POV Isabela
Fiquei encarando a tela preta do celular como se ela pudesse me devolver a voz que acabara de sumir. O coração não disparou. Não sou dessas. Mas havia algo naquela entonação, grave, controlada, quase íntima que me fez prender a respiração por segundos.
“Você não faz ideia de quem realmente está na sua mesa.”
Mesa. Palavra escolhida de propósito. Não era cama, não era palco, não era escritório. Mesa. Como se a ameaça estivesse naquilo que deveria ser mais simples: partilhar refeições, brindar alianças, selar acordos. Meu pai sempre dizia que jantar era guerra educada. Talvez a ligação fosse um lembrete de que eu não deveria esquecer isso.
Guardei o celular. Respirei fundo e voltei a observar a cidade pela janela do carro. As ruas corriam sob as rodas como um tabuleiro em movimento. Eu só precisava escolher onde colocar minhas peças.
— Está tudo bem, senhora? — perguntou Nivaldo, os olhos rápidos pelo retrovisor.
— Tudo, mas quero voltar para casa. — respondi, seca, mas c