Kalel, com o rosto ainda marcado pela surpresa e pela dor da revelação de Cássia, caminhou lentamente até a pia, pegou um copo e o encheu com o licor de chocolate que havia trazido. Cássia o acompanhou com o olhar, com uma expressão de cansaço profundo em seu rosto.
Ela continuou a falar, com a voz um sussurro carregado de anos de sofrimento, enquanto os dedos mexiam nos legumes.
— Os amigos do Natan ficaram sabendo, e ele partiu para cima do professor, sem a menor chance. — Cássia fez uma pausa, com um suspiro pesado escapando.
— Enfim, ele ficou muito mal, depois rebelde, começou a beber e fumar. Ele anda com um pessoal que apronta, roubam.
Ela ergueu o olhar para Kalel, com uma determinação sombria brilhando em seus olhos marejados.
— E pelo bem do meu irmão, da minha família, sinceramente, ficar sozinha não é nada demais.
As últimas palavras vieram com um golpe doloroso, revelando a profundidade de sua culpa.
— Minha avó faleceu sem falar comigo, porque o Natan foi atropelado dep