CAPÍTULO 64

Narrativa do autor

A noite caiu firme sobre a Serrinha com um vento que tirava o cheiro de fumaça das lajes e espalhava pro morro um frescor que ninguém esperava. A festa ainda ecoava em pontos, mas a maioria já tinha ido pra casa satisfeito, com o peito cheio de orgulho e a cabeça leve por causa do uísque. Lavínia e RB foram embora cedo, mais por cansaço do que por medo — o morro era deles naquela hora; ninguém ousaria perturbar a paz do chefe.

Dentinho ficou mais um tempo na janela do barraco onde dormia, observando a pista e o vai e vem. O moleque gostava daquela visão de cima — via tudo: quem chegava, quem puxava o cantinho pra cochichar, quem atravessava com pressa. Tinha um faro que o deixava em alerta fácil; aprendera com RB a não dormir com olho dos outros.

Ele já tinha visto o mendigo antes. “Pedro”, como o homem dissera, tinha sotaque estranho, falas tortas e um interesse incomum por certas pessoas do morro. Preferia ficar para baixo, olhando pra cima, e sempre f