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Marcada Pela Lua
Marcada Pela Lua
Por: Livia Pedrosa
🌑 Capítulo 1

Quando Ele Me Rejeitou, a Noite Me Abraçou

O frio daquela noite parecia vir de dentro. Como se minha alma tivesse perdido o prĂłprio calor. Eu andava pela floresta com os pĂ©s descalços, afundando levemente na terra Ășmida, tentando escapar de algo que morava em mim — um grito contido, um amor que me queimava e agora... sĂł doĂ­a.

O nome dele ainda ecoava em minha mente.

Marco.

Meu Alfa.

Ou melhor... aquele que eu acreditei que fosse.

Eu o amava. Desde antes de saber o que era amor. Desde os primeiros uivos da minha infùncia sob a lua cheia. Desde a primeira vez que seus olhos escuros cruzaram os meus com a intensidade de quem comanda não só uma alcateia, mas coraçÔes.

E quando chegou o meu Despertar — aquele momento sagrado em que a Luna Ă© escolhida — eu soube. Era ele. SĂł podia ser ele. O vĂ­nculo pulsava em mim como uma segunda pele, um chamado primal, quase doloroso. Mas ele...

Ele me olhou como se eu fosse uma maldição.

“NĂŁo Ă© vocĂȘ”, ele disse.

“VocĂȘ nĂŁo me completa, Alice. Eu nĂŁo quero vocĂȘ.”

Houve um instante de silĂȘncio. Um lapso onde o mundo pareceu parar... e depois, ele completou com crueldade:

“Eu preferia que vocĂȘ desaparecesse.”

Foram essas palavras que me quebraram. Que rasgaram não só minha esperança, mas a alma que ainda se curvava diante dele.

Fugi. Não sei quanto tempo faz. A floresta parece viva, como se sentisse minha dor. As árvores sussurram entre si, os galhos rangem sob o peso do luto que trago no peito. Estou sozinha — ou acho que estou. Minha forma humana vacila. Meus instintos ainda querem correr. Uivar. Gritar.

Mas eu apenas caminho. Até que minhas pernas fraquejam e eu caio de joelhos.

“Por quĂȘ?” sussurro, sentindo as lĂĄgrimas escorrerem, quentes, misturando-se com a terra.

E entĂŁo, do nada, sinto.

Um toque.

Um calor.

Um abraço.

Forte. Firme. E ao mesmo tempo... cheio de uma delicadeza que me desmonta. NĂŁo vejo o rosto. SĂł sinto os braços ao meu redor, o peito firme onde repouso meu rosto sem forças, o cheiro de vinho tinto e madeira antiga. É diferente de tudo. É proteção. É refĂșgio. É... mĂĄgico.

Meu corpo inteiro estremece. Meu lobo interior, ferido e encolhido, finalmente solta um suspiro.

NĂŁo sei quem Ă©.

Mas no fundo, em algum lugar profundo do meu ser, uma suspeita me atravessa como um raio silencioso.

Rafael.

O Supremo.

O Ășnico acima do Alfa. Aquele que todos respeitam, que poucos veem... e que ninguĂ©m realmente conhece. Ele Ă© uma lenda viva, envolto em sombras e histĂłrias sussurradas. Dizem que ele aparece apenas quando a Lua quer intervir. Quando algo muito errado... ou muito certo, estĂĄ prestes a acontecer.

Sinto minha respiração embalar. Meu coração, antes ferido, agora pulsa de um jeito novo. Como se uma parte de mim que sempre esteve adormecida estivesse começando a acordar.

Se for ele...

Por que me abraçou?

Por que agora?

E, acima de tudo... por que meu corpo responde a esse toque como se o conhecesse desde o inĂ­cio dos tempos?

A floresta estĂĄ em silĂȘncio. Mas nĂŁo Ă© o mesmo silĂȘncio de antes. Agora hĂĄ um peso no ar. Algo antigo, solene... e sagrado.

Levanto lentamente o rosto, tentando ver o seu. Mas a escuridĂŁo — ou talvez a magia — ainda o mantĂ©m encoberto.

“VocĂȘ nĂŁo estĂĄ sozinha, Alice,” diz ele, com uma voz grave, baixa, como um trovĂŁo abafado entre as ĂĄrvores.

Meu nome nos låbios dele soa diferente. Não como ofensa. Não como rejeição. Mas como promessa.

E eu...

Eu, que nĂŁo queria mais ver o sol nascer, agora estou envolta em algo mais profundo que a luz.

Talvez seja o inĂ­cio da noite.

Ou talvez seja o inĂ­cio de algo maior.

Algo que ainda nĂŁo entendo, mas jĂĄ sinto.

Algo que arde sob minha pele.

Que chama o meu lobo.

E que marca meu destino.

A Lua me observa entre os galhos.

Silenciosa. Atenta. Quase cĂșmplice.

E eu entendo, finalmente:

NĂŁo fui rejeitada para ser esquecida.

Fui marcada pela Lua.

Para algo que vai muito além de um Alfa que não me quis.

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