Ele ainda me observava em silêncio quando resolvi quebrar o clima. Inclinei a cabeça, ajeitei uma mecha do meu cabelo cacheado atrás da orelha e perguntei:
— O senhor já tomou café? Ele balançou a cabeça, a voz grave soando curta: — Ainda não. Sorri de canto, já com uma ideia na ponta da língua. — Então eu vou trazer o seu café. Ele ergueu uma sobrancelha, desconfiado. — Só um café preto, está bom. Dei dois passos em direção à porta e me virei para encará-lo com firmeza. — Negativo. — Fiz questão de estalar a língua no céu da boca, como se estivesse corrigindo uma criança teimosa. — O seu café vai ser colorido. Nada de preto, pelo amor de Deus. Eu já volto. E saí sem esperar resposta. No corredor, enquanto caminhava em direção ao refeitório, sorri sozinha. Ele não sabe, mas vou mudar até o café dele. Se a vida dele é preto e cinza, eu vou colocar cor até na xícara. Do outro lado da porta, fiquei sabendo depois, ele riu sozinho. Imagino a cena: sentado à mesa, olhando o jardim improvisado, dizendo para si mesmo: “Meu Deus, o que a mamãe arranjou pra mim? Mas… realmente… de ontem pra hoje até ficou mais leve. Só pesou quando a Chiara entrou. Essas plantas… é, elas dão uma energia diferente. Gostei. Mas não vou falar pra ela.” Eu, claro, não ouvi isso. Mas quando voltei, carregando a bandeja, encontrei-o debruçado sobre os papéis, disfarçando, como se nada tivesse mudado. Abri a porta com cuidado e entrei com meu tesouro colorido: pedaços de mamão alaranjado, cubinhos de melancia cor-de-rosa, fatias de pitaia rosada, uvas roxas e verdes, um copo alto de suco de laranja fresco, uma xícara de café com leite, e, ao lado, uma fatia de bolo caseiro que havia chegado cedo do refeitório. Tudo organizado em pratos brancos para que as cores brilhassem por si só. Coloquei a bandeja sobre a mesa dele, com cuidado, e anunciei como se fosse um cerimonial: — Aqui está: um café colorido para que o seu dia comece bem. Ele olhou para a bandeja, depois para mim, e percebi o esforço que fazia para não sorrir. Inclinei-me levemente, ajeitando o guardanapo ao lado do prato. — Quando o senhor terminar, me chame, que eu venho buscar a bandeja. Bom apetite! Me afastei, deixando-o sozinho com as cores que eu havia escolhido para quebrar a monotonia da manhã. Ele se sentou, ajeitou a gravata preta e ficou encarando a bandeja como se fosse um enigma. Ouvi sua voz grave resmungando para si mesmo, num tom que misturava ironia e surpresa: — Até para me alimentar ela tem que colocar o rótulo… Uvas roxas, pitaia, uvas verdes… E então soltou uma risada curta, abafada, mas verdadeira. Pegou o garfo e começou a comer. — Fazia tempo que eu não tomava um café tão divertido. Até que a mamãe acertou. — murmurou. Entre uma garfada e outra, seus pensamentos escapavam em voz baixa: — Espero que ela continue sendo profissional quando tiver que ser. Mas a Chiara… destratá-la daquele jeito? Vou ter que dar um jeito nisso. Não está certo. A Chiara não tem limite… ou talvez tenha sido eu que a acostumei mal. Mastigou um pedaço de pitaia e soltou um suspiro. — Nossa… essa mistura de frutas está uma delícia. Terminou tudo em silêncio, limpou os lábios com o guardanapo e, sem dar o braço a torcer, decidiu: — Quando ela vier buscar a bandeja, eu não vou agradecer. Vou só avisar. Pegou o telefone do interfone e chamou: — Senhorita Nicola, terminei o café. Pode vir pegar a bandeja. Assim que ouvi a voz dele pelo interfone, levantei imediatamente. Entrei na sala sorridente, sentindo meu coração saltar de alegria ao ver os pratos completamente vazios. — Que bom, comeu tudinho! — falei, ajeitando a bandeja sobre os braços. — Agora pode começar a trabalhar. Qualquer coisa, é só chamar. Tenha um bom dia, senhor. Sorri com meu melhor sorriso rosa chiclete e me virei para sair. Atrás de mim, ouvi o som abafado de uma risada. Ele ria sozinho, como se não quisesse admitir que estava de bom humor. — Até que o dia vai começar bem, — murmurou, quase para si mesmo. — Mas nem tudo é cor-de-rosa. Deixa eu ligar o computador e começar a trabalhar. E eu, enquanto caminhava de volta com a bandeja, sabia: mesmo que ele não confessasse, eu já tinha conseguido plantar a primeira semente naquele coração cinzen