POV Isabela
Eu não corri.
Não daria esse presente para ele.
O gosto metálico ainda estava na boca, misturado ao perfume que Daniel sempre odiou, o mesmo que usei no dia do nosso casamento. Cada passo pelo corredor da casa parecia ecoar dentro do meu peito, como se a madeira denunciasse: “ela está saindo”. Mas eu mantive o ritmo. Ombros erguidos, queixo alinhado, mãos firmes. A raiva, eu guardava nos dentes.
O motorista me viu pelo vidro e já se endireitou, mas ergui uma mão.
— Hoje não, Nivaldo. Pode ir descansar.
Ele hesitou, talvez tenha visto algo no meu rosto que não costumava ver, mas obedeceu. Fui a pé até a esquina, o salto batendo no asfalto úmido. No fundo, sabia que Daniel estava atrás de mim, parado no hall, assistindo. Ele sempre assistia. Mas nunca entendia.
O táxi parou ao meu sinal. Entrei sem olhar para trás.
— Hotel Elysée. Entrada lateral.
O motorista apenas assentiu.
O silêncio dentro do carro foi um bálsamo. Pela janela, as luzes de Nova Augusta corriam como fitas