outros lobos sobre mim. Vi sorrisos cruéis, ouvi risadas baixas. — É ela? — murmurou um Beta, erguendo a taça. — A bastarda do clã do Arkan? As palavras soaram como trovões dentro do meu peito. Bastarda… do clã do Arkan…? Eu não entendi. Eu não sabia de nada sobre meu pai, apenas que minha mãe morreu como serva, sem marcas. Magnus se levantou do trono e caminhou até mim. Cada passo dele parecia sacudir o chão sob meus joelhos. Quando parou à minha frente, senti seu cheiro de madeira queimada e fumaça me envolver como correntes. — Olhe para mim. — Ele ordenou. Eu ergui o rosto, mesmo tremendo. Os olhos dele eram fogo puro. — Então… é verdade. — Ele rosnou baixo, quase para si mesmo. — Sangue podre correndo nessas veias pequenas. Ele me virou com brutalidade, puxando meus cabelos para expor meu pescoço marcado. A marca ardia, latejava, como se tivesse sido feita novamente. Senti lágrimas quentes escorrerem pelo meu rosto. — Por favor… — sussurrei sem pensar. — Eu não sei de nada… eu não escolhi nada disso… O riso dele foi baixo e sem vida. Um som que fez cada pelo do meu corpo se arrepiar. — Escolheu nascer. — disse, cuspindo no chão ao meu lado. — Isso já é culpa suficiente. Ele se virou para a mesa do salão, onde os outros lobos observavam em silêncio tenso. — Hoje, nossa serva bastarda será útil. — Anunciou em voz alta, cada palavra gotejando veneno. — Sirva-os. Todos. Traga bebida, carne, lave seus pés se pedirem. E se alguém ousar tocá-la sem minha ordem, eu arranco suas garras e os deixo sangrar até a morte. Um rosnado de medo percorreu os guerreiros. Eu tremia tanto que mal consegui me erguer. Um Beta empurrou uma bandeja de prata em minhas mãos. A bandeja balançava enquanto eu servia taças com vinho, abaixava a cabeça, sentia mãos passando perto demais da minha cintura. A cada passo, meus olhos buscavam o dele no trono. Magnus me observava com ódio puro, o maxilar travado, os dedos batendo no braço do trono como se quisesse cravar suas garras na madeira. Mas no fundo de seus olhos vermelhos… havia algo mais sombrio que o ódio. Algo que queimava. ------------- POV MAGNUS “Fraca. Pequena. Filha do maldito Arkan.” Eu a observei se arrastar pelo salão, ajoelhar para servir guerreiros que não valiam nem o peso de suas presas quebradas. Cada vez que ela abaixava a cabeça, seu pescoço exposto me lembrava da marca que cravei nela. “Minha marca.” Eu sentia vontade de vomitar de ódio toda vez que lembrava do cheiro do sangue dela na minha boca. Mas… ao mesmo tempo… meu lobo rosnava dentro de mim, faminto por senti-la de novo, por ouvi-la gemer meu nome enquanto eu a tomava até não restar nada dela além de mim. “Maldita.” Apertei os dedos no braço do trono até ouvir a madeira estalar. Um Beta ao meu lado recuou de medo. Quando ela se aproximou para me servir, derramou algumas gotas de vinho em meu colo por estar tremendo demais. O salão inteiro silenciou. Ela largou a taça, ajoelhou-se e tentou secar rapidamente com o tecido fino da própria roupa, mas antes que pudesse tocar meu corpo, segurei seu pulso com força. — Olhe para mim. — Ordenei, sentindo o lobo dentro de mim urrar. Seus olhos negros brilharam com lágrimas. Sua pele cheirava a medo, mas… também a cio. Um cio puro, doce, sem nunca ter sido tomada. O cheiro subiu direto para meu cérebro, e senti meu membro endurecer sob o tecido grosso das calças. “Não.” Eu a empurrei para longe, levantando-me de súbito. O salão se calou quando meu rosnado ecoou pelas paredes de pedra. — Acabou. Levem-na para o quarto superior. Amarrem-na. Quero que permaneça imóvel até que eu decida o que fazer com ela. Ela arregalou os olhos, mas não ousou falar. Dois guerreiros a seguraram e a arrastaram para fora do salão. Eu a segui com o olhar até desaparecer pelas portas negras. “Essa fêmea vai me destruir.” Minha possessividade era tão grande quanto meu ódio. E eu não sabia o que queimava mais.